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Prova Marinha - 2020 - EFOMM - Oficial da Marinha Mercante - Primeiro Dia


ID
5086384
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Development of world's first autonomous, zeroemission feeder postponed amid COVID-19 crisis


        Due to the COVID-19 pandemic and the changed global outlook, the development of the world's first autonomous and electric container vessel Yara Birkeland is put on hold, Norwegian company Yara announced.
        Yara has decided to pause further development of the vessel and will assess next steps together with its partners, the company stated. The hull of the Yara Birkeland vessel was launched to sea in Romania in February 2020. The ship is expected to arrive at the Norwegian shipyard in May where it will be fitted with various control and navigation systems and undergo testing before delivery to Yara.
       Yara and technology company Kongsberg teamed up in 2017 with the ambition to build the world's first autonomous and zero-emission container vessel.
        Replacing 40,000 truck journeys a year, Yara Birkeland seeks to reduce NOx and CO2 emissions and improve road safety in a densely populated urban area in Norway.

(Adapted from: https://safety4sea.com)

According to the article:

Alternativas
Comentários
  • Podemos usar nessa questão, a estratégia de leitura selectivity, a qual  selecionamos apenas o trecho necessário do conteúdo para encontrar a informação, por meio do uso de palavras-chave, palavras cognatas e um vocabulário específico.

    De acordo com o artigo:
    A) A pandemia Covid-19 exigia o desenvolvimento do primeiro alimentador de containers autônomo e de emissão zero do mundo. Errado. Devido à pandemia o desenvolvimento foi suspenso, confome lemos nas primeiras linhas.  Due to the COVID-19 pandemic and the changed global outlook, the development of the world's first autonomous and electric container vessel Yara Birkeland is put on hold, [...]Devido à pandemia de COVID-19 e à mudança no panorama global, o desenvolvimento do primeiro navio de contêineres autônomo e elétrico do mundo, Yara Birkeland, está suspenso,[...]
    B) A empresa norueguesa Yara emitiu um comunicado sobre o lançamento de uma nova embarcação totalmente tripulada. Errado. A empresa anunciou a suspensão do lançamento. Devido à pandemia o desenvolvimento foi suspenso, confome primeiras linhas.  Due to the COVID-19 pandemic and the changed global outlook, the development of the world's first autonomous and electric container vessel Yara Birkeland is put on hold, Norwegian company Yara announced. Devido à pandemia de COVID-19 e à mudança no panorama global, o desenvolvimento do primeiro navio de contêineres autônomo e elétrico do mundo, Yara Birkeland, está suspenso, anunciou a empresa norueguesa Yara.
    C) Embarcações não tripuladas podem reduzir a descarga de ar poluído e gases de efeito estufa. Certo. Replacing 40,000 truck journeys a year, Yara Birkeland seeks to reduce NOx and CO2 emissions and improve road safety in a densely populated urban area in Norway. Substituindo 40.000 viagens de caminhão por ano, Yara Birkeland busca reduzir as emissões de NOx e CO2 e melhorar a segurança no trânsito em uma área urbana densamente povoada na Noruega.
    D) A empresa de tecnologia Yara e Kongsberg se separou devido ao surto de vírus. Errado. Elas se uniram para construir o primeiro navio alimentador de containers autônomo sem emissão de CO2. Yara and technology company Kongsberg teamed up in 2017 with the ambition to build the world's first autonomous and zero-emission container vessel.  Yara e a empresa de tecnologia Kongsberg se uniram em 2017 com a ambição de construir o primeiro navio de contêineres autônomo e de emissão zero do mundo.
    E) Alimentadores autônomos e de emissão zero são navios de salvamento que podem armazenar o nível de poluentes. Errado. São navios  contêiners totalmente elétricos e autônomos e que não produzem emissões [...] the development of the world's first autonomous and electric container vessel [...] o desenvolvimento do primeiro navio de contêineres autônomo e elétrico do mundo,[...]
    Gabarito do Professor: Letra C.

ID
5086387
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Development of world's first autonomous, zeroemission feeder postponed amid COVID-19 crisis


        Due to the COVID-19 pandemic and the changed global outlook, the development of the world's first autonomous and electric container vessel Yara Birkeland is put on hold, Norwegian company Yara announced.
        Yara has decided to pause further development of the vessel and will assess next steps together with its partners, the company stated. The hull of the Yara Birkeland vessel was launched to sea in Romania in February 2020. The ship is expected to arrive at the Norwegian shipyard in May where it will be fitted with various control and navigation systems and undergo testing before delivery to Yara.
       Yara and technology company Kongsberg teamed up in 2017 with the ambition to build the world's first autonomous and zero-emission container vessel.
        Replacing 40,000 truck journeys a year, Yara Birkeland seeks to reduce NOx and CO2 emissions and improve road safety in a densely populated urban area in Norway.

