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Prova FCM - 2019 - Prefeitura de Guarani - MG - Médico do Programa de Saúde da Família


ID
3021913
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                         As formigas


      Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima.

      — É sinistro.

      Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina.

      — Pelo menos não vi sinal de barata — disse minha prima.

      A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas encardidas. Acendeu um charutinho. — É você que estuda medicina? — perguntou soprando a fumaça na minha direção.

      — Estudo direito. Medicina é ela.

      A mulher nos examinou com indiferença. Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara. A saleta era escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados. No sofá de palhinha furada no assento, duas almofadas que pareciam ter sido feitas com os restos de um antigo vestido, os bordados salpicados de vidrilho.

      Vou mostrar o quarto, fica no sótão — disse ela em meio a um acesso de tosse. Fez um sinal para que a seguíssemos. 

      — O inquilino antes de vocês também estudava medicina, tinha um caixotinho de ossos que esqueceu aqui, estava sempre mexendo neles.

      Minha prima voltou-se:

      — Um caixote de ossos?

      A mulher não respondeu, concentrada no esforço de subir a estreita escada de caracol que ia dar no quarto. Acendeu a luz. O quarto não podia ser menor, com o teto em declive tão acentuado que nesse trecho teríamos que entrar de gatinhas. Duas camas, dois armários e uma cadeira de palhinha pintada de dourado. No ângulo onde o teto quase se encontrava com o assoalho, estava um caixotinho coberto com um pedaço de plástico. Minha prima largou a mala e, pondo-se de joelhos, puxou o caixotinho pela alça de corda. Levantou o plástico. Parecia fascinada.

      — Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?

      — Ele disse que eram de adulto. De um anão.

      — De um anão? é mesmo, a gente vê que já estão formados… Mas que maravilha, é raro a beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí — admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um pequeno crânio de uma brancura de cal. — Tão perfeito, todos os dentinhos!

      — Eu ia jogar tudo no lixo, mas se você se interessa pode ficar com ele. O banheiro é aqui ao lado, só vocês é que vão usar, tenho o meu lá embaixo. Banho quente extra. Telefone também. Café das sete às nove, deixo a mesa posta na cozinha com a garrafa térmica, fechem bem a garrafa recomendou coçando a cabeça. A peruca se deslocou ligeiramente. Soltou uma baforada final: — Não deixem a porta aberta senão meu gato foge.

      Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada. E a tosse encatarrada.

      Esvaziei a mala, dependurei a blusa amarrotada num cabide que enfiei num vão da veneziana, prendi na parede, com durex, uma gravura de Grassmann e sentei meu urso de pelúcia em cima do travesseiro. Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre. Em compensação, agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro do caixotinho. Examinou-a. Tirou uma vértebra e olhou pelo buraco tão reduzido como o aro de um anel. Guardou-as com a delicadeza com que se amontoam ovos numa caixa.

      — Um anão. Raríssimo, entende? E acho que não falta nenhum ossinho, vou trazer as ligaduras, quero ver se no fim da semana começo a montar ele.

      Abrimos uma lata de sardinha que comemos com pão, minha prima tinha sempre alguma lata escondida, costumava estudar até de madrugada e depois fazia sua ceia. Quando acabou o pão, abriu um pacote de bolacha Maria.

      — De onde vem esse cheiro? — perguntei farejando. Fui até o caixotinho, voltei, cheirei o assoalho. — Você não está sentindo um cheiro meio ardido?

      — É de bolor. A casa inteira cheira assim — ela disse. E puxou o caixotinho para debaixo da cama.

      No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto. Sentou-se na cama da minha prima, cruzou as perninhas e ali ficou muito sério, vendo-a dormir. Eu quis gritar, tem um anão no quarto! mas acordei antes. A luz estava acesa. Ajoelhada no chão, ainda vestida, minha prima olhava fixamente algum ponto do assoalho.

      — Que é que você está fazendo aí? — perguntei.

      — Essas formigas. Apareceram de repente, já enturmadas. Tão decididas, está vendo?

      Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam lá dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.

      — São milhares, nunca vi tanta formiga assim. E não tem trilha de volta, só de ida — estranhei.

      — Só de ida.

      Contei-lhe meu pesadelo com o anão sentado em sua cama.

      — Está debaixo dela — disse minha prima e puxou para fora o caixotinho. Levantou o plástico.

      — Preto de formiga. Me dá o vidro de álcool.

      — Deve ter sobrado alguma coisa aí nesses ossos e elas descobriram, formiga descobre tudo. Se eu fosse você, levava isso lá pra fora.

      — Mas os ossos estão completamente limpos, eu já disse. Não ficou nem um fiapo de cartilagem, limpíssimos. Queria saber o que essas bandidas vêm fuçar aqui.

      Respingou fartamente o álcool em todo o caixote. Em seguida, calçou os sapatos e como uma equilibrista andando no fio de arame, foi pisando firme, um pé diante do outro na trilha de formigas. Foi e voltou duas vezes. Apagou o cigarro. Puxou a cadeira. E ficou olhando dentro do caixotinho.

      — Esquisito. Muito esquisito.

      — O quê?

      — Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E agora ele está aí no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui?

      — Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.

      Ela cobriu o caixotinho com o plástico, empurrou-o com o pé e levou o fogareiro para a mesa, era a hora do seu chá. No chão, a trilha de formigas mortas era agora uma fita escura que encolheu. Uma formiguinha que escapou da matança passou perto do meu pé, já ia esmagá-la quando vi que levava as mãos à cabeça, como uma pessoa desesperada. Deixei-a sumir numa fresta do assoalho.

      [...]

TELLES, Lygia Fagundes. In: STEEN, Edla van. O conto da mulher brasileira. 3 ed. São Paulo: Global, 2007. p. 91-94. Fragmento.

“Levantei e(1) dei com as formigas pequenas e ruivas que(2) entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam (3) dentro, disciplinadas como(4) um exército em marcha exemplar.”


Considerando o contexto em que estão inseridos, todas as categorizações dos termos destacados e numerados estão corretas, EXCETO

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    → queremos uma afirmação INCORRETA, uma classificação incorreta:

    “Levantei e(1) dei com as formigas pequenas e ruivas que(2) entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam (3) dentro, disciplinadas como(4) um exército em marcha exemplar.”

    → COMO → conjunção subordinativa comparativa, comparando as formigas com um exército em marcha.

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! ☻

  • d) Adverbial comparativa;

    Outro exemplo:

    Ele fugia da polícia como o diabo foge da cruz.

  • Troca o como por: dessa forma, dessa maneira. compparação.

  • Gabarito: D

    Para completar o comentário dos colegas:

    a) A conjunção está adicionando a ideia de dar (de cara) com as formigas

    b) Pronome relativo e conjunção subordinativa porque inicia uma oração subordinada adjetiva restritiva

  • Não entendi como o "que" na frase em questão é classificada como conjunção subordinativa, não vejo encaixe no contexto e sim como pronome relativo. Logo, a questão pra mim teria duas assertivas corretas (B e D).

  • A) Conjunção aditiva "E";

    B) Embora tenhamos orações subordinadas substantivas, adjetivas e adverbiais, o mesmo não acontece com as conjunções. Morfologicamente, a palavra "que" é um pronome relativo, então não caberia dizer que é uma conjunção subordinativa. O que a torna uma alternativa errônea;

    C) Advérbio de lugar "lá" assim como "acolá, ali...";

    D) Nossa resposta. Na verdade é uma conjunção comparativa .

    Edit.1 - tive que procurar mais fontes, então fui atrás de um comentário do professor Sidney Martins. Segundo ele, oração subordinada adjetiva é encabeçada por pronome relativo. Logo em seguida disse também: "Pronome relativo é pronome relativo. conjunção é conjunção."

    Fonte: A gramática para concursos de Fernando Pestana + Gramática para concursos... de Nilson Teixeira + Português sensacional (canal do youtube) +

  • 1- eu levantei e eu dei com as formigas (oração coordenada aditiva)

    2- eu dei com as formigas / que entravam em trilha. (QUE é pronome, porém temos um oração subordinada restritiva)

    3- as formigas subiam pela parede / e desembocavam LÁ. (complementa o verbo desenbocar, é advérbio)

    4- eu dei com as formigas disciplinadas COMO um exército. (questão errada)

    Essa é minha análise, porém não é certeza de que está correta.

  • Questão bastante confusa. Na dois o "que" seria um pronome relativo introduzindo uma oração subordinada adjetiva restritiva. Se fossemos analisar sintaticamente o "que" teria função de pronome e morfologicamente teria função de conjunção. Já que a questão deu a alternativa "D" como correta acredito que ela queria que analisássemos morfologicamente então...

  • Pelo fato da letra E está , sem duvidas, erradíssima é possível acertar a questão, porém fiquei em dúvida na B.

  • Esta questão deveria ser ANULADA. É óbvio que tem duas respostas possíveis, ou seja, duas alternativas erradas. A função do "que" nesse contexto é PRONOME RELATIVO, o quê tem o substantivo formigas como referente. A palavra "como" é conjunção conformativa ([...] desembocavam lá, disciplinadas, conforme um exército [...])

  • Acertei, mas não recomendo! kkk

  • Como = conjunção subordinativa comparativa

  • Questão de análise sintática (papel que exerce dentro da oração para que a mesma tenha sentido [coesão e coerência])

    e

    não morfológica (função/sentido/classe dentro da gramática "crua e nua": se substantivo, se adjetivo, se advérbio, se pronome, se verbo etc).

  • CUIDADO

    Questão incorreta e comentários incorretos

    Atentar-me-ei apenas ao ponto polêmico da questão, acredito serem os demais de fácil entendimento.

    A partícula "que" é pronome relativo, a banca erra ao classificá-lo como conjunção. Percebam que a função do termo é retomar o substantivo imediatamente anterior, introduzindo uma oração subordinada adjetiva restritiva. Não cabe aqui outra classificação.

    Os colegas que estão tentando justificar o erro da banca por meio de vieses morfológicos/sintáticos estão igualmente errados. Pronomes são pronomes, conjunções são conjunções. A oração adjetiva é introduzida por pronome, afirmar que por introduzir uma oração ele atua como conjunção é tão absurdo quanto possa parecer.

  • A letra D está correta. A letra B apresenta um erro gravíssimo. "Que" não é conjunção subordinativa, e sim pronome relativo.

  • “Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.”

    Considerando o contexto em que estão inseridos, todas as categorizações dos termos destacados e numerados estão corretas, EXCETO

    A) conjunção aditiva. certo

    B) conjunção subordinativa. errado (esse "que" é pronome relativo - retoma "formigas" - e introduz uma oração subordinada adjetiva restritiva). Erro grosseiro do examinador.

    C) advérbio de lugar. certo

    D) advérbio de intensidade. errado (conjunção comparativa)

    Gabarito: B e D (questão deveria ter sido ANULADA).

  • Tem algumas bancas que consideram o QUE iniciando orações adjetivas como conjunção, não foi exclusividade dessa banca.


ID
3021925
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Direito Internacional Público

A República Federativa do Brasil rege-se, nas suas relações internacionais, pelos seguintes princípios, EXCETO

Alternativas

ID
3021937
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Direito Administrativo

Considerando os dispositivos legais que regulam o Município de Guarani, analise as afirmações abaixo.


I. As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e locações da Administração Pública Municipal, quando contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas de licitação, ressalvadas as hipóteses previstas na Lei nº. 8.666/93.

II. Compete ao Município organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão entre outros, os serviços de abastecimento de água e esgotos sanitários.

III. A Lei de Improbidade Administrativa nº 8.429/1992 não se aplica ao Município de Guarani, uma vez que está regulamentada somente em âmbito federal.

