COMO E POR QUE AS LÍNGUAS MUDAM?
Por Aldo Bizzocchi. Disponível em:
http://linguaportuguesa.uol.com.br/linguaportuguesa/gramatica-ortografia/60/artigo374133-1.asp
Acesso em 16 nov 2016
Na natureza, a mudança é sempre imperceptível. Num
universo em que o comportamento dos seres é regido por
leis físicas ou genéticas, prevalece o determinismo do
instinto. Assim, a natureza parece funcionar sempre da
mesma maneira, os fenômenos seguindo sua ordem
natural, sem exceção. O que distingue o homem dos outros
seres vivos é a capacidade de modificar a natureza com seu
trabalho transformador. O homem foi o único animal capaz
de criar diferentes modos de vida, distintas civilizações, de
se adaptar a todos os habitats oferecidos pela natureza,
além de ser o único animal a produzir história. No mundo
natural, a mudança temporal é medida em termos de
milhares ou milhões de anos, o que nos dá a falsa
impressão de permanência e perenidade. Já os fatos
sociais e as criações intelectuais evoluem a uma velocidade
às vezes assustadora.
A língua foi chamada por Roland Barthes de sistema
modelizante primário por ser o primeiro e principal
instrumento de comunicação e do pensamento de que
dispomos. Segundo os linguistas americanos Edward Sapir
e Benjamin Lee Whorf, ela é também o filtro através do qual
o homem vê e pensa o mundo à sua volta e assim se dá
conta de sua própria experiência. Para os adeptos do
relativismo linguístico, a língua impõe a seus falantes uma
visão de mundo que condiciona os comportamentos
psíquicos e sociais dos indivíduos. Contudo, a capacidade
humana de transformar o meio social e de explorar a
natureza conduz o tempo todo a uma nova realidade, que
obriga o homem a uma nova visão de mundo, levando a
novas apreensões e novos tratamentos do continuum que
são os dados da experiência, o que força a língua a mudar
para poder continuar dando conta dessa realidade e
servindo de instrumento da comunicação e do pensamento.
Num jogo dialético, a língua muda para conservar-se e só
se conserva na medida em que muda. Assim como para
conservar uma casa é preciso submetê-la a periódicas
reformas, a língua precisa adaptar-se constantemente às
necessidades de comunicação da comunidade falante. Se
não mudasse, em pouco tempo estaria divorciada da
sociedade a que deve servir. Em resumo, a língua evolui
porque funciona e funciona porque evolui: é o uso da
linguagem que produz sua mudança, e é esse permanente
mudar que garante a continuidade de seu funcionamento.
[...].
Aldo Bizzocchi é doutor em Linguística pela USP, com pós-doutorado pela UERJ, pesquisador do
Núcleo de Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa da USP, com pós-doutorado na
UERJ. É autor de Léxico e Ideologia na Europa Ocidental (Annablume) e Anatomia da Cultura (Palas
Athena). www.aldobizzocchi.com.br
Avalie as assertivas a seguir em que se analisa a
pontuação. Em seguida, marque a alternativa que
contém a análise correta sobre as mesmas.
I. Em: “Na natureza, a mudança é sempre
imperceptível”, a vírgula justifica-se pelo fato de o
adjunto adverbial estar antecipado, contrariando a
ordem direta da oração, que dispensaria a vírgula.
II. Analisando a pontuação do trecho: “Assim, a
natureza parece funcionar sempre da mesma
maneira, os fenômenos seguindo sua ordem natural
[...]”, pode-se afirmar que a primeira vírgula é
opcional; e a segunda, poderia ser substituída pelo
sinal de dois pontos, sem alterar a correção do
período.
III. Em: “Se não mudasse, em pouco tempo estaria
divorciada da sociedade a que deve servir”, a vírgula
é opcional, pois o uso desse sinal é facultativo
quando a oração subordinada antecede a principal.
IV. As vírgulas presentes no trecho a seguir justificam-se
por separarem elementos de mesma função
sintática: “O homem foi o único animal capaz de criar
diferentes modos de vida, distintas civilizações, de
se adaptar a todos os habitats oferecidos pela
natureza, além de ser o único animal a produzir
história”.