(Adapted from: https://safety4sea.com)

In "[... ] the world's first autonomous and electric container vessel Yara Birkeland is put on hold [... ].",the idiom in bold means:

Alternativas
Comentários
  • Put of= adiar

  • Em "[...] the world's first autonomous and electric container vessel Yara Birkeland is put on hold [...].", A expressão em negrito significa: 
    Os verbos frasais (phrasal verbs) são formados por um verbo e uma partícula (advérbios ou preposições). Essa partícula faz com que o sentido do verbo original possa mudar completamente. A melhor forma de aprendê-los é buscando compreendê-los como um todo e praticando. Veja os verbos dados nas alternativas. 

    A) Put away - guardar, arrumar, afastar
    B) Put about - colocar cerca de...
    C) Put off - adiar, protelar
    D) Put across  - transmitir, comunicar
    E) Put up - colocar, montar 

    Due to the COVID-19 pandemic and the changed global outlook, the development of the world's first autonomous and electric container vessel Yara Birkeland is put on hold, Norwegian company Yara announced.

    Tradução: Devido à pandemia COVID-19 e à mudança no panorama global, o desenvolvimento do primeiro navio de contêineres autônomo e elétrico do mundo, Yara Birkeland, está suspenso, (adiado) anunciou a empresa norueguesa Yara.
    "Put on hold" tem o mesmo significado de "put off". 

    Gabarito do Professor: Letra C.
  • o primeiro navio de contêineres autônomo e elétrico do mundo, Yara Birkeland, é colocado em espera

    Put off= adiado


ID
5086390
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Development of world's first autonomous, zeroemission feeder postponed amid COVID-19 crisis


        Due to the COVID-19 pandemic and the changed global outlook, the development of the world's first autonomous and electric container vessel Yara Birkeland is put on hold, Norwegian company Yara announced.
        Yara has decided to pause further development of the vessel and will assess next steps together with its partners, the company stated. The hull of the Yara Birkeland vessel was launched to sea in Romania in February 2020. The ship is expected to arrive at the Norwegian shipyard in May where it will be fitted with various control and navigation systems and undergo testing before delivery to Yara.
       Yara and technology company Kongsberg teamed up in 2017 with the ambition to build the world's first autonomous and zero-emission container vessel.
        Replacing 40,000 truck journeys a year, Yara Birkeland seeks to reduce NOx and CO2 emissions and improve road safety in a densely populated urban area in Norway.

(Adapted from: https://safety4sea.com)

Which statements are TRUE about the article?


I-The pandemic forestalled additional improvement ofthe feeder vessel.

II-The ship will enable a depletion of road freight and road hazards.

III-The vessel will be scrapped straight away.

IV-The Norwegian shipyard went bankrupt due to the changed global outlook.

V-The ship will be fitted with outdated controls and navigation systems.

Alternativas
Comentários
  • A dica para interpretação dessa questão é a estratégia de leitura selectivity, a qual  selecionamos apenas o trecho necessário do conteúdo para encontrar a informação, por meio do uso de palavras-chave, palavras cognatas e um vocabulário específico.
    Quais afirmações são VERDADEIRAS de acordo com o artigo?
    I-A pandemia evitou melhorias adicionais do navio alimentador. Correto. O desenvolvimento do navio está suspenso. Yara has decided to pause further development of the vessel and will assess next steps together with its partners, the company stated. Yara decidiu interromper o desenvolvimento do navio e avaliará os próximos passos junto aos seus parceiros, afirmou a empresa.
    II-O navio possibilitará o redução do frete rodoviário e dos perigos rodoviários. Correto. O navio substituirá viagens nas rodovias.  Replacing 40,000 truck journeys a year, Yara Birkeland seeks to reduce NOx and CO2 emissions and improve road safety in a densely populated urban area in Norway.Substituindo 40.000 viagens de caminhão por ano, Yara Birkeland busca reduzir as emissões de NOx e CO2 e melhorar a segurança no trânsito em uma área urbana densamente povoada na Noruega.
    III- o navio será descartado imediatamente. Errado. Ele estará no estaleiro.The ship is expected to arrive at the Norwegian shipyard in May where it will be fitted with various control and navigation systems and undergo testing before delivery to Yara. O navio deve chegar ao estaleiro norueguês em maio, onde será equipado com vários sistemas de controle e navegação e será submetido a testes antes da entrega à Yara.
    IV-O estaleiro norueguês foi à falência devido à mudança no panorama global. Errado. O trecho que menciona o estaleiro, não diz que foi à falência. The ship is expected to arrive at the Norwegian shipyard in May where it will be fitted with various control and navigation systems and undergo testing before delivery to Yara. O navio deve chegar ao estaleiro norueguês em maio, onde será equipado com vários sistemas de controle e navegação e será submetido a testes antes da entrega à Yara.
    V-O navio será equipado com controles e sistemas de navegação desatualizados. Errado. Ele será equipado com vários sistemas de controle e navegação. The ship is expected to arrive at the Norwegian shipyard in May where it will be fitted with various control and navigation systems and undergo testing before delivery to Yara. O navio deve chegar ao estaleiro norueguês em maio, onde será equipado com vários sistemas de controle e navegação e será submetido a testes antes da entrega à Yara.
    Gabarito do Professor: Letra E.

