Texto IV
JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE
O poeta e engenheiro Joaquim de Sousa Andrade nasceu em Alcântara, Maranhão, em 1833.
De família abonada, viajou muito desde jovem, percorrendo inúmeros países europeus.
Formou-se em Engenharia de Minas e em Letras pela Sorbonne. Em 1884, lançou a versão
definitiva de seu O Guesa, obra radical e renovadora. Morreu abandonado e com fama de
louco.
Considerado em sua época um escritor extravagante, Sousândrade, como preferia ser
identificado, acaba reabilitado pela vanguarda paulistana (os concretistas) como um caso de
"antecipação genial" da livre expressão modernista. Criador de uma linguagem dominada pela
elipse, por orações reduzidas e fusões vocabulares, foge do discurso derramado dos
românticos. Cosmopolita, o escritor deixou quadros curiosos como a descrição do Inferno de
Wall Street, no qual vê o capitalismo como doença.
Sua obra mais perturbadora é O Guesa, poema em treze cantos, dos quais quatro ficaram
inacabados. A base do poema é a lenda indígena do Guesa Errante. O personagem Guesa é
uma criança roubada aos pais pelo deus do Sol e educado no templo da divindade até os 10
anos, sendo sacrificado aos 15 anos.
Na condição de poeta maldito, Sousândrade identifica seu destino pessoal com o do jovem
índio. Porém, no plano histórico-social, o poeta vê no drama de Guesa o mesmo dos povos
aborígenes da América, condenando as formas de opressão dos colonialistas e defendendo
uma república utópica.
O Guesa (fragmento)
O sol ao pôr-do-sol (triste soslaio!)...o arroio
Em pedras estendido, em seus soluços
Desmaia o céu d'estrelas arenoso
E o lago anila seus lençóis d'espelho...
Era a Ilha do Sol, sempre florida
Ferrete-azul, o céu, brando o ar pureza
E as vias-lácteas sendas odorantes
Alvas, tão alvas!... Sonoros mares, a onda
d'esmeralda
Pelo areal rolando luminosa...
As velas todas-chamas aclaram todo o ar.
GONZAGA, S. Literatura Brasileira. Disp. em: <http://www.educaterra.terra.com.br> (Texto adaptado). Acesso em: 14 jun. 2010.
Qual dos versos abaixo destacado ilustra com propriedade a afirmação da crítica de que a linguagem do
engenheiro e poeta Sousa Andrade é “dominada pela elipse e pelas fusões vocabulares”?