IV. Subordinam-se ao regime da Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527/2011) os órgãos públicos integrantes exclusivamente da administração pública direta do Poder Executivo.


Está correto apenas o que se afirma em

Alternativas
Comentários
  • I - CORRETO - ART 2º DA LEI 8666/93

    II - CORRETO - ART 30, V DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

    III - ERRADO - Lei de Improbidade Administrativa cabe a agentes de Adm direta, indireta, etc...vide artigo 1º da lei 8429/92. Municipios sã entes da Adm Direta.

    IV - ERRADO.  cabe a Adm direta, indireta, etc


ID
4851718
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português

As formigas

    Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima.
    — É sinistro.
    Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina.
    — Pelo menos não vi sinal de barata — disse minha prima.
    A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas encardidas. Acendeu um charutinho.
    — É você que estuda medicina? — perguntou soprando a fumaça na minha direção.
    — Estudo direito. Medicina é ela.
    A mulher nos examinou com indiferença. Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara. A saleta era escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados. No sofá de palhinha furada no assento, duas almofadas que pareciam ter sido feitas com os restos de um antigo vestido, os bordados salpicados de vidrilho.
    Vou mostrar o quarto, fica no sótão — disse ela em meio a um acesso de tosse. Fez um sinal para que a seguíssemos.
    — O inquilino antes de vocês também estudava medicina, tinha um caixotinho de ossos que esqueceu aqui, estava sempre mexendo neles.
    Minha prima voltou-se:
    — Um caixote de ossos?
    A mulher não respondeu, concentrada no esforço de subir a estreita escada de caracol que ia dar no quarto. Acendeu a luz. O quarto não podia ser menor, com o teto em declive tão acentuado que nesse trecho teríamos que entrar de gatinhas. Duas camas, dois armários e uma cadeira de palhinha pintada de dourado. No ângulo onde o teto quase se encontrava com o assoalho, estava um caixotinho coberto com um pedaço de plástico. Minha prima largou a mala e, pondo-se de joelhos, puxou o caixotinho pela alça de corda. Levantou o plástico. Parecia fascinada.
    — Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?
    — Ele disse que eram de adulto. De um anão.
   — De um anão? é mesmo, a gente vê que já estão formados…
Mas que maravilha, é raro a beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí — admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um pequeno crânio de uma brancura de cal. — Tão perfeito, todos os dentinhos!
    — Eu ia jogar tudo no lixo, mas se você se interessa pode ficar com ele. O banheiro é aqui ao lado, só vocês é que vão usar, tenho o meu lá embaixo. Banho quente extra. Telefone também. Café das sete às nove, deixo a mesa posta na cozinha com a garrafa térmica, fechem bem a garrafa recomendou coçando a cabeça. A peruca se deslocou ligeiramente. Soltou uma baforada final: — Não deixem a porta aberta senão meu gato foge.
    Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada. E a tosse encatarrada.
    Esvaziei a mala, dependurei a blusa amarrotada num cabide que enfiei num vão da veneziana, prendi na parede, com durex, uma gravura de Grassmann e sentei meu urso de pelúcia em cima do travesseiro. Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre. Em compensação, agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro do caixotinho. Examinou-a. Tirou uma vértebra e olhou pelo buraco tão reduzido como o aro de um anel. Guardou-as com a delicadeza com que se amontoam ovos numa caixa.
    — Um anão. Raríssimo, entende? E acho que não falta nenhum ossinho, vou trazer as ligaduras, quero ver se no fim da semana começo a montar ele.
      Abrimos uma lata de sardinha que comemos com pão, minha prima tinha sempre alguma lata escondida, costumava estudar até de madrugada e depois fazia sua ceia. Quando acabou o pão, abriu um pacote de bolacha Maria.
    — De onde vem esse cheiro? — perguntei farejando. Fui até o caixotinho, voltei, cheirei o assoalho. — Você não está sentindo um cheiro meio ardido?
     — É de bolor. A casa inteira cheira assim — ela disse. E puxou o caixotinho para debaixo da cama.
    No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto. Sentou-se na cama da minha prima, cruzou as perninhas e ali ficou muito sério, vendo-a dormir. Eu quis gritar, tem um anão no quarto! mas acordei antes. A luz estava acesa. Ajoelhada no chão, ainda vestida, minha prima olhava fixamente algum ponto do assoalho.
    — Que é que você está fazendo aí? — perguntei.
   — Essas formigas. Apareceram de repente, já enturmadas. Tão decididas, está vendo?
    Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam lá dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.
    — São milhares, nunca vi tanta formiga assim. E não tem trilha de volta, só de ida — estranhei.
     — Só de ida.
    Contei-lhe meu pesadelo com o anão sentado em sua cama.
    — Está debaixo dela — disse minha prima e puxou para fora o caixotinho. Levantou o plástico.
    — Preto de formiga. Me dá o vidro de álcool.
    — Deve ter sobrado alguma coisa aí nesses ossos e elas descobriram, formiga descobre tudo. Se eu fosse você, levava isso lá pra fora.
  — Mas os ossos estão completamente limpos, eu já disse. Não ficou nem um fiapo de cartilagem, limpíssimos. Queria saber o que essas bandidas vêm fuçar aqui.
    Respingou fartamente o álcool em todo o caixote. Em seguida, calçou os sapatos e como uma equilibrista andando no fio de arame, foi pisando firme, um pé diante do outro na trilha de formigas. Foi e voltou duas vezes. Apagou o cigarro. Puxou a cadeira. E ficou olhando dentro do caixotinho.
    — Esquisito. Muito esquisito.
    — O quê?
    — Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E agora ele está aí no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui?
    — Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.
     Ela cobriu o caixotinho com o plástico, empurrou-o com o pé e levou o fogareiro para a mesa, era a hora do seu chá. No chão, a trilha de formigas mortas era agora uma fita escura que encolheu. Uma formiguinha que escapou da matança passou perto do meu pé, já ia esmagá-la quando vi que levava as mãos à cabeça, como uma pessoa desesperada. Deixei-a sumir numa fresta do assoalho.

    [...]

TELLES, Lygia Fagundes. In: STEEN, Edla van. O conto da mulher brasileira. 3 ed. São Paulo: Global, 2007. p. 91-94. Fragmento.

Todas as afirmações a seguir sintetizam informações presentes na narrativa, EXCETO

Alternativas

ID
4851721
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português

As formigas

    Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima.
    — É sinistro.
    Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina.
    — Pelo menos não vi sinal de barata — disse minha prima.
    A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas encardidas. Acendeu um charutinho.
    — É você que estuda medicina? — perguntou soprando a fumaça na minha direção.
    — Estudo direito. Medicina é ela.
    A mulher nos examinou com indiferença. Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara. A saleta era escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados. No sofá de palhinha furada no assento, duas almofadas que pareciam ter sido feitas com os restos de um antigo vestido, os bordados salpicados de vidrilho.
    Vou mostrar o quarto, fica no sótão — disse ela em meio a um acesso de tosse. Fez um sinal para que a seguíssemos.
    — O inquilino antes de vocês também estudava medicina, tinha um caixotinho de ossos que esqueceu aqui, estava sempre mexendo neles.
    Minha prima voltou-se:
    — Um caixote de ossos?
    A mulher não respondeu, concentrada no esforço de subir a estreita escada de caracol que ia dar no quarto. Acendeu a luz. O quarto não podia ser menor, com o teto em declive tão acentuado que nesse trecho teríamos que entrar de gatinhas. Duas camas, dois armários e uma cadeira de palhinha pintada de dourado. No ângulo onde o teto quase se encontrava com o assoalho, estava um caixotinho coberto com um pedaço de plástico. Minha prima largou a mala e, pondo-se de joelhos, puxou o caixotinho pela alça de corda. Levantou o plástico. Parecia fascinada.
    — Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?
    — Ele disse que eram de adulto. De um anão.
   — De um anão? é mesmo, a gente vê que já estão formados…
Mas que maravilha, é raro a beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí — admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um pequeno crânio de uma brancura de cal. — Tão perfeito, todos os dentinhos!
    — Eu ia jogar tudo no lixo, mas se você se interessa pode ficar com ele. O banheiro é aqui ao lado, só vocês é que vão usar, tenho o meu lá embaixo. Banho quente extra. Telefone também. Café das sete às nove, deixo a mesa posta na cozinha com a garrafa térmica, fechem bem a garrafa recomendou coçando a cabeça. A peruca se deslocou ligeiramente. Soltou uma baforada final: — Não deixem a porta aberta senão meu gato foge.
    Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada. E a tosse encatarrada.
    Esvaziei a mala, dependurei a blusa amarrotada num cabide que enfiei num vão da veneziana, prendi na parede, com durex, uma gravura de Grassmann e sentei meu urso de pelúcia em cima do travesseiro. Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre. Em compensação, agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro do caixotinho. Examinou-a. Tirou uma vértebra e olhou pelo buraco tão reduzido como o aro de um anel. Guardou-as com a delicadeza com que se amontoam ovos numa caixa.
    — Um anão. Raríssimo, entende? E acho que não falta nenhum ossinho, vou trazer as ligaduras, quero ver se no fim da semana começo a montar ele.
      Abrimos uma lata de sardinha que comemos com pão, minha prima tinha sempre alguma lata escondida, costumava estudar até de madrugada e depois fazia sua ceia. Quando acabou o pão, abriu um pacote de bolacha Maria.
    — De onde vem esse cheiro? — perguntei farejando. Fui até o caixotinho, voltei, cheirei o assoalho. — Você não está sentindo um cheiro meio ardido?
     — É de bolor. A casa inteira cheira assim — ela disse. E puxou o caixotinho para debaixo da cama.
    No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto. Sentou-se na cama da minha prima, cruzou as perninhas e ali ficou muito sério, vendo-a dormir. Eu quis gritar, tem um anão no quarto! mas acordei antes. A luz estava acesa. Ajoelhada no chão, ainda vestida, minha prima olhava fixamente algum ponto do assoalho.
    — Que é que você está fazendo aí? — perguntei.
   — Essas formigas. Apareceram de repente, já enturmadas. Tão decididas, está vendo?
    Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam lá dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.
    — São milhares, nunca vi tanta formiga assim. E não tem trilha de volta, só de ida — estranhei.
     — Só de ida.
    Contei-lhe meu pesadelo com o anão sentado em sua cama.
    — Está debaixo dela — disse minha prima e puxou para fora o caixotinho. Levantou o plástico.
    — Preto de formiga. Me dá o vidro de álcool.
    — Deve ter sobrado alguma coisa aí nesses ossos e elas descobriram, formiga descobre tudo. Se eu fosse você, levava isso lá pra fora.
  — Mas os ossos estão completamente limpos, eu já disse. Não ficou nem um fiapo de cartilagem, limpíssimos. Queria saber o que essas bandidas vêm fuçar aqui.
    Respingou fartamente o álcool em todo o caixote. Em seguida, calçou os sapatos e como uma equilibrista andando no fio de arame, foi pisando firme, um pé diante do outro na trilha de formigas. Foi e voltou duas vezes. Apagou o cigarro. Puxou a cadeira. E ficou olhando dentro do caixotinho.
    — Esquisito. Muito esquisito.
    — O quê?
    — Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E agora ele está aí no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui?
    — Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.
     Ela cobriu o caixotinho com o plástico, empurrou-o com o pé e levou o fogareiro para a mesa, era a hora do seu chá. No chão, a trilha de formigas mortas era agora uma fita escura que encolheu. Uma formiguinha que escapou da matança passou perto do meu pé, já ia esmagá-la quando vi que levava as mãos à cabeça, como uma pessoa desesperada. Deixei-a sumir numa fresta do assoalho.

    [...]