ID
5086393
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Passenger ship hits rock

        A passenger ship was inbound in daylight and fair visibility. The Master gave the Pilot a briefing regarding the ship's manoeuvring characteristics; the ship was highly manoeuvrable and would 'turn on a dirne,' he said. The Master told the Pilot that a three-degree helm order would create a rate of turn of 10-15 degrees per minute.
      The bridge team would consist of the Pilot at the con while the Master would bave overall navigational conunand. The staff captain would be in charge of communications while the first officer would be in charge of electronic navigation and collision avoidance. Finally, the second officer would be in charge of plotting the ship's position on the navigational chart,
        The Pilot and the . Master discussed and agreed the intended passage plan, noting a strong flood tide that would be running astern. However, the subsequent investigation found that, due to miscommunication during the exchange, the passage inwards began with the Master and Pilot having different understandings of how the first turn would be conducted.
        The ship was lined up with the leading navigation lights and entered the channel without incident. As the Pilot took the con, the Master brief ed the staff captain on the Master/ Pilot exchange and explained his understanding of how they were going to negotiate the tum to port. The rest of the bridge team were not included in this conversation and essentially relied on what they overheard.
        Under the Pilot's con, the first alteration of course to port was initiated using three degrees of port helm. At this time the vessel had a speed over ground (SOG) of nearly 18 knots. The initial helm order was followed by successive increases to five and then 10 degrees of rudder.
        About one minute after the initial three degree port helm order an offtrack: alarm flashed 011 the ECDIS, but this information was not brought to the attention of the Master or the Pilot. The alarm appeared only as a visual indicator on the radar screen because its audio had been muted prior to the ship entering the channel.
        Even so, the Master and Pilot soon realised that the ship was proceeding dangerously close to a known rock shoal, so 20 degrees of port rudder was ordered, immediately foll owed by maximum port rudder.
        About three minutes after the initial helm order of three degrees, and despite the emergency helm order, the ship's bilge keel and the starboard propeller made contact with the rock as the ship passed.
        The ship was then navigated back to the centre of the channel and continued on its passage to port without further incident.
        The official report on this accident discusses the concept of allowing a ship to depart from an intended track in the belief that other influences, such as tide in this case, would return the ship to the intended track. The report notes that this carries a high risk when manoeuvring large ships in narrow waterways, where margins for error are small. The report posits that there is less risk when a ship is kept strictly to the intended track by increasing or decreasing its rate of tum inresponse to the external influences such as tide and wind. This method has the advantage of being unambiguous for other members of the bridge team tasked with monitoring the progress of the ship against the planned track.


(Adapted from: https://steamshipmutual.com)

It is possible to infer from the text that:

Alternativas
Comentários
  • A dica para interpretação dessa questão é a estratégia de leitura selectivity, a qual  selecionamos apenas o trecho necessário do conteúdo para encontrar a informação, por meio do uso de palavras-chave, palavras cognatas e um vocabulário específico.
    É possível inferir do texto que:
     
    A) Tanto o responsável (Comandante) pelo navio quanto o piloto concordaram no planejamento da viagem desde o início. Correto. Terceiro parágrafo. The Pilot and the  Master discussed and agreed the intended passage plan, noting a strong flood tide[...] O piloto e o Comandante discutiram e concordaram com o plano de navegação, observando uma forte maré[...]
    B) O navio de passageiros  estava completamente parado. Errado. O navio se movia. Even so, the Master and Pilot soon realised that the ship was proceeding dangerously close to a known rock shoal,[...] Mesmo assim, o Comandante e o Piloto logo perceberam que o navio se movia perigosamente próximo a um conhecido banco de rocha[...]
    C) Apesar de ser altamente manobrável, o navio teria problemas para mudar de direção muito rapidamente em um espaço muito pequeno. Errado. The Master gave the Pilot a briefing regarding the ship's manoeuvring characteristics; the ship was highly manoeuvrable and would 'turn on a dirne,[...] O Comandante fez um briefing com o Piloto sobre as características de manobra do navio; o navio era altamente manobrável e 'mudava de direção quase instantaneamente',[...]
    D) Devido a um banco de rochas, o navio encalhou. Errado. Ele passou pelo banco de rochas.About three minutes after the initial helm order of three degrees, and despite the emergency helm order, the ship's bilge keel and the starboard propeller made contact with the rock as the ship passed. Cerca de três minutos após a ordem inicial do leme de três graus, e apesar da ordem de emergência do leme, a quilha do porão do navio e a hélice de estibordo fizeram contato com a rocha quando o navio passou.
    E) As luzes de navegação estavam apagadas, embora o navio estivesse mantendo o rastreamento. Errado. The ship was lined up with the leading navigation lights and entered the channel without incident. O navio foi alinhado com as luzes de navegação principais e entrou no canal sem incidentes.
    Gabarito do Professor: Letra A.

