EDUCAÇÃO E REPRODUÇÃO SOCIAL
O atual sistema educacional brasileiro, e assim parece ser o de
todos os demais países, gira em torno de uma demanda social
sustentada pelo cenário político, social e econômico ao qual
estamos todos submetidos. O sistema de valoração, ou seja, os
valores que norteiam a forma como separamos as coisas com
as quais entramos em contato em função de atributos que
consideramos desejáveis ou repulsivos, assim como toda a
hierarquia social, parece estar enviesado por esse mesmo
caminho. Logo, não é de se espantar que os métodos
educacionais estejam, em sua maior parte, direcionados para
suprir essa demanda explícita da aquisição do poder imediato
que a condição monetária nos proporciona. Mas assim como
todo modelo hierárquico e linear, a demanda pela ascensão
excede as possibilidades disponíveis, o que torna a escalada
social exaustiva e exponencialmente custosa.
Aqui há um fator de diferenciação explícito: aqueles que
possuem meios (econômicos), disposição, tempo e maior
afinidade com aquilo que é mais valorizado conseguem
ascender dentro da hierarquia estabelecida, enquanto os demais
passam a ter de sacrificar o próprio bem-estar em nome da
promessa de uma melhor posição econômica e social. Nesse
contexto, o ensino institucional acaba sendo uma das
ferramentas mais eficazes de manutenção dessa realidade.
Autores como Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, em sua
obra “A reprodução: Elementos para uma teoria do sistema de
ensino”, buscaram evidências para mostrar que a escola e todo o
sistema de ensino moderno existem como ferramenta de
manutenção dos paradigmas sociais estabelecidos, passando
por cima ou excluindo os diferentes e neutralizando as
diferenças. Os autores baseiam-se no conceito de “violência
simbólica”, isto é, o ato de imposição arbitrária do sistema
simbólico da cultura dominante sobre os demais sujeitos.
Para Bourdieu e Passeron, o processo educativo baseia-se na
ação pedagógica, que seria a manifestação integral da violência
simbólica. Isso quer dizer que a ação pedagógica seria o meio
pelo qual as instituições de ensino subjugam o sujeito e sua
individualidade, obrigando-o a se posicionar no mundo social em
conformidade com as noções preestabelecidas pelo
pensamento ou cultura dominante.
Esse processo, no entanto, só é possível mediante a ação de
uma autoridade pedagógica, que, no caso da educação
institucional, está representada no professor e no ambiente
escolar. É a figura da autoridade pedagógica que passa
legitimidade para o processo de ensino e naturaliza a violência
simbólica da ação pedagógica. Essa figura também pode estar
representada em outros campos do meio social. A Igreja, por
exemplo, em razão da autoridade que a religião lhe concede, é
também uma autoridade pedagógica que incute valores nos
indivíduos que fazem parte do convívio comum. Portanto, a
figura da autoridade pedagógica conta sempre com a
legitimação do meio social, tendo sempre como objetivo manter
o valor social da ação.
Nesse sentido, segundo os autores, toda ação pedagógica é ato
de violência simbólica ao tentar caminhar para a hegemonização
cultural tendo como base o sistema simbólico do grupo
dominante da sociedade. Diante disso, Bourdieu e Passeron
também se preocuparam em demonstrar que, dentro do
processo de educação, aqueles que estão mais ajustados ao
modelo cultural imposto são os que conseguem manter maiores
chances de inclusão social naquele meio específico. Já os que
apresentam comportamento desviante acabam sofrendo
sanções de cunho social, sendo excluídos do convívio ou
marginalizados.
A partir dessas observações, os autores concluem que a
reprodução social é uma condição fundamental para a existência
de um sistema com base na dominação, de modo que, para que
os moldes existentes de uma organização social permaneçam, é
necessário que as instituições educadoras tornem-se cada vez
mais eficazes agentes de reprodução social.
(OLIVEIRA, Lucas. Educação e reprodução social. Disponível em:
http://bit.ly/2IYdLg4)
Com base no texto 'EDUCAÇÃO E REPRODUÇÃO SOCIAL', leia
as afirmativas a seguir:
I. Pode-se dizer, a partir da concepção apresentada no texto, que o
professor é uma figura de autoridade e legitimada para ser um
mediador do conhecimento. Por conseguinte, um reprodutor da
violência simbólica que torna o estudante um ser crítico e causador
das mudanças no espaço em que vive.
II. O texto elucida que a escola é um mecanismo de reprodução
social da realidade. Portanto, aqueles que possuem meios
(econômicos), disposição, tempo e maior afinidade com aquilo que
é mais valorizado conseguem ascender dentro da hierarquia
estabelecida, enquanto os demais passam a ter de sacrificar o
próprio bem-estar em nome da promessa de uma melhor posição
econômica e social.
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