TELLES, Lygia Fagundes. In: STEEN, Edla van. O conto da mulher brasileira. 3 ed. São Paulo: Global, 2007. p. 91-94. Fragmento.

A sequência textual predominantemente descritiva é

Alternativas

ID
4851724
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português

As formigas

    Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima.
    — É sinistro.
    Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina.
    — Pelo menos não vi sinal de barata — disse minha prima.
    A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas encardidas. Acendeu um charutinho.
    — É você que estuda medicina? — perguntou soprando a fumaça na minha direção.
    — Estudo direito. Medicina é ela.
    A mulher nos examinou com indiferença. Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara. A saleta era escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados. No sofá de palhinha furada no assento, duas almofadas que pareciam ter sido feitas com os restos de um antigo vestido, os bordados salpicados de vidrilho.
    Vou mostrar o quarto, fica no sótão — disse ela em meio a um acesso de tosse. Fez um sinal para que a seguíssemos.
    — O inquilino antes de vocês também estudava medicina, tinha um caixotinho de ossos que esqueceu aqui, estava sempre mexendo neles.
    Minha prima voltou-se:
    — Um caixote de ossos?
    A mulher não respondeu, concentrada no esforço de subir a estreita escada de caracol que ia dar no quarto. Acendeu a luz. O quarto não podia ser menor, com o teto em declive tão acentuado que nesse trecho teríamos que entrar de gatinhas. Duas camas, dois armários e uma cadeira de palhinha pintada de dourado. No ângulo onde o teto quase se encontrava com o assoalho, estava um caixotinho coberto com um pedaço de plástico. Minha prima largou a mala e, pondo-se de joelhos, puxou o caixotinho pela alça de corda. Levantou o plástico. Parecia fascinada.
    — Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?
    — Ele disse que eram de adulto. De um anão.
   — De um anão? é mesmo, a gente vê que já estão formados…
Mas que maravilha, é raro a beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí — admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um pequeno crânio de uma brancura de cal. — Tão perfeito, todos os dentinhos!
    — Eu ia jogar tudo no lixo, mas se você se interessa pode ficar com ele. O banheiro é aqui ao lado, só vocês é que vão usar, tenho o meu lá embaixo. Banho quente extra. Telefone também. Café das sete às nove, deixo a mesa posta na cozinha com a garrafa térmica, fechem bem a garrafa recomendou coçando a cabeça. A peruca se deslocou ligeiramente. Soltou uma baforada final: — Não deixem a porta aberta senão meu gato foge.
    Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada. E a tosse encatarrada.
    Esvaziei a mala, dependurei a blusa amarrotada num cabide que enfiei num vão da veneziana, prendi na parede, com durex, uma gravura de Grassmann e sentei meu urso de pelúcia em cima do travesseiro. Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre. Em compensação, agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro do caixotinho. Examinou-a. Tirou uma vértebra e olhou pelo buraco tão reduzido como o aro de um anel. Guardou-as com a delicadeza com que se amontoam ovos numa caixa.
    — Um anão. Raríssimo, entende? E acho que não falta nenhum ossinho, vou trazer as ligaduras, quero ver se no fim da semana começo a montar ele.
      Abrimos uma lata de sardinha que comemos com pão, minha prima tinha sempre alguma lata escondida, costumava estudar até de madrugada e depois fazia sua ceia. Quando acabou o pão, abriu um pacote de bolacha Maria.
    — De onde vem esse cheiro? — perguntei farejando. Fui até o caixotinho, voltei, cheirei o assoalho. — Você não está sentindo um cheiro meio ardido?
     — É de bolor. A casa inteira cheira assim — ela disse. E puxou o caixotinho para debaixo da cama.
    No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto. Sentou-se na cama da minha prima, cruzou as perninhas e ali ficou muito sério, vendo-a dormir. Eu quis gritar, tem um anão no quarto! mas acordei antes. A luz estava acesa. Ajoelhada no chão, ainda vestida, minha prima olhava fixamente algum ponto do assoalho.
    — Que é que você está fazendo aí? — perguntei.
   — Essas formigas. Apareceram de repente, já enturmadas. Tão decididas, está vendo?
    Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam lá dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.
    — São milhares, nunca vi tanta formiga assim. E não tem trilha de volta, só de ida — estranhei.
     — Só de ida.
    Contei-lhe meu pesadelo com o anão sentado em sua cama.
    — Está debaixo dela — disse minha prima e puxou para fora o caixotinho. Levantou o plástico.
    — Preto de formiga. Me dá o vidro de álcool.
    — Deve ter sobrado alguma coisa aí nesses ossos e elas descobriram, formiga descobre tudo. Se eu fosse você, levava isso lá pra fora.
  — Mas os ossos estão completamente limpos, eu já disse. Não ficou nem um fiapo de cartilagem, limpíssimos. Queria saber o que essas bandidas vêm fuçar aqui.
    Respingou fartamente o álcool em todo o caixote. Em seguida, calçou os sapatos e como uma equilibrista andando no fio de arame, foi pisando firme, um pé diante do outro na trilha de formigas. Foi e voltou duas vezes. Apagou o cigarro. Puxou a cadeira. E ficou olhando dentro do caixotinho.
    — Esquisito. Muito esquisito.
    — O quê?
    — Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E agora ele está aí no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui?
    — Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.
     Ela cobriu o caixotinho com o plástico, empurrou-o com o pé e levou o fogareiro para a mesa, era a hora do seu chá. No chão, a trilha de formigas mortas era agora uma fita escura que encolheu. Uma formiguinha que escapou da matança passou perto do meu pé, já ia esmagá-la quando vi que levava as mãos à cabeça, como uma pessoa desesperada. Deixei-a sumir numa fresta do assoalho.

    [...]

TELLES, Lygia Fagundes. In: STEEN, Edla van. O conto da mulher brasileira. 3 ed. São Paulo: Global, 2007. p. 91-94. Fragmento.

O gênero textual em que se enquadra o texto pertence ao domínio discursivo

Alternativas
Comentários
  • Literário = conotativo

    Literal = denotativo

  • GAB. A

    Nem precisa ler o texto para saber.

    TELLES, Lygia Fagundes. In: STEEN, Edla van. O conto da mulher brasileira. 3 ed. São Paulo: Global, 2007. p. 91-94. Fragmento.

    Gêneros Textuais

    1- Literários:

    Pode ser: denotativo ou conativo.

    Tipos: Novela, CONTO, Fábula, Crônica e Ensaio.

    2-Poema

    3-Charge

    4-Carta

    5-Editorial

    6-Propaganda

    7-Notícia

    8-Entrevista

    9-História Quadrinhos

    A cada dia produtivo, um degrau subido. HCCB


ID
4851727
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português

As formigas

    Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima.
    — É sinistro.
    Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina.
    — Pelo menos não vi sinal de barata — disse minha prima.
    A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas encardidas. Acendeu um charutinho.
    — É você que estuda medicina? — perguntou soprando a fumaça na minha direção.
    — Estudo direito. Medicina é ela.
    A mulher nos examinou com indiferença. Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara. A saleta era escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados. No sofá de palhinha furada no assento, duas almofadas que pareciam ter sido feitas com os restos de um antigo vestido, os bordados salpicados de vidrilho.
    Vou mostrar o quarto, fica no sótão — disse ela em meio a um acesso de tosse. Fez um sinal para que a seguíssemos.
    — O inquilino antes de vocês também estudava medicina, tinha um caixotinho de ossos que esqueceu aqui, estava sempre mexendo neles.
    Minha prima voltou-se:
    — Um caixote de ossos?
    A mulher não respondeu, concentrada no esforço de subir a estreita escada de caracol que ia dar no quarto. Acendeu a luz. O quarto não podia ser menor, com o teto em declive tão acentuado que nesse trecho teríamos que entrar de gatinhas. Duas camas, dois armários e uma cadeira de palhinha pintada de dourado. No ângulo onde o teto quase se encontrava com o assoalho, estava um caixotinho coberto com um pedaço de plástico. Minha prima largou a mala e, pondo-se de joelhos, puxou o caixotinho pela alça de corda. Levantou o plástico. Parecia fascinada.
    — Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?
    — Ele disse que eram de adulto. De um anão.
   — De um anão? é mesmo, a gente vê que já estão formados…
Mas que maravilha, é raro a beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí — admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um pequeno crânio de uma brancura de cal. — Tão perfeito, todos os dentinhos!
    — Eu ia jogar tudo no lixo, mas se você se interessa pode ficar com ele. O banheiro é aqui ao lado, só vocês é que vão usar, tenho o meu lá embaixo. Banho quente extra. Telefone também. Café das sete às nove, deixo a mesa posta na cozinha com a garrafa térmica, fechem bem a garrafa recomendou coçando a cabeça. A peruca se deslocou ligeiramente. Soltou uma baforada final: — Não deixem a porta aberta senão meu gato foge.
    Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada. E a tosse encatarrada.
    Esvaziei a mala, dependurei a blusa amarrotada num cabide que enfiei num vão da veneziana, prendi na parede, com durex, uma gravura de Grassmann e sentei meu urso de pelúcia em cima do travesseiro. Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre. Em compensação, agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro do caixotinho. Examinou-a. Tirou uma vértebra e olhou pelo buraco tão reduzido como o aro de um anel. Guardou-as com a delicadeza com que se amontoam ovos numa caixa.
    — Um anão. Raríssimo, entende? E acho que não falta nenhum ossinho, vou trazer as ligaduras, quero ver se no fim da semana começo a montar ele.
      Abrimos uma lata de sardinha que comemos com pão, minha prima tinha sempre alguma lata escondida, costumava estudar até de madrugada e depois fazia sua ceia. Quando acabou o pão, abriu um pacote de bolacha Maria.
    — De onde vem esse cheiro? — perguntei farejando. Fui até o caixotinho, voltei, cheirei o assoalho. — Você não está sentindo um cheiro meio ardido?
     — É de bolor. A casa inteira cheira assim — ela disse. E puxou o caixotinho para debaixo da cama.
    No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto. Sentou-se na cama da minha prima, cruzou as perninhas e ali ficou muito sério, vendo-a dormir. Eu quis gritar, tem um anão no quarto! mas acordei antes. A luz estava acesa. Ajoelhada no chão, ainda vestida, minha prima olhava fixamente algum ponto do assoalho.
    — Que é que você está fazendo aí? — perguntei.
   — Essas formigas. Apareceram de repente, já enturmadas. Tão decididas, está vendo?
    Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam lá dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.
    — São milhares, nunca vi tanta formiga assim. E não tem trilha de volta, só de ida — estranhei.
     — Só de ida.
    Contei-lhe meu pesadelo com o anão sentado em sua cama.
    — Está debaixo dela — disse minha prima e puxou para fora o caixotinho. Levantou o plástico.
    — Preto de formiga. Me dá o vidro de álcool.
    — Deve ter sobrado alguma coisa aí nesses ossos e elas descobriram, formiga descobre tudo. Se eu fosse você, levava isso lá pra fora.
  — Mas os ossos estão completamente limpos, eu já disse. Não ficou nem um fiapo de cartilagem, limpíssimos. Queria saber o que essas bandidas vêm fuçar aqui.
    Respingou fartamente o álcool em todo o caixote. Em seguida, calçou os sapatos e como uma equilibrista andando no fio de arame, foi pisando firme, um pé diante do outro na trilha de formigas. Foi e voltou duas vezes. Apagou o cigarro. Puxou a cadeira. E ficou olhando dentro do caixotinho.
    — Esquisito. Muito esquisito.
    — O quê?
    — Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E agora ele está aí no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui?
    — Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.
     Ela cobriu o caixotinho com o plástico, empurrou-o com o pé e levou o fogareiro para a mesa, era a hora do seu chá. No chão, a trilha de formigas mortas era agora uma fita escura que encolheu. Uma formiguinha que escapou da matança passou perto do meu pé, já ia esmagá-la quando vi que levava as mãos à cabeça, como uma pessoa desesperada. Deixei-a sumir numa fresta do assoalho.