ID
5086396
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Passenger ship hits rock

        A passenger ship was inbound in daylight and fair visibility. The Master gave the Pilot a briefing regarding the ship's manoeuvring characteristics; the ship was highly manoeuvrable and would 'turn on a dirne,' he said. The Master told the Pilot that a three-degree helm order would create a rate of turn of 10-15 degrees per minute.
      The bridge team would consist of the Pilot at the con while the Master would bave overall navigational conunand. The staff captain would be in charge of communications while the first officer would be in charge of electronic navigation and collision avoidance. Finally, the second officer would be in charge of plotting the ship's position on the navigational chart,
        The Pilot and the . Master discussed and agreed the intended passage plan, noting a strong flood tide that would be running astern. However, the subsequent investigation found that, due to miscommunication during the exchange, the passage inwards began with the Master and Pilot having different understandings of how the first turn would be conducted.
        The ship was lined up with the leading navigation lights and entered the channel without incident. As the Pilot took the con, the Master brief ed the staff captain on the Master/ Pilot exchange and explained his understanding of how they were going to negotiate the tum to port. The rest of the bridge team were not included in this conversation and essentially relied on what they overheard.
        Under the Pilot's con, the first alteration of course to port was initiated using three degrees of port helm. At this time the vessel had a speed over ground (SOG) of nearly 18 knots. The initial helm order was followed by successive increases to five and then 10 degrees of rudder.
        About one minute after the initial three degree port helm order an offtrack: alarm flashed 011 the ECDIS, but this information was not brought to the attention of the Master or the Pilot. The alarm appeared only as a visual indicator on the radar screen because its audio had been muted prior to the ship entering the channel.
        Even so, the Master and Pilot soon realised that the ship was proceeding dangerously close to a known rock shoal, so 20 degrees of port rudder was ordered, immediately foll owed by maximum port rudder.
        About three minutes after the initial helm order of three degrees, and despite the emergency helm order, the ship's bilge keel and the starboard propeller made contact with the rock as the ship passed.
        The ship was then navigated back to the centre of the channel and continued on its passage to port without further incident.
        The official report on this accident discusses the concept of allowing a ship to depart from an intended track in the belief that other influences, such as tide in this case, would return the ship to the intended track. The report notes that this carries a high risk when manoeuvring large ships in narrow waterways, where margins for error are small. The report posits that there is less risk when a ship is kept strictly to the intended track by increasing or decreasing its rate of tum inresponse to the external influences such as tide and wind. This method has the advantage of being unambiguous for other members of the bridge team tasked with monitoring the progress of the ship against the planned track.


(Adapted from: https://steamshipmutual.com)

Mark the option that is TRUE about the text.

Alternativas
Comentários
  • A dica para interpretação dessa questão é a estratégia de leitura selectivity, a qual  selecionamos apenas o trecho necessário do conteúdo para encontrar a informação, por meio do uso de palavras-chave, palavras cognatas e um vocabulário específico.

    Marque a opção que é VERDADEIRA sobre o texto.

    A) Como o Comandante não detém o comando e as responsabilidades finais a bordo, o Piloto e o Capitão  assumem a navegação. 

    B) Depois de assumir as funções de navegação, o Piloto deu instruções ao Capitão sobre a troca de Comandante.

    C) Tanto o Piloto quanto o Capitão tomaram o sinal de desvio como garantido quando ele disparou o ECDIS.

    D) Os alarmes sonoros e visuais de emergência foram silenciados quando a embarcação entrou no canal. 

    E) Tanto o Comandante quanto o Piloto descobriram que a embarcação corria risco e decidiram evitar isso imediatamente.
    O sétimo parágrafo nos mostra que tanto o Comandante quanto o Piloto descobriram que a embarcação corria risco e decidiram evitar isso imediatamente.

    Even so, the Master and Pilot soon realised that the ship was proceeding dangerously close to a known rock shoal, so 20 degrees of port rudder was ordered, immediately foll owed by maximum port rudder.
    Tradução: Mesmo assim, o Comandante e o Piloto logo perceberam que o navio se movia perigosamente próximo a um conhecido banco de rochas, então solicitaram 20 graus de leme de bombordo, imediatamente seguidos pelo leme de bombordo máximo.

    Gabarito do Professor: Letra E.

ID
5086402
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Choose the option with the correct prefixes to complete the sentences below.


I. Computing systems often deliberately _____ classify sensitive information.

II. Since then, every time I felt stressed, _____ aligned, or dissatisfied, I would refer back to them to get the source of my frustration." ·

III. My son-in-law was talking and acting in an ____ appropriate manner at the party.

IV. Crooks sometimes ____ run the police.

V. She had difficulty in writing anything but scribbles because she was ____ patient.

VI. Her latest article is quite ____ similar from the previous one.

Alternativas
Comentários
  • Escolha a opção com os prefixos corretos para completar as frases abaixo.


