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ID
3834826
Banca
FEPESE
Órgão
SAP-SC
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto
O mundo: um espaço construído

O mundo, para Hannah Arendt, não é simplesmente o que nos rodeia, mas um espaço construído pelo trabalho e constituído pela ação. Construções e artefatos garantem aos seres humanos um lugar duradouro no meio da vida e da natureza, onde tudo aparece e desaparece, isto é, vida e morte se alternam constantemente. Nesse espaço construído, os seres humanos podem criar formas de convivência e interação que vão além da preocupação com a mera sobrevivência ou continuidade da espécie, embora as necessidades básicas não deixem de existir e precisem ser supridas antes de termos a possibilidade de participar no mundo.

Arendt distingue entre a atividade humana que se preocupa com as necessidades vitais – o labor – e as atividades que dizem respeito ao mundo humano – o trabalho, a ação e o pensamento. O labor corresponde a uma das condições da nossa existência na Terra: a vida. Para cuidar da nossa vida, precisamos satisfazer nossas necessidades, assim como o faz também qualquer outra espécie de seres vivos. Para satisfazer a fome, por exemplo, produzimos alimentos que, em seguida, consumimos. Esse ciclo de produção e consumo, originariamente ligado aos processos biológicos, na modernidade, extrapola cada vez mais a satisfação das necessidades meramente biológicas e se estende a outras. Não consumimos apenas alimentos, mas estilos de vida, produtos “culturais”, emoções, imagens. Contudo, embora o processo de produção e consumo seja cada vez mais exacerbado, a lógica que lhe é inerente continua sendo a mesma: a satisfação das necessidades sejam essas biológicas ou não.

O trabalho, por sua vez, está relacionado à mundanidade do ser humano, isto é, à necessidade de construir um espaço duradouro no meio de uma natureza onde tudo aparece e desaparece constantemente. Assim, o ser humano fabrica artefatos, objetos de uso e espaços que não se destinam ao consumo imediato, mas que lhe possam ser úteis e que lhe garantem uma estabilidade para ter um lar que ele não possui por natureza. A ação é a atividade mais especificamente humana. O que nos impele a agir é a condição da pluralidade dos seres humanos. A ação diz respeito à convivência entre seres humanos, que são singulares, mas não vivem no singular e sim no plural, ou seja, com outros. Essa é a característica fundamental da existência humana.

A pluralidade possibilita aos seres humanos constituírem um âmbito de ação no qual cada um pode se revelar em atos e palavras, o que não faria sentido de modo isolado, mas ganha sua relevância numa esfera que se estabelece entre as pessoas. É com suas ações que as pessoas constantemente criam e recriam o “espaço-entre” e, assim, estabelecem um mundo comum. A comunicação é fundamental para que possamos estabelecer algo compartilhado por todos. É por meio dela que a subjetividade de nossas percepções adquire uma objetividade. Assim, a existência de uma diversidade de pontos de vista é constitutiva para o mundo comum, que partilhamos com nossos contemporâneos, mas também com aqueles que nos anteciparam e com os que darão continuidade à nossa ação depois de nós.

ALMEIDA, Vanessa Sievers de. Educação e liberdade em Hannah Arendt. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 34, n.3, p. 465-479, set./ dez. 2008. [Adaptado]

Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ), considerando o seu contexto (texto).

( ) Em “não é simplesmente o que nos rodeia” (1º parágrafo) e em “espaços que não se destinam” (3º parágrafo), os pronomes oblíquos sublinhados podem ser pospostos às formas verbais “rodeia” e “destinam”, respectivamente, sem desvio da norma culta da língua escrita.
( ) Em “mas um espaço construído” (1º parágrafo) e “mas também com aqueles que nos anteciparam” (5º parágrafo), o vocábulo “mas” pode ser substituído por “e sim”, sem prejuízo de significado e sem desvio da norma culta da língua escrita.
( ) Em “não é simplesmente o que nos rodeia” e “onde tudo aparece e desaparece” (1º parágrafo), os vocábulos sublinhados funcionam como pronome relativo.
( ) Em “que lhe possam ser úteis e que lhe garantem uma estabilidade” (3º parágrafo), o pronome “lhe” funciona como objeto indireto nas duas ocorrências, da mesma maneira que em “a lógica que lhe é inerente” (2º parágrafo).
( ) O sinal de dois-pontos é usado nas duas ocorrências (2º parágrafo) para introduzir um esclarecimento acerca de algo mencionado anteriormente.

Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA E

    (F) Em “não é simplesmente o que nos rodeia” (1° parágrafo) e em “espaços que não se destinam” (3° parágrafo), os pronomes oblíquos sublinhados podem ser pospostos às formas verbais “rodeia” e “destinam”, respectivamente, sem desvio da norma culta da língua escrita → incorreto, em ambos os casos temos o pronome relativo "que" atraindo os pronomes oblíquos, única colocação possível é antes do verbo (=próclise).

    (F) Em “mas um espaço construído” (1° parágrafo) e “mas também com aqueles que nos anteciparam” (5° parágrafo), o vocábulo “mas” pode ser substituído por “e sim”, sem prejuízo de significado e sem desvio da norma culta da língua escrita → incorreto, o "mas" é uma conjunção coordenativa adversativa, o "e sim" o substitui, porém, não substitui a conjunção coordenativa aditiva "mas também".

    (V) Em “não é simplesmente o que nos rodeia” e “onde tudo aparece e desaparece” (1° parágrafo), os vocábulos sublinhados funcionam como pronome relativo → correto, primeiro temos o pronome demonstrativo "o → aquilo" e o pronome relativo "que" retomando o pronome demonstrativo e logo após o pronome relativo "onde" retomando um lugar (=um lugar duradouro no meio da vida e da natureza, onde tudo aparece e desaparece).

    (F) Em “que lhe possam ser úteis e que lhe garantem uma estabilidade” (3° parágrafo), o pronome “lhe” funciona como objeto indireto nas duas ocorrências, da mesma maneira que em “a lógica que lhe é inerente” (2° parágrafo) → incorreto, na primeira é um complemento nominal do adjetivo "úteis" (=úteis a alguém → a ele/lhe, complemento nominal), na segunda é sim um objeto indireto (garantem algo a alguém → lhe).

    (V) O sinal de dois-pontos é usado nas duas ocorrências (2° parágrafo) para introduzir um esclarecimento acerca de algo mencionado anteriormente → correto, os dois-pontos anunciam uma explicação em ambos casos (= O labor corresponde a uma das condições da nossa existência na Terra: a vida; Contudo, embora o processo de produção e consumo seja cada vez mais exacerbado, a lógica que lhe é inerente continua sendo a mesma: a satisfação das necessidades sejam essas biológicas ou não).

    FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • formatação horrível da questão

  • Afirmativa I: falsa. As palavras que e não são fatores de próclise, também chamadas de palavras atrativas. Isto é, elas atraem o pronome oblíquo para perto de si. Portanto, os pronomes nos e se não podem ser posicionados após o verbo (posição enclítica), uma vez que estaria em desacordo com a norma culta.

    Afirmativa II: falsa. Na primeira ocorrência, a conjunção mas foi empregada com valor de retificação. Logo, poderia ser substituída pela expressão e sim sem que houvesse alteração do sentido: "...não é simplesmente o que nos rodeia, e sim um espaço construído pelo trabalho [...]". Já na segunda ocorrência, a conjunção mas possui valor aditivo, desta forma, a substituição por e sim não é adequada, pois alteraria o sentido original.

    Afirmativa III: verdadeira. Os pronomes relativos são empregados para recuperar um termo já citado na oração, a fim de evitar sua repetição. Na primeira oração, o pronome relativo que retoma o termo o (que equivale a aquilo). O pronome relativo onde possui função locativa e retoma o substantivo lugar, citado anteriormente.

    Afirmativa IV: falsa. O pronome lhe (equivalente a a ele ou a ela e seus variantes) pode exercer função sintática de objeto indireto ou de complemento nominal. Ele desempenhará função de objeto indireto quando estiver complementando o sentido de um verbo e de complemento nominal quando completar o sentido de um nome. Na oração que lhe possam ser úteis, o pronome lhe complementa o sentido do adjetivo úteis (que possam ser úteis a ele), logo, exerce função de complemento nominal. O mesmo ocorre em "a lógica que lhe é inerente (a lógica que é inerente a ele). O único caso em que o pronome lhe funciona como objeto indireto é em: que lhe garantam uma estabilidade (que garantam a ele uma estabilidade). Observe que, nesse caso, o pronome lhe complementa o sentido do verbo transitivo indireto garantir.

    Afirmativa V: verdadeira. Na primeira ocorrência, o sinal de dois-pontos é introduzido para esclarecer a que corresponde o labor. = O labor corresponde a uma das condições da nossa existência na Terra: a vida. Na segunda ocorrência, os dois-pontos também foram empregados para introduzir um esclarecimento do que é dito anteriormente.

    Portanto, a alternativa que apresenta a sequência correta é a E.

  • Acertei, mas não vou te enganar não , o português tem que fazer por partes pois parece que a banca quer causar um cansaço mental no candidato .

    rumo a PPMG se deus quiser