    [...]

TELLES, Lygia Fagundes. In: STEEN, Edla van. O conto da mulher brasileira. 3 ed. São Paulo: Global, 2007. p. 91-94. Fragmento.

A figura de linguagem denominada prosopopeia aparece no trecho

Alternativas
Comentários
  • Na prosopopéia, também conhecida como animismo ou ainda personificação, o sujeito (geralmente animal ou eventos da natureza) realiza uma ação que somente um humano poderia realizar. Na Letra D a formiga levava as mãos à cabeça


ID
4851730
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português

As formigas

    Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima.
    — É sinistro.
    Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina.
    — Pelo menos não vi sinal de barata — disse minha prima.
    A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas encardidas. Acendeu um charutinho.
    — É você que estuda medicina? — perguntou soprando a fumaça na minha direção.
    — Estudo direito. Medicina é ela.
    A mulher nos examinou com indiferença. Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara. A saleta era escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados. No sofá de palhinha furada no assento, duas almofadas que pareciam ter sido feitas com os restos de um antigo vestido, os bordados salpicados de vidrilho.
    Vou mostrar o quarto, fica no sótão — disse ela em meio a um acesso de tosse. Fez um sinal para que a seguíssemos.
    — O inquilino antes de vocês também estudava medicina, tinha um caixotinho de ossos que esqueceu aqui, estava sempre mexendo neles.
    Minha prima voltou-se:
    — Um caixote de ossos?
    A mulher não respondeu, concentrada no esforço de subir a estreita escada de caracol que ia dar no quarto. Acendeu a luz. O quarto não podia ser menor, com o teto em declive tão acentuado que nesse trecho teríamos que entrar de gatinhas. Duas camas, dois armários e uma cadeira de palhinha pintada de dourado. No ângulo onde o teto quase se encontrava com o assoalho, estava um caixotinho coberto com um pedaço de plástico. Minha prima largou a mala e, pondo-se de joelhos, puxou o caixotinho pela alça de corda. Levantou o plástico. Parecia fascinada.
    — Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?
    — Ele disse que eram de adulto. De um anão.
   — De um anão? é mesmo, a gente vê que já estão formados…
Mas que maravilha, é raro a beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí — admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um pequeno crânio de uma brancura de cal. — Tão perfeito, todos os dentinhos!
    — Eu ia jogar tudo no lixo, mas se você se interessa pode ficar com ele. O banheiro é aqui ao lado, só vocês é que vão usar, tenho o meu lá embaixo. Banho quente extra. Telefone também. Café das sete às nove, deixo a mesa posta na cozinha com a garrafa térmica, fechem bem a garrafa recomendou coçando a cabeça. A peruca se deslocou ligeiramente. Soltou uma baforada final: — Não deixem a porta aberta senão meu gato foge.
    Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada. E a tosse encatarrada.
    Esvaziei a mala, dependurei a blusa amarrotada num cabide que enfiei num vão da veneziana, prendi na parede, com durex, uma gravura de Grassmann e sentei meu urso de pelúcia em cima do travesseiro. Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre. Em compensação, agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro do caixotinho. Examinou-a. Tirou uma vértebra e olhou pelo buraco tão reduzido como o aro de um anel. Guardou-as com a delicadeza com que se amontoam ovos numa caixa.
    — Um anão. Raríssimo, entende? E acho que não falta nenhum ossinho, vou trazer as ligaduras, quero ver se no fim da semana começo a montar ele.
      Abrimos uma lata de sardinha que comemos com pão, minha prima tinha sempre alguma lata escondida, costumava estudar até de madrugada e depois fazia sua ceia. Quando acabou o pão, abriu um pacote de bolacha Maria.
    — De onde vem esse cheiro? — perguntei farejando. Fui até o caixotinho, voltei, cheirei o assoalho. — Você não está sentindo um cheiro meio ardido?
     — É de bolor. A casa inteira cheira assim — ela disse. E puxou o caixotinho para debaixo da cama.
    No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto. Sentou-se na cama da minha prima, cruzou as perninhas e ali ficou muito sério, vendo-a dormir. Eu quis gritar, tem um anão no quarto! mas acordei antes. A luz estava acesa. Ajoelhada no chão, ainda vestida, minha prima olhava fixamente algum ponto do assoalho.
    — Que é que você está fazendo aí? — perguntei.
   — Essas formigas. Apareceram de repente, já enturmadas. Tão decididas, está vendo?
    Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam lá dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.
    — São milhares, nunca vi tanta formiga assim. E não tem trilha de volta, só de ida — estranhei.
     — Só de ida.
    Contei-lhe meu pesadelo com o anão sentado em sua cama.
    — Está debaixo dela — disse minha prima e puxou para fora o caixotinho. Levantou o plástico.
    — Preto de formiga. Me dá o vidro de álcool.
    — Deve ter sobrado alguma coisa aí nesses ossos e elas descobriram, formiga descobre tudo. Se eu fosse você, levava isso lá pra fora.
  — Mas os ossos estão completamente limpos, eu já disse. Não ficou nem um fiapo de cartilagem, limpíssimos. Queria saber o que essas bandidas vêm fuçar aqui.
    Respingou fartamente o álcool em todo o caixote. Em seguida, calçou os sapatos e como uma equilibrista andando no fio de arame, foi pisando firme, um pé diante do outro na trilha de formigas. Foi e voltou duas vezes. Apagou o cigarro. Puxou a cadeira. E ficou olhando dentro do caixotinho.
    — Esquisito. Muito esquisito.
    — O quê?
    — Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E agora ele está aí no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui?
    — Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.
     Ela cobriu o caixotinho com o plástico, empurrou-o com o pé e levou o fogareiro para a mesa, era a hora do seu chá. No chão, a trilha de formigas mortas era agora uma fita escura que encolheu. Uma formiguinha que escapou da matança passou perto do meu pé, já ia esmagá-la quando vi que levava as mãos à cabeça, como uma pessoa desesperada. Deixei-a sumir numa fresta do assoalho.

    [...]

TELLES, Lygia Fagundes. In: STEEN, Edla van. O conto da mulher brasileira. 3 ed. São Paulo: Global, 2007. p. 91-94. Fragmento.

“Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre.”


Nesse fragmento, verificam-se duas marcas da função da linguagem denominada

Alternativas
Comentários
  • A linguagem Poética é característica de obras literárias no sentido conotativo (figurado). Foco na mensagem, detalhista na descrição de coisas.

    A emotiva transmite emoções, sentimentos pela própria opinião . foco no emissor e seus sentimentos.

    A conativa/ apelativa é persuasiva para convencer o leitor (mais imperativa)

    A referencial ou denotativa : objetiva informar . geralmente textos em 3 pessoa (jornalisticos)


ID
4851733
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português

As formigas

    Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima.
    — É sinistro.
    Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina.
    — Pelo menos não vi sinal de barata — disse minha prima.
    A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas encardidas. Acendeu um charutinho.
    — É você que estuda medicina? — perguntou soprando a fumaça na minha direção.
    — Estudo direito. Medicina é ela.
    A mulher nos examinou com indiferença. Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara. A saleta era escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados. No sofá de palhinha furada no assento, duas almofadas que pareciam ter sido feitas com os restos de um antigo vestido, os bordados salpicados de vidrilho.
    Vou mostrar o quarto, fica no sótão — disse ela em meio a um acesso de tosse. Fez um sinal para que a seguíssemos.
    — O inquilino antes de vocês também estudava medicina, tinha um caixotinho de ossos que esqueceu aqui, estava sempre mexendo neles.
    Minha prima voltou-se:
    — Um caixote de ossos?
    A mulher não respondeu, concentrada no esforço de subir a estreita escada de caracol que ia dar no quarto. Acendeu a luz. O quarto não podia ser menor, com o teto em declive tão acentuado que nesse trecho teríamos que entrar de gatinhas. Duas camas, dois armários e uma cadeira de palhinha pintada de dourado. No ângulo onde o teto quase se encontrava com o assoalho, estava um caixotinho coberto com um pedaço de plástico. Minha prima largou a mala e, pondo-se de joelhos, puxou o caixotinho pela alça de corda. Levantou o plástico. Parecia fascinada.
    — Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?
    — Ele disse que eram de adulto. De um anão.
   — De um anão? é mesmo, a gente vê que já estão formados…
Mas que maravilha, é raro a beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí — admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um pequeno crânio de uma brancura de cal. — Tão perfeito, todos os dentinhos!
    — Eu ia jogar tudo no lixo, mas se você se interessa pode ficar com ele. O banheiro é aqui ao lado, só vocês é que vão usar, tenho o meu lá embaixo. Banho quente extra. Telefone também. Café das sete às nove, deixo a mesa posta na cozinha com a garrafa térmica, fechem bem a garrafa recomendou coçando a cabeça. A peruca se deslocou ligeiramente. Soltou uma baforada final: — Não deixem a porta aberta senão meu gato foge.
    Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada. E a tosse encatarrada.
    Esvaziei a mala, dependurei a blusa amarrotada num cabide que enfiei num vão da veneziana, prendi na parede, com durex, uma gravura de Grassmann e sentei meu urso de pelúcia em cima do travesseiro. Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre. Em compensação, agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro do caixotinho. Examinou-a. Tirou uma vértebra e olhou pelo buraco tão reduzido como o aro de um anel. Guardou-as com a delicadeza com que se amontoam ovos numa caixa.
    — Um anão. Raríssimo, entende? E acho que não falta nenhum ossinho, vou trazer as ligaduras, quero ver se no fim da semana começo a montar ele.
      Abrimos uma lata de sardinha que comemos com pão, minha prima tinha sempre alguma lata escondida, costumava estudar até de madrugada e depois fazia sua ceia. Quando acabou o pão, abriu um pacote de bolacha Maria.
    — De onde vem esse cheiro? — perguntei farejando. Fui até o caixotinho, voltei, cheirei o assoalho. — Você não está sentindo um cheiro meio ardido?
     — É de bolor. A casa inteira cheira assim — ela disse. E puxou o caixotinho para debaixo da cama.
    No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto. Sentou-se na cama da minha prima, cruzou as perninhas e ali ficou muito sério, vendo-a dormir. Eu quis gritar, tem um anão no quarto! mas acordei antes. A luz estava acesa. Ajoelhada no chão, ainda vestida, minha prima olhava fixamente algum ponto do assoalho.
    — Que é que você está fazendo aí? — perguntei.
   — Essas formigas. Apareceram de repente, já enturmadas. Tão decididas, está vendo?
    Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam lá dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.
    — São milhares, nunca vi tanta formiga assim. E não tem trilha de volta, só de ida — estranhei.
     — Só de ida.
    Contei-lhe meu pesadelo com o anão sentado em sua cama.
    — Está debaixo dela — disse minha prima e puxou para fora o caixotinho. Levantou o plástico.
    — Preto de formiga. Me dá o vidro de álcool.
    — Deve ter sobrado alguma coisa aí nesses ossos e elas descobriram, formiga descobre tudo. Se eu fosse você, levava isso lá pra fora.
  — Mas os ossos estão completamente limpos, eu já disse. Não ficou nem um fiapo de cartilagem, limpíssimos. Queria saber o que essas bandidas vêm fuçar aqui.
    Respingou fartamente o álcool em todo o caixote. Em seguida, calçou os sapatos e como uma equilibrista andando no fio de arame, foi pisando firme, um pé diante do outro na trilha de formigas. Foi e voltou duas vezes. Apagou o cigarro. Puxou a cadeira. E ficou olhando dentro do caixotinho.
    — Esquisito. Muito esquisito.
    — O quê?
    — Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E agora ele está aí no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui?
    — Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.
     Ela cobriu o caixotinho com o plástico, empurrou-o com o pé e levou o fogareiro para a mesa, era a hora do seu chá. No chão, a trilha de formigas mortas era agora uma fita escura que encolheu. Uma formiguinha que escapou da matança passou perto do meu pé, já ia esmagá-la quando vi que levava as mãos à cabeça, como uma pessoa desesperada. Deixei-a sumir numa fresta do assoalho.