    Prefixo é uma forma de afixo (affix), ou seja, partículas que são adicionadas às palavras para modificá-las. Alguns com um significado particular e outros com um significado compartilhado. Alguns dão a ideia contra (antivirusantibiotic), outros de oposto (dislike, disable) etc...Para aprendê-los, devemos conhecer as estruturas gramaticais, bem como a extensão do seu vocabulário. Conhecendo a função e a ideia de cada um, fica mais fácil empregá-lo à palavra. 

    I. Computing systems often deliberately declassify sensitive information. (Os sistemas de computação muitas vezes desclassificam deliberadamente informações confidenciais.)

    II. Since then, every time I felt stressed, disaligned, or dissatisfied, I would refer back to them to get the source of my frustration." (Desde então, toda vez que me sentia estressado, desalinhado ou insatisfeito, consultava-os novamente para obter a fonte da minha frustração. ")

    III. My son-in-law was talking and acting in an inappropriate manner at the party. (Meu genro estava falando e agindo de maneira inadequada na festa.)

    IV. Crooks sometimes outrun the police. (Bandidos às vezes fogem da polícia.)

    V. She had difficulty in writing anything but scribbles because she was impatient. (Ela tinha dificuldade em escrever qualquer coisa além de rabiscos porque estava impaciente.)

    VI. Her latest article is quite dissimilar from the previous one. (Seu último artigo é bem diferente do anterior. )

    Gabarito do Professor: Letra A.


ID
5086405
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Choose the correct option.

Alternativas
Comentários
  • Escolha a opção correta.

    A) A number of serious accusations have been done against her.  Errado. A expressão não é formada pelo verbo "do" , mas sim pleo "make". A number of serious accusations have been made against her.

    B) Clara did an unexpected announcement this  mormng.  Errado. O correto é "make an announcement",  não "do an announcement". Clara made an unexpected announcement this  morning.

    C) A weekend in the countryside would do you good.  Correto. Usamos "do" para "ações boas ou ruims.
    Ex: do well -  I think I did pretty well in the interview. (Acho que me saí muito bem na entrevista.)
    do badly-  Everyone did badly on the test – the highest grade was 68. (Todos se saíram mal no teste - a nota mais alta foi 68.)
    do good - The non-profit organization has done a lot of good in the community. A organização sem fins lucrativos fez muito bem para a comunidade.

    D) He did wild claims about being able to predict the future. Errado usar "did wild claims". Para essa expressão, usamos "made", não "did".  He made wild claims about being able to predict the future. Ele fez afirmações absurdas sobre ser capaz de prever o futuro.

    E) She ought to do a will.  Errado usar a expressão "do a will". Nessa expressão, usamos "make a will"She ought to make a will. Ela deveria fazer um testamento.

    Gabarito do Professor: Letra C.


ID
5086408
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Choose the correct alternative to complete the paragraph below.


Charter, Sail, Repeat: new ventures and old favorites in the Greek Isles

By Zuzana Prochazka

On our first day, we sailed southwest nearly 50 miles 011 a nice beam reach, winding through Kolpos Idras, or the Hydra Gulf. By the end, we were running out ______ daylight, so we pulled ___ the miniscule harbor on Spetses Island. I read the guides twice, but the most I got was a warning about tl1e inner harbor being only 4ft deep, which made me suck in my stomach as we crept in. The harbor turned ______ to be a mix of private yachts, commercial boats and fishing craft, and as we were looking round I happened to notice black clouds _____ the horizon. The wind was also now picking _______, so out we went again, making a U-turn back to the bay to drop anchor with the other cruisers who'd opted to skip the draft headaches. We made it just before the gale overtook us.


(Adapted from: Sail Magazine,March 2020).

Alternativas
Comentários
  • Alguns verbos possuem suas próprias preposições. São os chamados "phrasal verbs" . 
    No texto a seguir, temos alguns espaços para preposições que compoêm os phrasal verbs e outro espaço com uma preposição comum.
    On our first day, we sailed southwest nearly 50 miles 011 a nice beam reach, winding through Kolpos Idras, or the Hydra Gulf. By the end, we were running out OF daylight, so we pulled INTO the miniscule harbor on Spetses Island. I read the guides twice, but the most I got was a warning about tl1e inner harbor being only 4ft deep, which made me suck in my stomach as we crept in. The harbor turned OUT to be a mix of private yachts, commercial boats and fishing craft, and as we were looking round I happened to notice black clouds ON the horizon. The wind was also now picking UP, so out we went again, making a U-turn back to the bay to drop anchor with the other cruisers who'd opted to skip the draft headaches. We made it just before the gale overtook us.
    Tradução: Em nosso primeiro dia, navegamos para o sudoeste quase 50 milhas 011, um bom alcance, serpenteando através de Kolpos Idras, ou Golfo Hydra. No final, estávamos ficando sem a luz do dia, então entramos no minúsculo porto da Ilha Spetses. Eu li os guias duas vezes, mas o máximo que recebi foi um aviso sobre o porto interno ter apenas 4 pés de profundidade, o que me fez engasgar enquanto entrávamos. O porto acabou sendo uma mistura de iates particulares, barcos comerciais e embarcação de pesca e, enquanto olhávamos em volta, percebi nuvens negras no horizonte. O vento também estava ficando mais forte, então saímos de novo, fazendo um retorno em U de volta à baía para lançar âncora com os outros cruzadores que optaram por evitar dores de cabeça. Conseguimos fazer isso um pouco antes do vendaval nos alcançar.
    Gabarito do Professor: Letra A.


