OS SILÊNCIOS DAS JANELAS DO POVOADO
Era um fim de dia quieto pra quem quisesse ouvi-lo Apesar
do céu sangrando, alguns mateavam tranquilos. Foi
quando cascos nas pedras, e constâncias de esporas
Quebraram o calmo das casas, chamando olhares pra fora.
Iam adentrando o povoado. Quatro homens bem
montados
Três baios de cabos-negros. Bem à direita um gateado.
Ponchos negros sobre os ombros. Chapéus batidos na face
Silhuetas desconhecidas, pra qualquer um que olhasse.
Traziam vozes de mandos, nas suas bocas cerradas
E aparecendo nos ponchos pontas de adagas afiadas.
Olhavam sempre por perto até mirarem um "ranchito"
E sofrenarem os cavalo, onde um apeou solito.
Primeiro um rangido fraco, depois um grito "prendido"
E a intenção da adaga tinha mostrado sentido.
E os quatro em seus silêncios voltaram no mesmo tranco
Deixando junto a soleira, vermelho um lenço branco.
Era mais um que ficava. Depois que os quatro partiam. Por
certo em baixo dos ponchos. Algum mandado traziam.
Traziam fios de adagas, e silêncios pra entregar...
− Era um gateado e três baios, foi o que deu pra
enxergar!!
Ninguém sabe, ninguém viu, notícias viram depois. Alguém
firmava na adaga só não se sabe quem foi.
E o povoado segue o mesmo, dormindo sempre mais cedo
Dormem ouvindo o silêncio e silenciam por medo.
Luiz Marenco
A letra da música de Luiz Marenco faz
referência a um momento histórico específico no Rio
Grande do Sul, ou seja, trata da Revolução
Federalista (1893-1895), a mais sangrenta revolução
ocorrida no estado. Tamanha a barbárie acometida
dos dois lados que esta passou a ser conhecida
como “Revolução da degola”, devido à prática de
degolar os adversários. Em uma das frentes de
batalha estavam os federalistas, que foram
alcunhados de “maragatos” e faziam uso de um
lenço vermelho; já do outro lado, estavam os
“castilhistas”, que foram alcunhados de “pica-paus” e
utilizavam lenço branco.
Com base na letra da canção e nos teus
conhecimentos pessoais, analise as assertivas a
seguir:
I) Os versos da 4ª estrofe fazem referência
explícita à prática da degola.
II) No verso “Traziam fios de adagas, e silêncios
pra entregar...”, temos a presença de um
eufemismo para a morte.
III) A letra da música enfatiza o silêncio como algo
que causa temor e morte, como comprova o
último verso: “Dormem ouvindo o silêncio e
silenciam por medo”.
IV) A letra da música critica a violência da
revolução que acabou por transformar a vida
até então pacata e tranquila do povo gaúcho.
Estão corretas,