    [...]

TELLES, Lygia Fagundes. In: STEEN, Edla van. O conto da mulher brasileira. 3 ed. São Paulo: Global, 2007. p. 91-94. Fragmento.

“— Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar.”


Nesse trecho, há construções em desacordo com a norma-padrão no que diz respeito à

Alternativas
Comentários
  • Verbos : lembrar e esquecer são transitivos diretos .

    Acompanhados com pronomes são transitivos indiretos .

    Ex : Eu lembrei o seu nome.

    Eu lembrei-me do seu nome.

  • Há duas temáticas a serem levadas em conta na questão, a saber:

    1) Colocação pronominal, que diz respeito à posição do pronome oblíquo átono (me, te, se, lhe, vos, o[s], a[s], etc.) pode ser distintamente três: próclise (antes do verbo. p.ex. não se realiza trabalho voluntário), mesóclise (entre o radical e a desinência verbal, p.ex. realizar-se-á trabalho voluntário) e ênclise (após o verbo, p.ex. realiza-se trabalho voluntário);

    2) Regência verbal, cujo teor é tratar da transitividade de verbo que pode ser intransitivo (dispensa complementos verbais), transitivo direto (requer complemento verbal direto), transitivo indireto (requer complemento verbal indireto) ou ainda bitransitivo (requer concomitantemente um complemento verbal direto e outro indireto). Nestas duas últimas, o verbo reclama preposição (a, de, em, por, sobre, etc.)

    Inspecionemos o fragmento textual:

    “— Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar.”

    De entrada, já se nota desvio à sintaxe de colocação pronominal, tendo em vista que o pronome "me" não pode encabeçar períodos, devendo estar em mesóclise (caso estivesse em verbo no futuro do presente, p.ex.: lembrarei, ou futuro do pretérito, p.ex.: lembraria) ou ênclise (posposto ao verbo). É este último caso que interesse à questão. Além disso, percebe-se também a equivocada regência do verbo "lembrar-se". Quando pronominal, rege preposição "de". Por fim, à frente, o verbo "ele" fazendo as vezes de objeto direto do verbo "calçar", prática condenada pela norma culta do idioma. Com asseio gramatical, segue o período reescrito:

    "—Lembro-me de que botei o crânio em cima da pilha, lembro-me de que até o calcei com as omoplatas para não rolar."

    Sendo assim, constatam-se desvios à regência verbal e colocação pronominal.

    Letra B

  • GABARITO: LETRA B

    COMPLEMENTANDO:

    ► O pronome oblíquo átono pode ocupar três posições em relação ao verbo com o qual se relaciona: a ênclise (depois do verbo); próclise (antes do verbo); e a mesóclise (dentro do verbo). Por ser uma partícula átona, não inicia oração e, entre os verbos de uma locução, liga-se a um deles por hífen.

    PRONOMES ATÓNOS: - me, nos, te, vos, se, o(s), a(s), lhe(s);

    PRÓCLISE

    Na próclise, o pronome é colocado antes do verbo. Isso acontece quando a oração contém palavras que atraem o pronome:

    1. Palavras que expressam negação tais como “não, ninguém, nunca”:

    Não o quero aqui. / Nunca o vi assim.

    2. Pronomes relativos (que, quem, quando...), indefinidos (alguém, ninguém, tudo…) e demonstrativos (este, esse, isto…):

    Foi ela que o fez. / Alguns lhes deram maus conselhos. / Isso me lembra algo.

    3. Advérbios ou locuções adverbiais:

    Ontem me disseram que havia greve hoje. / Às vezes nos deixa falando sozinhos.

    4. Palavras que expressam desejo e também orações exclamativas:

    Oxalá me dês a boa notícia. / Deus nos dê forças.

    5. Conjunções subordinativas:

    Embora se sentisse melhor, saiu. / Conforme lhe disse, hoje vou sair mais cedo.

    6. Palavras interrogativas no início das orações:

    Quando te deram a notícia? / Quem te presenteou?

    MESÓCLISE

    Na mesóclise, o pronome é colocado no meio do verbo. Isso acontece com verbos do futuro do presente ou do futuro do pretérito, a não ser que haja palavras que atraiam a próclise:

    Orgulhar-me-ei dos meus alunos. (verbo orgulhar no futuro do presente: orgulharei);

    Orgulhar-me-ia dos meus alunos. (verbo orgulhar no futuro do pretérito: orgulharia).

    ÊNCLISE

    Na ênclise, o pronome é colocado depois do verbo. Isso acontece quando a oração contém palavras que atraem esse tipo de colocação pronominal:

    1. Verbos no imperativo afirmativo:

    Depois de terminar, chamem-nos. / Para começar, joguem-lhes a bola!

    2. Verbos no infinitivo impessoal:

    Gostaria de pentear-te a minha maneira. / O seu maior sonho é casar-se.

    3. Verbos no início das orações:

    Fiz-lhe a pessoa mais feliz do mundo. / Surpreendi-me com o café da manhã.

    TODA MATÉRIA.

  • JAMAIS, NEVER use pronome no início de frase ("Me lembro..." -> "Lembro-me...)

  • “— Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro X que até calcei ele com as omoplatas para não rolar.”

    >Não se inicia período com pronome oblíquo átono.

    >Verbo lembrar quando pronominal é transitivo indireto e rege-se de preposição DE.

    Então,

    “— Lembro-me que botei o crânio em cima da pilha, lembro-me de que até calcei ele com as omoplatas para não rolar.”

    GAB: B

  • Assertiva B

     Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar.”

    =colocação pronominal e à regência verbal.

  • GABARITO - B

    A regência dos verbos esquecer e lembrar -

    Podem ser Transitivos diretos = Lembrei o seu nome.

    Esqueci o problema

    Podem ser Transitivos Indiretos = Precisa de preposição + Pronome.

    ex: Esqueci do caderno ( Errado )

    Esqueci-me o caderno ( errado )

    Esqueci-me do caderno ( correto )

    II) Não usamos Próclise diante de vírgula, mas ênclise.

    e não podemos iniciar a frase com pronome.

    “— Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar.”

    Nova redação:

    “— lembro Me de que botei o crânio em cima da pilha, lembro me de que até calcei ele com as omoplatas para não rolar.”


ID
4851739
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português

As formigas

    Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima.
    — É sinistro.
    Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina.
    — Pelo menos não vi sinal de barata — disse minha prima.
    A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas encardidas. Acendeu um charutinho.
    — É você que estuda medicina? — perguntou soprando a fumaça na minha direção.
    — Estudo direito. Medicina é ela.
    A mulher nos examinou com indiferença. Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara. A saleta era escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados. No sofá de palhinha furada no assento, duas almofadas que pareciam ter sido feitas com os restos de um antigo vestido, os bordados salpicados de vidrilho.
    Vou mostrar o quarto, fica no sótão — disse ela em meio a um acesso de tosse. Fez um sinal para que a seguíssemos.
    — O inquilino antes de vocês também estudava medicina, tinha um caixotinho de ossos que esqueceu aqui, estava sempre mexendo neles.
    Minha prima voltou-se:
    — Um caixote de ossos?
    A mulher não respondeu, concentrada no esforço de subir a estreita escada de caracol que ia dar no quarto. Acendeu a luz. O quarto não podia ser menor, com o teto em declive tão acentuado que nesse trecho teríamos que entrar de gatinhas. Duas camas, dois armários e uma cadeira de palhinha pintada de dourado. No ângulo onde o teto quase se encontrava com o assoalho, estava um caixotinho coberto com um pedaço de plástico. Minha prima largou a mala e, pondo-se de joelhos, puxou o caixotinho pela alça de corda. Levantou o plástico. Parecia fascinada.
    — Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?
    — Ele disse que eram de adulto. De um anão.
   — De um anão? é mesmo, a gente vê que já estão formados…
Mas que maravilha, é raro a beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí — admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um pequeno crânio de uma brancura de cal. — Tão perfeito, todos os dentinhos!
    — Eu ia jogar tudo no lixo, mas se você se interessa pode ficar com ele. O banheiro é aqui ao lado, só vocês é que vão usar, tenho o meu lá embaixo. Banho quente extra. Telefone também. Café das sete às nove, deixo a mesa posta na cozinha com a garrafa térmica, fechem bem a garrafa recomendou coçando a cabeça. A peruca se deslocou ligeiramente. Soltou uma baforada final: — Não deixem a porta aberta senão meu gato foge.
    Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada. E a tosse encatarrada.
    Esvaziei a mala, dependurei a blusa amarrotada num cabide que enfiei num vão da veneziana, prendi na parede, com durex, uma gravura de Grassmann e sentei meu urso de pelúcia em cima do travesseiro. Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre. Em compensação, agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro do caixotinho. Examinou-a. Tirou uma vértebra e olhou pelo buraco tão reduzido como o aro de um anel. Guardou-as com a delicadeza com que se amontoam ovos numa caixa.
    — Um anão. Raríssimo, entende? E acho que não falta nenhum ossinho, vou trazer as ligaduras, quero ver se no fim da semana começo a montar ele.
      Abrimos uma lata de sardinha que comemos com pão, minha prima tinha sempre alguma lata escondida, costumava estudar até de madrugada e depois fazia sua ceia. Quando acabou o pão, abriu um pacote de bolacha Maria.
    — De onde vem esse cheiro? — perguntei farejando. Fui até o caixotinho, voltei, cheirei o assoalho. — Você não está sentindo um cheiro meio ardido?
     — É de bolor. A casa inteira cheira assim — ela disse. E puxou o caixotinho para debaixo da cama.
    No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto. Sentou-se na cama da minha prima, cruzou as perninhas e ali ficou muito sério, vendo-a dormir. Eu quis gritar, tem um anão no quarto! mas acordei antes. A luz estava acesa. Ajoelhada no chão, ainda vestida, minha prima olhava fixamente algum ponto do assoalho.
    — Que é que você está fazendo aí? — perguntei.
   — Essas formigas. Apareceram de repente, já enturmadas. Tão decididas, está vendo?
    Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam lá dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.
    — São milhares, nunca vi tanta formiga assim. E não tem trilha de volta, só de ida — estranhei.
     — Só de ida.
    Contei-lhe meu pesadelo com o anão sentado em sua cama.
    — Está debaixo dela — disse minha prima e puxou para fora o caixotinho. Levantou o plástico.
    — Preto de formiga. Me dá o vidro de álcool.
    — Deve ter sobrado alguma coisa aí nesses ossos e elas descobriram, formiga descobre tudo. Se eu fosse você, levava isso lá pra fora.
  — Mas os ossos estão completamente limpos, eu já disse. Não ficou nem um fiapo de cartilagem, limpíssimos. Queria saber o que essas bandidas vêm fuçar aqui.
    Respingou fartamente o álcool em todo o caixote. Em seguida, calçou os sapatos e como uma equilibrista andando no fio de arame, foi pisando firme, um pé diante do outro na trilha de formigas. Foi e voltou duas vezes. Apagou o cigarro. Puxou a cadeira. E ficou olhando dentro do caixotinho.
    — Esquisito. Muito esquisito.
    — O quê?
    — Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E agora ele está aí no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui?
    — Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.
     Ela cobriu o caixotinho com o plástico, empurrou-o com o pé e levou o fogareiro para a mesa, era a hora do seu chá. No chão, a trilha de formigas mortas era agora uma fita escura que encolheu. Uma formiguinha que escapou da matança passou perto do meu pé, já ia esmagá-la quando vi que levava as mãos à cabeça, como uma pessoa desesperada. Deixei-a sumir numa fresta do assoalho.