ID
5086411
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Based on the passage below, mark the correct option.


By the end of our first two weeks in Holland, we had fallen head over heels for the country. It's a historic, visual, artistic and cultural feast that is compact and easy to get around thanks to its efficient trains, buses and bike routes.

(Adapted from: Sail Magazine, August 2018.)


Considering the previous passage, the underlined phrase 'head over heels' is closest in meaning to:

Alternativas
Comentários
  • Considerando a passagem, a frase sublinhada 'head over heels' tem o significado mais próximo de:
    A) Perplexo
    B) alegre
    C) À vontade
    D) Apaixonado
    E) Estupefato
    'head over heels' é uma expressão cuja tradução literal é  “de ponta cabeça“. Seu real significado é  “estar  apaixonado.
    By the end of our first two weeks in Holland, we had fallen head over heels for the country. It's a historic, visual, artistic and cultural feast that is compact and easy to get around thanks to its efficient trains, buses and bike routes.

    Tradução: Ao final de nossas primeiras duas semanas na Holanda, estávamos apaixonados pelo país. É uma festa histórica, visual, artística e cultural compacta e de fácil locomoção graças aos eficientes trens, ônibus e ciclovias.

    Gabarito do Professor: Letra D.



ID
5086414
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Mark the option which corresponds · to the grammatically correct sentences.


I - I gather you've had some problems with our secretary.

II - Are you having a headache?

III - Hadn't you better check to see if the baby is all right?

IV - She knows Jacob since 1981.

V - I'd rather to stay here than to go out tonight.

Alternativas
Comentários
  • Marque a opção que corresponde às frases gramaticalmente corretas.


    I - I gather you've had some problems with our secretary. Correta. A sentença não contém erros gramaticais. Suponho que você tenha tido alguns problemas com nossa secretária.
    II - Are you having a headache? Errada. Não podemos dizer, estou tendo uma dor de cabeça.  Se você tem uma dor de cabeça agora, você diz: I have a headache. 
    III - Hadn't you better check to see if the baby is all right? Correta. A sentença não contém erros gramaticais. Had better ('seria melhor que', 'é melhor que') é utilizado como um auxiliar de modo e vem sempre vai acompanhado de um verbo no infinitivo sem 'to': Não seria melhor você verificar se o bebê está bem?
    IV - She knows Jacob since 1981. Errada. Usamos o Present perfect para expressar uma ação que começou no passado e continua até o presente. A sentença correta seria: She has known Jacob since 1981. Ela conhece Jacob desde 1981.
    V - I'd rather to stay here than to go out tonight. Errada. Had better ('seria melhor que', 'é melhor que') é utilizado como um auxiliar de modo e vem sempre vai acompanhado de um verbo no infinitivo sem 'to':  I'd rather stay here than go out tonight. 
    Gabarito do Professor: Letra D.

ID
5086417
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Which is the correct alternative to complete the paragraph below?


Many ofthe same questions that ________ about coal-powered propulsion _______ of the Internet of Things (loT) today: What's wrong with the traditional way; how will this benefit my fleet; why do we need to malee this change? They _______ all good questions, and they ______ a very natural human interest in the three areas that should matter most in deciding whether to use any maritime technology: safety, effectiveness and cost. The biggest challenges to IoT adoption _______. In large part, this is due to the ready availability of high-performance data collection.

(Adapted from: Sea Technology, December 2018).

Alternativas
Comentários
  • Para completar com os tempos verbais corretos, faz-se necessário traduzir o texto para, assim, utilizá-los na forma correta.

    Muitas das mesmas perguntas que foram feitas sobre a propulsão movida a carvão estão sendo feitas à Internet das Coisas (loT) hoje: O que há de errado com a forma tradicional; como isso beneficiará minha frota; por que precisamos masculinizar essa mudança? Todas perguntas são boas e mostram um interesse humano muito natural nas três áreas que deveriam ser mais importantes na decisão de usar qualquer tecnologia marítima: segurança, eficácia e custo. Os maiores desafios para a adoção da IoT já foram superados. Em grande parte, isso se deve à pronta disponibilidade de coleta de dados de alto desempenho.