    [...]

TELLES, Lygia Fagundes. In: STEEN, Edla van. O conto da mulher brasileira. 3 ed. São Paulo: Global, 2007. p. 91-94. Fragmento.

O período que contém uma oração subordinada adverbial consecutiva é

Alternativas
Comentários
  • Orações subordinadas adverbiais consecutivas: exprimem uma ideia de consequência. 

    “Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que (CONSEQUENTEMENTE) precisei desviar a cara.”

  • Consecutiva: que (combinada com uma das palavras tal, tanto, tão ou tamanho, presentes ou latentes na oração anterior), de forma que, de maneira que, de modo que, de sorte que.

    Ex :A mãe gritou tão alto, que assustou os filhos.

  • GABARITO C

    Quando ele falar em consecutivas vc já deve ir logo atrás do Tesão...

    -como assim?

    Depois do Tesão vem a consequência ...

    a) “TEMPORAL ”

    b) COMPARATIVA

    c) “Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara.”

    d) “Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada.”

    ( Temporal )

  • As orações adverbiais exercem o papel de adjuntos adverbiais e podem ser arroladas nas seguintes classes:

    → Causais (exprimem causa). Ex.: "Maximiano temera que o coronel o agredisse, de tão violento que ficara." (Jorge Amado)

    → Comparativas (exprimem comparação). Ex.:"A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o ferro." (Marquês de Maricá);

    → Concessivas (exprimem um fato que se concede, permite-se). Ex.: "Nem que a gente quisesse, conseguiria esquecer." (Otto Lara Resende)

    → Condicionais (exprimem condição). Ex.: "Que diria o pai se soubesse disso?" (Carlos Drummond de Andrade)

    → Conformativas (exprimem acordo ou conformidade). Ex.: "Digo essas coisas por alto, segundo as ouvi narrar anos depois." (Machado de Assis)

    → Consecutivas (exprimem consequência, efeito ou resultado). Ex.: "A fumaça era tanta que eu mal podia abrir os olhos." (José J. Viega)

    → Finais (exprimem finalidade, objetivo). Ex.: "O futuro se nos oculta para que nós o imaginemos." (Marquês de Maricá)

    → Proporcionais (denotam proporcionalidade). Ex.: À medida que se vive, mais se aprende.

    → Temporais (indicam o tempo em que se realiza o fato expresso na oração principal). Ex.: “Quando os tiranos caem, os povos se levantam.” (Marquês de Maricá)

    a) “Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite.”

    Incorreto. Tem valor de tempo o segmento sublinhado, uma oração subordinada adverbial temporal;

    b) “A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna.”

    Incorreto. Há um sujeito, um predicado nominal e uma comparação — que não se dá de forma oracional. Portanto, trata-se de um período simples, constituído de oração absoluta;

    c) “Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara.”

    Correto. O segmento sublinhado confere à estrutura a consequência de algo;

    d) “Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada.”

    Incorreto. Tem valor de tempo o segmento sublinhado, uma oração subordinada adverbial temporal.

    Letra C

  • GABARITO: LETRA C

    1. Oração subordinada adverbial causal

    As orações subordinadas adverbiais causais exprimem causa ou o motivo.

    As conjunções integrantes adverbiais utilizadas são: porque, que, como, pois que, porquanto, visto que, uma vez que, já que, desde que, etc.

    Exemplo: Não fomos à festa, pois estava chovendo muito.

    2. Oração subordinada adverbial comparativa

    As orações subordinadas adverbiais comparativas exprimem comparação.

    As conjunções integrantes adverbiais utilizadas são: como, assim como, tal como, tanto como, tanto quanto, como se, do que, quanto, tal, qual, tal qual, que nem, que (combinado com menos ou mais).

    Exemplo: Paula é estudiosa tanto quanto seu irmão.

    3. Oração subordinada adverbial concessiva

    As orações subordinadas adverbiais concessivas exprimem permissão.

    As conjunções integrantes adverbiais utilizadas são: embora, conquanto, por mais que, posto que, ainda que, apesar de que, se bem que, mesmo que, em que pese, etc.

    Exemplo: Luciana gosta muito de dançar embora esteja com o pé quebrado.

    4. Oração subordinada adverbial condicional

    As orações subordinadas adverbiais condicionais exprimem condição.

    As conjunções integrantes adverbiais utilizadas são: se, caso, contanto que, salvo se, a não ser que, desde que, a menos que, sem que, etc.

    Exemplo: Iremos à festa desde que não chova.

    5. Oração subordinada adverbial conformativa

    As orações subordinadas adverbiais conformativas exprimem conformidade.

    As conjunções integrantes adverbiais utilizadas são: conforme, segundo, como, consoante, de acordo, etc.

    Exemplos: Consoante às regras de conduta, Antenor preferiu alertar seus colegas de trabalho.

    6. Oração subordinada adverbial consecutiva

    As orações subordinadas adverbiais consecutivas exprimem consequência.

    As conjunções integrantes adverbiais utilizadas são: de modo que, de sorte que, sem que, de forma que, de jeito que, etc.

    Exemplos: O palestrante falou tão baixo, de forma que não conseguimos ouvir a apresentação.

    7. Oração subordinada adverbial final

    As orações subordinadas adverbiais finais exprimem finalidade.

    As conjunções integrantes adverbiais utilizadas são: a fim de que, para que, que, porque, etc.

    Exemplos: Estamos aqui para trabalhar.

    8. Oração subordinada adverbial temporal

    As orações subordinadas adverbiais temporais exprimem circunstância de tempo.

    As conjunções integrantes adverbiais utilizadas são: enquanto, quando, desde que, sempre que, assim que, agora que, antes que, depois que, logo que, etc.

    Exemplos: Enquanto eles se divertem, nós trabalhamos.

    9. Oração subordinada adverbial proporcional

    As orações subordinadas adverbiais proporcionais exprimem proporção.

    As conjunções integrantes adverbiais utilizadas são: à proporção que, à medida que, ao passo que, tanto mais, tanto menos, quanto mais, quanto menos, etc.

    Exemplos: À medida que o tempo passa, estamos mais distantes.

    TODA MATÉRIA.


ID
4851742
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português

As formigas

    Quando minha prima e eu descemos do táxi, já era quase noite. Ficamos imóveis diante do velho sobrado de janelas ovaladas, iguais a dois olhos tristes, um deles vazado por uma pedrada. Descansei a mala no chão e apertei o braço da prima.
    — É sinistro.
    Ela me impeliu na direção da porta. Tínhamos outra escolha? Nenhuma pensão nas redondezas oferecia um preço melhor a duas pobres estudantes com liberdade de usar o fogareiro no quarto, a dona nos avisara por telefone que podíamos fazer refeições ligeiras com a condição de não provocar incêndio. Subimos a escada velhíssima, cheirando a creolina.
    — Pelo menos não vi sinal de barata — disse minha prima.
    A dona era uma velha balofa, de peruca mais negra do que a asa da graúna. Vestia um desbotado pijama de seda japonesa e tinha as unhas aduncas recobertas por uma crosta de esmalte vermelho-escuro, descascado nas pontas encardidas. Acendeu um charutinho.
    — É você que estuda medicina? — perguntou soprando a fumaça na minha direção.
    — Estudo direito. Medicina é ela.
    A mulher nos examinou com indiferença. Devia estar pensando em outra coisa quando soltou uma baforada tão densa que precisei desviar a cara. A saleta era escura, atulhada de móveis velhos, desparelhados. No sofá de palhinha furada no assento, duas almofadas que pareciam ter sido feitas com os restos de um antigo vestido, os bordados salpicados de vidrilho.
    Vou mostrar o quarto, fica no sótão — disse ela em meio a um acesso de tosse. Fez um sinal para que a seguíssemos.
    — O inquilino antes de vocês também estudava medicina, tinha um caixotinho de ossos que esqueceu aqui, estava sempre mexendo neles.
    Minha prima voltou-se:
    — Um caixote de ossos?
    A mulher não respondeu, concentrada no esforço de subir a estreita escada de caracol que ia dar no quarto. Acendeu a luz. O quarto não podia ser menor, com o teto em declive tão acentuado que nesse trecho teríamos que entrar de gatinhas. Duas camas, dois armários e uma cadeira de palhinha pintada de dourado. No ângulo onde o teto quase se encontrava com o assoalho, estava um caixotinho coberto com um pedaço de plástico. Minha prima largou a mala e, pondo-se de joelhos, puxou o caixotinho pela alça de corda. Levantou o plástico. Parecia fascinada.
    — Mas que ossos tão miudinhos! São de criança?
    — Ele disse que eram de adulto. De um anão.
   — De um anão? é mesmo, a gente vê que já estão formados…
Mas que maravilha, é raro a beça esqueleto de anão. E tão limpo, olha aí — admirou-se ela. Trouxe na ponta dos dedos um pequeno crânio de uma brancura de cal. — Tão perfeito, todos os dentinhos!
    — Eu ia jogar tudo no lixo, mas se você se interessa pode ficar com ele. O banheiro é aqui ao lado, só vocês é que vão usar, tenho o meu lá embaixo. Banho quente extra. Telefone também. Café das sete às nove, deixo a mesa posta na cozinha com a garrafa térmica, fechem bem a garrafa recomendou coçando a cabeça. A peruca se deslocou ligeiramente. Soltou uma baforada final: — Não deixem a porta aberta senão meu gato foge.
    Ficamos nos olhando e rindo enquanto ouvíamos o barulho dos seus chinelos de salto na escada. E a tosse encatarrada.
    Esvaziei a mala, dependurei a blusa amarrotada num cabide que enfiei num vão da veneziana, prendi na parede, com durex, uma gravura de Grassmann e sentei meu urso de pelúcia em cima do travesseiro. Fiquei vendo minha prima subir na cadeira, desatarraxar a lâmpada fraquíssima que pendia de um fio solitário no meio do teto e no lugar atarraxar uma lâmpada de duzentas velas que tirou da sacola. O quarto ficou mais alegre. Em compensação, agora a gente podia ver que a roupa de cama não era tão alva assim, alva era a pequena tíbia que ela tirou de dentro do caixotinho. Examinou-a. Tirou uma vértebra e olhou pelo buraco tão reduzido como o aro de um anel. Guardou-as com a delicadeza com que se amontoam ovos numa caixa.
    — Um anão. Raríssimo, entende? E acho que não falta nenhum ossinho, vou trazer as ligaduras, quero ver se no fim da semana começo a montar ele.
      Abrimos uma lata de sardinha que comemos com pão, minha prima tinha sempre alguma lata escondida, costumava estudar até de madrugada e depois fazia sua ceia. Quando acabou o pão, abriu um pacote de bolacha Maria.
    — De onde vem esse cheiro? — perguntei farejando. Fui até o caixotinho, voltei, cheirei o assoalho. — Você não está sentindo um cheiro meio ardido?
     — É de bolor. A casa inteira cheira assim — ela disse. E puxou o caixotinho para debaixo da cama.
    No sonho, um anão louro de colete xadrez e cabelo repartido no meio entrou no quarto fumando charuto. Sentou-se na cama da minha prima, cruzou as perninhas e ali ficou muito sério, vendo-a dormir. Eu quis gritar, tem um anão no quarto! mas acordei antes. A luz estava acesa. Ajoelhada no chão, ainda vestida, minha prima olhava fixamente algum ponto do assoalho.
    — Que é que você está fazendo aí? — perguntei.
   — Essas formigas. Apareceram de repente, já enturmadas. Tão decididas, está vendo?
    Levantei e dei com as formigas pequenas e ruivas que entravam em trilha espessa pela fresta debaixo da porta, atravessavam o quarto, subiam pela parede do caixotinho de ossos e desembocavam lá dentro, disciplinadas como um exército em marcha exemplar.
    — São milhares, nunca vi tanta formiga assim. E não tem trilha de volta, só de ida — estranhei.
     — Só de ida.
    Contei-lhe meu pesadelo com o anão sentado em sua cama.
    — Está debaixo dela — disse minha prima e puxou para fora o caixotinho. Levantou o plástico.
    — Preto de formiga. Me dá o vidro de álcool.
    — Deve ter sobrado alguma coisa aí nesses ossos e elas descobriram, formiga descobre tudo. Se eu fosse você, levava isso lá pra fora.
  — Mas os ossos estão completamente limpos, eu já disse. Não ficou nem um fiapo de cartilagem, limpíssimos. Queria saber o que essas bandidas vêm fuçar aqui.
    Respingou fartamente o álcool em todo o caixote. Em seguida, calçou os sapatos e como uma equilibrista andando no fio de arame, foi pisando firme, um pé diante do outro na trilha de formigas. Foi e voltou duas vezes. Apagou o cigarro. Puxou a cadeira. E ficou olhando dentro do caixotinho.
    — Esquisito. Muito esquisito.
    — O quê?
    — Me lembro que botei o crânio em cima da pilha, me lembro que até calcei ele com as omoplatas para não rolar. E agora ele está aí no chão do caixote, com uma omoplata de cada lado. Por acaso você mexeu aqui?
    — Deus me livre, tenho nojo de osso. Ainda mais de anão.
     Ela cobriu o caixotinho com o plástico, empurrou-o com o pé e levou o fogareiro para a mesa, era a hora do seu chá. No chão, a trilha de formigas mortas era agora uma fita escura que encolheu. Uma formiguinha que escapou da matança passou perto do meu pé, já ia esmagá-la quando vi que levava as mãos à cabeça, como uma pessoa desesperada. Deixei-a sumir numa fresta do assoalho.

    [...]

TELLES, Lygia Fagundes. In: STEEN, Edla van. O conto da mulher brasileira. 3 ed. São Paulo: Global, 2007. p. 91-94. Fragmento.

“A peruca se deslocou ligeiramente.”


O advérbio em destaque pode ser substituído, sem que se modifique o sentido da frase, por

Alternativas
Comentários
  • ERRADO: LIGEIRAMENTE É SINÕNIMO DE RAPIDAMENTE

  • Onde que ligeiramente e levemente tem o mesmo sentido??

  • advérbio De maneira ligeira; feito às pressas; de modo leve ou suave: nova versão da música, ligeiramente alterada. [Figurado] De modo leviano: ligeiramente confuso. Etimologia (origem da palavra ligeiramente). Feminino de ligeiro + mente.

  • tem dois gabarito ae]

    rapidamente poderia ser substituído também


ID
4851754
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Legislação Municipal

Avalie o que se afirma ser proibido aos servidores públicos civis do Município de Guarani.


I. Ausentar-se do serviço durante o expediente, ainda que com prévia autorização do chefe imediato.


II. Recusar fé a documentos privados.


III. Manter sob chefia imediata, em cargo de função ou em cargo de confiança, cônjuge, companheiro ou parente até o segundo grau civil.


IV. Receber comissão de qualquer espécie, em razão de suas atribuições.


Está correto apenas o que se afirma em

Alternativas

ID
4851763
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Noções de Informática

No Windows 7, a combinação de teclas que pode ser utilizada para alternar entre aplicativos abertos é

Alternativas
Comentários
  • Gab : A

    Traduzido do inglês-Alt + Tab ↹ é o nome comum para um atalho de teclado que está no Microsoft Windows desde o Windows 2.0. Este atalho alterna entre janelas de nível de aplicativo sem usar o mouse; portanto, foi denominado Task Switcher.

  • GABARITO A

    ALT + Tab- alternar entre janelas abertas

    CTRL + ALT + Tab- visualiza todos os apps abertos

    ALT + ESC transita entre janelas abertas

    Fonte: Techtudo.

    Bons estudos!

  • ALT + Tab: alterna entre janelas abertas (com flip, que é aquele menu mostrando a miniatura das janelas abertas).

    ALT + ESC: alterna entre janelas abertas (sem flip).

  • Complemento :

    Ctrl + Tab : alternar entre as páginas da internet abertas.


ID
4851766
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Noções de Informática

Para exibir a Lixeira na área de trabalho do Windows 10, clique no botão Iniciar e, em seguida, em _____________ . Clique em Personalização, depois em Temas e, por último em Configurações dos Ícones da Área de Trabalho. Marque a caixa de seleção _____________e clique em _____________.


A sequência que preenche corretamente a lacuna é

Alternativas
Comentários
  • Configurações/ Lixeira/ Aplicar

  • GABARITO C

    Veja como colocar a Lixeira na área de trabalho no Windows 10:

    Selecione o botão Iniciar  e escolha Configurações .

    Escolha Personalização > Temas > Configurações dos Ícones da Área de Trabalho.

    Marque a caixa de seleção LixeiraAplicar.

    Fonte: Microsoft


ID
4851769
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Noções de Informática

O programa utilizado para proteger um computador contra acessos não autorizados vindos da Internet é chamado

Alternativas
Comentários
  • Gab : B

    Em informática, um firewall é um dispositivo de uma rede de computadores, na forma de um programa ou de equipamento físico, que tem por objetivo aplicar uma política de segurança a um determinado ponto da rede, geralmente associados a redes TCP/IP.

  • GABARITO B

    Use a analogia para resolver!

    Um Firewall é como um segurança ou porteiro de um Local. Ele controla o fluxo do que entra ou sai.

    Você pode considerar um firewall como uma barreira que verifica informações (frequentemente denominada tráfego) vindas da Internet ou de uma rede e, em seguida, joga essas informações fora ou permite que elas passem pelo computador, dependendo das suas configurações de firewall. 

  • medida de segurança que pode ser implementada para limitar o acesso de terceiros a uma determinada rede ligada à Internet. = FIREWALL


ID
4851772
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Noções de Informática

No Microsoft Excel 2013, cada célula de uma planilha é referenciada por uma letra e por um número que indicam a coluna e a linha, respectivamente. Suponha que a célula da 1ª linha e da 1ª coluna contenha o número 100 e a célula da 2ª linha e da 1ª coluna contenha o número 200.


Para somar os números 100 e 200 existentes nessas duas células, a fórmula que pode ser inserida em uma célula vazia da planilha é

Alternativas
Comentários
  • Essa é para não zerar.

  • Complemento :

    = A1+ A2 ou =soma(A1:A2 )


ID
4851775
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Noções de Informática

Uma pessoa, trabalhando com um documento texto do Microsoft Word 2013, selecionou a guia Layout da Página e abriu a caixa de diálogo Configurar Página.


A caixa de diálogo Configurar Página permite

Alternativas
Comentários
  • Pra quem também confundiu:

    Marca d’ água fica na guia design.

    gabarito C

  • GABARITO - C

    A) inserir marca-d´água nas páginas do documento.

    As características da Página como Cor, Bordas, Layout , temas e cores estão na Design.

    ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    C) modificar a orientação das páginas do documento de paisagem para retrato.

    Pelo caminho descrito > Layout > Caixa de diálogo parágrafo > Margens.

    OU

    Layout > Grupo: Configurar Página > Orientação.

    ------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    Bons estudos!


ID
4958557
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Direito Constitucional
Assuntos

Com base nas disposições da Constituição Federal Brasileira de 1988, é correto afirmar que

Alternativas
Comentários
  • Segundo o art. 5º, XXV da CF:

    “XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano”.

    Bons Estudos!

  • Examinemos alternativa por alternativa, com base nas disposições da Constituição Federal Brasileira de 1988, à procura da única correta:

    A) a criação de associações e de cooperativas se sujeita à autorização estatal para seu funcionamento.

    Incorreta.A criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento”, conforme o art. 5º, XVIII, da CF/88. Esse inciso é EXTREMAMENTE cobrado, e quando consta entre as alternativas, comumente está errado.

    B) a pequena propriedade rural poderá ser objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva.

    Incorreta.A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento”, nos termos do art. 5º, XXVI, da CF/88.

    C) no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.

    Correta. “No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano”, consoante o art. 5º, XXV da CF/88. Esteja atento: a indenização será sempre posterior. É uma forma de intervenção pública no direito de propriedade em situações emergenciais. Também se chama requisição administrativa. Exemplo prático e real: quando houve o acidente da Gol com o jato Legacy, os destroços caíram em uma área particular. O exército ocupou a fazenda, por meio da requisição administrativa, a fim de realizar as buscas.

    D) o procedimento da desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, independe de justa e prévia indenização em dinheiro por parte da Administração Pública.

    Incorreta.A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição”, conforme o art. 5º, XXIV, da CF/88. As bancas adoram mencionar “mediante justa e posterior indenização” ou “indenização em títulos públicos”.

    Gabarito: alternativa “C”.

  • GAB-C com um adendo na "B"

    A alternativa "B", acredito eu que esteja errada, pois a pequena propriedade poderá sim ser objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, faltou dois requisitos. O que não pode é a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, 

    1 - DEFINIDA EM LEI,

    2 - TRABALHADA PELA FAMÍLIA

    Corrijam-me se eu estiver errado!!!

  • a) XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

    b) XXVI – a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, NÃO será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento.

    c) CORRETA!

    d) a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;

  • ✅ Gabarito: alternativa "C"

    "Você certamente já viu um filme em que uma autoridade policial, em meio a uma perseguição, solicita o veículo de algum cidadão que passava pelo local. Quando isso aconteceu, deve ter se perguntado algo como “isso é possível na vida real?”. Não só é possível, como está previsto no Artigo 5°, inciso XXV da . Trata-se da requisição administrativa ou, mais especificamente, do direito de o Poder Público se utilizar de propriedades particulares em caso de perigos iminentes." Fonte: https://www.politize.com.br/

    Constituição Federal de 1988

      "Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;"

  • A questão versa sobre direitos e garantias fundamentais, previsto no artigo 5° da Constituição Federal, um dos dispositivos mais cobrados nas provas. Vejamos:


    a) ERRADA. A criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento (Artigo 5°, XVIII, CF).


    b) ERRADA. A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento (Artigo 5°, XXVI, CF).

    c) CORRETA. No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano (Artigo 5°, XXV, CF).

    d) ERRADA. A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição (Artigo 5°, XXIV, CF).


    Resposta correta: C


  • Creio que a questão não foi anulada pelo fato de a grande maioria ter acertado a questão, já que a letra C é muito clara, porém vale uma ressalva: a CF/88 deixou claro que a impenhorabilidade se refere à pequena propriedade rural trabalhada pela família. A pequena propriedade que NÃO é trabalhada pela família pode, SIM, ser objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva. Como a questão não traz o requisito essencial da impenhorabilidade da pequena propriedade rural, seria passível de recurso e consequente anulação.

    Força e honra!

  • TÍTULO II

    Dos Direitos e Garantias Fundamentais

    CAPÍTULO I

    DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

    Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

    XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento

    Desapropriação comum

    XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição

    Requisição administrativa 

    XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano

    Pequena propriedade rural

    XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento

  • Assertiva C

    no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.