    Many ofthe same questions that were asked about coal-powered propulsion are being asked of the Internet of Things (loT) today: What's wrong with the traditional way; how will this benefit my fleet; why do we need to malee this change? They are all good questions, and they show a very natural human interest in the three areas that should matter most in deciding whether to use any maritime technology: safety, effectiveness and cost. The biggest challenges to IoT adoption have already been overcome. In large part, this is due to the ready availability of high-performance data collection.


    Gabarito do Professor: Letra E.
  • Tu mata a questão na 3 linha pra completar , o "are" é o que melhor se encaixa (são boas questões).


ID
5086420
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Choose the option that correctly completes the sentences below, respectively:


I - The journey was quite quick _______ the road was clear.

II - The meeting has been canceled _______ the strike.

III - I drove at a steady 50 mph ________ save fuel.

IV- There's no reason _______ we shouldn't be friends.

V- _______ all her qualifications, she's useless at the job.

Alternativas
Comentários
  • A questão requer conhecimento dos conectores (linking words) 

    A) devido a / devido a / de outra forma / na medida em que / a
    B) por causa de / a fim de que / fornecer que / a menos que / devido a
    C) devido a / devido a / portanto / para / em
    D) como / porque / assim como / como de / apesar de
    E) porque / devido a / no sentido de, a fim de / por que / para, por apesar de
    I - The journey was quite quick because the road was clear. I - A viagem foi bem rápida porque o caminho estava livre.
    II - The meeting has been canceled owing to the strike. II - A reunião foi cancelada devido à greve.
    III - I drove at a steady 50 mph so as to save fuel. III - Eu dirigia a 80 km/h constantes a fim de economizar combustível.
    IV- There's no reason why we shouldn't be friends. IV- Não há motivo porque não sermos amigos.
    V- For all her qualifications, she's useless at the job. V- Apesar de todas as suas qualificações, ela é inútil no trabalho.
    Gabarito do Professor: Letra E.

ID
5086423
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Read the poem below and choose the correct answer.

SEA-FEVER

I must down to the seas again, to the lonely sea and the sky,
And all I ask is a tall ship and a star to steer her by,
And the wheel's kick and the wind's song and the
white sail's shaking,
And a grey mist on the sea's face and a grey dawn breaking.
I must down to the seas again, forthe call of the running tide
Is a wild call and a clear call that may not be denied;
And all I ask is a windy day with the white clouds flying,
And the flung spray and the blown spume, and the seagulls crying.
I must down to the seas again to the vagrant gypsy life,
To the gull's way and the whale's way where the wind's like a whetted knife;
And all I ask is a merry yarn from a laughing fellow-rover,
And quiet sleep and a sweet dream when the long
trick's over.


By John Masefield (1878-1967)

According to the text:

Alternativas
Comentários
  • De acordo com o texto:
    A) O título se refere a uma doença que pode ser comum durante o trabalho a bordo de navios no mar.
    B) As gaivotas estão chorando por causa da espuma e dos borrifos lançados.
    C) A voz do poema tem um forte desejo de ouvir uma história de um marinheiro.
    D) A faca afiada servirá para cortar gaivotas e baleias como o vento.
    E) A voz do poema quer ter uma incrível aventura no mar navegando em um tempo muito ruim.
    Durante o poema percebemos que o autor quer ouvir uma história de um marinheiro, e isso fica explícito em algumas estrofes, principalmente nas últimas. 
    I must down to the seas again, to the lonely sea and the sky, And all I ask is a tall ship and a star to steer her by, (Devo descer para os mares novamente, para o mar solitário e o céu, E tudo que peço é um navio alto e uma estrela para guiá-lo,)
    And all I ask is a merry yarn from a laughing fellow-rover, (E tudo que peço é uma história alegre de um  companheiro,)

    Gabarito do Professor: Letra C.



ID
5086432
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Confluence of Cultures

        A professional involved in a merchant marine career gets to meet and mingle with people of different cultures and nationalities. This helps the individual to understand and function better as a team player and learn the nuances of different cultures and traditions at the same time. This automatically increases adaptability and brings about more awareness about what goes and what doesn't in a different country.

(From: https://www .marineinsi ght. com/careers-2/10-reasonswhy-a-career-in-merchant-navy-ís-unl ike-any-other-career/)

Which word DOES NOT follow the same plural rule applied to the word "nationalities" in the text?

Alternativas
Comentários
  • Qual palavra NÃO segue a mesma regra de plural aplicada à palavra "nationalities" no texto?

    O plural de palavras que terminam com "y", faz-se da seguinte forma:
    Se o "y" for precedido por uma vogal, apenas colocamos "s" para formar o plural. BOY - BOYS / DELAY - DELAYS
    Caso a palvra seja precedida de uma consoante, então, trocamos o "y" por "i" e acrescentamos "es".
    ENEMY - ENEMIES / ACTIVITY - ACTIVITIES / COUNTRY - COUNTRIES / THEORY - THEORIES
    Gabarito do Professor: Letra E.
  • Gabarito (E)

    "Qual palavra NÃO segue a mesma regra de plural aplicada à palavra 'nationalities' no texto?"