  • A) a criação de associações e de cooperativas se sujeita à autorização estatal para seu funcionamento.

    Errado. XVIII - a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

    B) a pequena propriedade rural poderá ser objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva.

    Errado. XXVI - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

    C) no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano.

    Correto. XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;

    D) o procedimento da desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, independe de justa e prévia indenização em dinheiro por parte da Administração Pública.

    Errado. XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição;

  • a) ERRADA. A criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento (Artigo 5°, XVIII, CF).

    b) ERRADA. A pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento (Artigo 5°, XXVI, CF).

    c) CORRETA. No caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano (Artigo 5°, XXV, CF).

    d) ERRADA. A lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição (Artigo 5°, XXIV, CF).

    Resposta correta: C


ID
4958563
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Legislação Municipal
Assuntos

Sobre o Processo Disciplinar disposto no Estatuto dos Servidores Públicos Civis do Município de Guarani, é correto afirmar que é

Alternativas

ID
4958584
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Enfermagem
Assuntos

O grupo clínico e de pesquisa liderado por Barbara Starfield (Universidade Johns Hopkins – EUA) desenvolveu e mensurou os atributos essenciais e derivados da Atenção Primária à Saúde (APS) internacionalmente, incluindo o Brasil. 

Segundo Barbara Starfiled, os atributos essenciais da APS são

Alternativas

ID
4958587
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Saúde Pública
Assuntos

O grupo clínico e de pesquisa liderado por Barbara Starfield (Universidade Johns Hopkins – EUA) desenvolveu e mensurou os atributos essenciais e derivados da Atenção Primária à Saúde (APS) internacionalmente, incluindo o Brasil. 

Uma equipe de saúde da família realiza o diagnóstico situacional da saúde de sua área de abrangência e detecta residentes imigrantes haitianos recém-chegados ao Brasil.


Aplicando os atributos derivados da APS, segundo Barbara Starfield, o cuidado dos imigrantes haitianos requer

Alternativas

ID
4958590
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Preencha corretamente as lacunas do texto a seguir referente ao Método Clínico Centrado na Pessoa (MCCP) - (STEWART, 2017).

O primeiro componente do MCCP, __________, preconiza uma atenção aos sentimentos, ideias, funções e expectativas referentes ao adoecimento e à saúde de quem busca cuidados em saúde. O segundo componente do MCCP, __________, integra os elementos do primeiro componente com o entendimento da pessoa como um todo, incluindo sua conscientização acerca do ciclo de vida e do seu contexto de vida (__________; __________).


A sequência que preenche corretamente as lacunas do texto é

Alternativas

ID
4958593
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Informe se é verdadeiro (V) ou falso (F) o que se afirma sobre o que deve ser feito no terceiro e no quarto componentes do MCCP.


( ) Buscar concordância sobre a natureza dos problemas e sua priorização.


( ) Definir os objetivos terapêuticos e os papéis do médico e da pessoa.


( ) Identificar as características do relacionamento terapêutico.


( ) Buscar o auto-conhecimento e a centralização do poder no médico.


( ) Estender ao máximo o tempo da consulta para a eficaz aplicação do MCCP.



De acordo com as afirmações,a sequência correta é

Alternativas

ID
4958596
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Avalie o que se afirma sobre cada conceito abaixo


I. A ‘demora permitida’ e a prevenção quaternária buscam reduzir a iatrogenia médica.


II. A estratégia ‘demora permitida’ usa o tempo como aliado, reduzindo, assim, o ‘sobrediagnóstico’ e o ‘sobretratamento’.


III. A prevenção quaternária evita que uma condição já instalada (ex.: Diabetes mellitus) se agrave via otimização terapêutica.


IV. As ações de vigilância em saúde devem ser integradas no diagnóstico e no plano de ações de pessoas, famílias e comunidade.



Está correto apenas o que se afirma em

Alternativas

ID
4958599
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Avalie o que se afirma sobre a abordagem familiar na Atenção Primária à Saúde (APS).


I. É essencial ao médico da estratégia saúde da família saber quando e como abordar famílias.


II. O médico deve evitar tomar partidos, oferecer conselhos ou interpretações precoces ou brechas à revelação de confidencialidade da pessoa.


III. Evidências clínicas e epidemiológicas mostram a influência da família na promoção, manutenção e recuperação da saúde e no desenvolvimento de doenças de seus membros.


IV. O nível máximo de envolvimento familiar pelo médico da APS é o de contenção emocional, apoio, suporte e resolução de conflitos (exemplo: dependência do álcool e de outras drogas).


Está correto apenas o que se afirma em

Alternativas

ID
4958602
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Considere o ciclo de vida familiar e associe corretamente o estágio e o processo emocional à respectiva mudança necessária.



Estágios / processos emocionais


1. Saindo de casa: jovens solteiros / Aceitar responsabilidades emocionais e financeiras.

2. O novo casal / Comprometer com o novo sistema.

3. Famílias com filhos pequenos / Aceitar novos membros no sistema.

4. Famílias com adolescentes / Flexibilizar fronteiras familiares

5. Lançar filhos e seguir adiante / Aceitar saídas e entradas no sistema.

6. Estágio tardio da vida / Aceitar mudanças de papéis entre gerações.


Mudanças necessárias


( ) Renegociar o sistema conjugal como díade.

( ) Unir-se nas tarefas de educação de filhos, financeiras e domésticas.

( ) Desenvolver relações íntimas com pares.

( ) Apoiar um papel mais central da geração do meio.

( ) Realinhar relacionamentos, incluindo o cônjuge.

( ) Iniciar mudanças no sentido de cuidar da geração mais velha.


A sequência correta dessa associação é

Alternativas

ID
4958605
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Em diversas situações, é desejável que a família seja abordada, EXCETO para

Alternativas

ID
4958608
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Preencha corretamente as lacunas, indicando a ferramenta de abordagem familiar descrita na APS.


_____________ : mapeia a estrutura e a funcionalidade familiar de três gerações, otimizando diagnósticos e proposta de intervenções.


_____________ : identifica e qualifica a intensidade e a direcionalidade de energia entre a pessoa e os equipamentos sociais de apoio.


_____________: evidencia o estado funcional familiar pela perspectiva do entrevistado.


_____________: aprofunda a compreensão do funcionamento familiar orientado pelas relações interpessoais nas dimensões de inclusão (interação intrafamiliar para vinculação e organização), controle (interações do exercício de poder) e intimidade (interações familiares relacionadas às trocas interpessoais).


_____________: avalia a família e indica potenciais intervenções de ordem médica, comportamental e de relacionamentos.



A sequência que preenche corretamente as lacunas do texto é

Alternativas

ID
4958611
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Referente ao rastreamento, é correto afirmar que

Alternativas

ID
4958614
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Considerando os exames de rastreamento e de diagnóstico da Diabetes mellitus abaixo, associe corretamente o resultado à sua respectiva classificação.


Resultado de exames


1. Glicemia de jejum: 90 mg/dl

2. Glicemia 2h após 75g de glicose oral (TOTG): 225 mg/dl

3. HbAc1: 6,3%

4. Glicemia de jejum: 112 mg/dl


Classificações


( ) Diabetes mellitus.

( ) Glicemia normal.

( ) Tolerância diminuída à glicose.

( ) Alto risco de desenvolver Diabetes mellitus tipo 2.



A sequência correta dessa associação é

Alternativas

ID
4958617
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Referente à abordagem de pessoas com diagnóstico estabelecido de Diabetes mellitus tipo 2, avalie as afirmações.


I. A prática regular de atividade física é indicada aos pacientes com diabetes, pois melhora o controle metabólico, reduzindo o uso de hipoglicemiantes.


II. As sulfonilureias são os medicamentos de primeira linha, notadamente em pacientes obesos, por induzir a secreção de insulina pelas células beta.


III. A insulinização inicial com dose única de NPH, antes de deitar, associada a antidiabéticos orais, requer menor dose de insulina e reduz o risco de hipoglicemia.


IV. Inicia-se a metformina com doses baixas nas refeições para prevenir os sintomas gastrintestinais; está contra-indicada na insuficiência renal moderada a grave (Filtração glomerular <30 ml/min/1,73m2).


Está correto apenas o que se afirma em

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ID
4958620
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Referente à farmacoterapia na pessoa com hipertensão arterial sistêmica, associe corretamente a classe medicamentosa ao seu respectivo efeito adverso.

Classes medicamentosas
1. Diuréticos
2. Betabloqueadores
3. Antagonistas de receptores angiotensina II
4. Bloqueadores seletivos dos canais de cálcio
5. Inibidores da enzima conversora de angiotensina 

Efeitos adversos
( ) Tonturas e rash cutânea.
( ) Intolerância à glicose, hipopotassemia.
( ) Cefaleia, tontura, rubor facial e hipertrofia gengival.
( ) Tosse, alteração no paladar e edema angioneurótico.
( ) Broncoespasmo, depressão psíquica e disfunção sexual.

A sequência correta dessa associação é

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ID
4958623
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

O Sr. João, 50 anos de idade (IMC de 31 kg/m2), com diagnóstico de hipertensão arterial no estágio 1 (PA: 150x90 mmhg), não deseja usar medicamentos por temer seus efeitos adversos, principalmente a impotência sexual. Dr. Rui calcula seu risco cardiovascular de 11% em 10 anos e aplica o método clínico centrado na pessoa, para construir uma decisão compartilhada com o Sr. João.


A melhor conduta neste caso é

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ID
4958626
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Entre os anti-hipertensivos abaixo, é correto afirmar que estão associados à maior chance de desenvolvimento de Diabetes mellitus naquelas pessoas com maior risco para o desenvolvimento desta condição os

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Comentários
  • 2015 ja existia o mimimi


ID
4958629
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Pessoa do sexo masculino, 29 anos de idade, com uso múltiplo do atendimento de urgência na APS (e encaminhamentos para serviços de emergências), apresenta ao exame físico PA: 160/100 mmhg, sopro em flanco direito, pulsos palpáveis e simétricos nas quatro extremidades. A hipótese diagnóstica mais provável é

Alternativas

ID
4958632
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Todos os rastreamentos abaixo são baseados em evidências científicas de alta qualidade, EXCETO

Alternativas

ID
4958635
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Referente ao cuidado da pessoa com lombalgia na APS, é condição clínica que indica a necessidade de encaminhamento para a emergência, EXCETO

Alternativas

ID
4958638
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Leia o trecho abaixo de uma anamnese médica.


“Não doutor, tomo só Dipirona quando sinto dor. Mas já que você tocou no assunto, queria um medicamento para parar de fumar. Eu até já mudei alguns hábitos. Estou preocupada. Meu pai morreu de enfisema quando tinha 55 anos e minha mãe morreu de derrame aos 60 anos. Além do mais, meus três irmãos, dois deles (um com 49 anos e o outro com 44 anos) têm diabetes. Minha irmã de 46 anos está bem de saúde. ”


De acordo com o modelo Transteorético de Prochaska e DiClementi (1982), a fase em que se encontra esta pessoa em relação à vontade de parar de fumar é a da

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ID
4958641
Banca
FCM
Órgão
Prefeitura de Guarani - MG
Ano
2019
Provas
Disciplina
Medicina
Assuntos

Homem de 30 anos vai à Unidade Básica de Saúde queixando-se de dor e de coceira para urinar há dois dias. Relata secreção amarelada que sai do “canal da urina” e que suja a cueca. É noivo e relata ter tido outras parceiras sexuais no último final de semana (“bebi e fumei demais na minha despedida de solteiro, mas com camisinha”). Ao exame de ordenha da uretra, verifica-se a presença de pequena quantidade de secreção amarelada.


A esse respeito, é correto

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