    Terminado por -y:

    • Se precedido de consoante, retira-se o -y e acrescenta-se -ies.

    Enemy - enemies

    Activity - activities

    Country - countries

    Theory - theories

    • Se precedido de vogal, acréscimo do -s

    Delay - dalays

    Bons estudos!

  • "Qual palavra NÃO segue a mesma regra de plural aplicada à palavra 'nationalities' no texto?"

    Terminado por -y:

    • Se precedido de consoante, retira-se o -y e acrescenta-se -ies

    exemplo:city – cities

    puppy – puppies

    Enemy - enemies

    Activity - activities

    Country - countries

    Theory - theories

    • Se precedido de vogal, acréscimo do -s

    exemplo:ray – rays

    boy – boys

    Delay - dalays

  • Enemy - ENEMIES

    Activity - ACTIVITIES

    Country - COUNTRIES

    Theory - THEORIES

    Delay - DELAYS


ID
5086435
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

Confluence of Cultures

        A professional involved in a merchant marine career gets to meet and mingle with people of different cultures and nationalities. This helps the individual to understand and function better as a team player and learn the nuances of different cultures and traditions at the same time. This automatically increases adaptability and brings about more awareness about what goes and what doesn't in a different country.

(From: https://www .marineinsi ght. com/careers-2/10-reasonswhy-a-career-in-merchant-navy-ís-unl ike-any-other-career/)

According to the text:

Alternativas
Comentários
  • Podemos usar nessa questão, a estratégia de leitura selectivity, a qual  selecionamos apenas o trecho necessário do conteúdo para encontrar a informação, por meio do uso de palavras-chave, palavras cognatas e um vocabulário específico.
    De acordo com o texto:
    A) A comunicação entre colegas de trabalho fornece um entendimento melhor sobre seus modos de vida.
    B) A interação com pessoas de várias culturas aprimora a habilidade profissional.
    C) Por serem expostos a diferentes culturas, trabalhadores. acabam sendo profissionais severos.
    D) O conhecimento obtido no contato com estrangeiros afeta a qualidade de vida do profissional.
    E) O comportamento adequado desse profissional é um requisito para a comunicação no exterior.
    Nas primeiras linhas fica claro que a convivência e interação com diferentes culturas, aperfeiçoa as habilidades profissionais.
    A professional involved in a merchant marine career gets to meet and mingle with people of different cultures and nationalities. This helps the individual to understand and function better as a team player and learn the nuances of different cultures and traditions at the same time.

    Tradução: Um profissional que segue a carreira da marinha mercante conhece e convive com pessoas de diferentes culturas e nacionalidades. Isso ajuda o indivíduo a compreender e trabalhar melhor em equipe e aprender as nuances de diferentes culturas e tradições ao mesmo tempo.
    Gabarito do Professor: Letra B.

ID
5086438
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

MARITIME ACCIDENTS

Accidents on Tugboats

    Tugboats are those which help move huge ships to enter docks. They are small in nature but are powerful to ensure that the large vessels are handled safely. But sometimes because of the blockage of the visibility of tugboats by the larger vessels, maritime accidents occur. Also, human error on the part of the pilot of the tugboat can also lead to unwanted and unexpected tugboat mishaps.

Accidents on Oil Tankers
    The major cause of accidents on tankers is explosions. Since the very nature of the materials . these tankers transport is dangerous and highly flammable, even the most minor of explosions can cause enormous losses. According to statistics, one of the main reasons for oil tanker accidents occurring is because of workers' negligence - nearly 84-88%. 


(Adapted from: https://www .maríneinsight.com/marinesafety/12-types-of~maritime-accidents/)

Read the statements below and decide whether they are TRUE (T) or FALSE (F). Then choose the option that contains the correct answer.


I. Maritime accidents can be caused by human failure.

II. Size of vessels does not imply maritime accidents.

III. Maritime accidents sometimes occur at dock entrances.

IV. Lack of visibility is one of the causes of maritime accidents.

V. Explosions represent a small percentage in tanker accidents.

Alternativas
Comentários
  • Podemos usar nessa questão, a estratégia de leitura selectivity, a qual  selecionamos apenas o trecho necessário do conteúdo para encontrar a informação, por meio do uso de palavras-chave, palavras cognatas e um vocabulário específico.
    Leia as afirmações abaixo e decida se são VERDADEIRAS (V) ou FALSAS (F). Em seguida, escolha a opção que contém a resposta correta.
    As respostas estão bastante claras nos excertos.

    I. Os acidentes marítimos podem ser causados por falha humana. Correto. Also, human error on the part of the pilot of the tugboat can also lead to unwanted and unexpected [...] Além disso, o erro humano por parte do piloto do rebocador também pode levar a acidentes indesejáveis[...]
    II.O tamanho dos navios não influencia os acidentes marítimos. Errado. But sometimes because of the blockage of the visibility of tugboats by the larger vessels, maritime accidents occur. Mas às vezes por causa do bloqueio da visibilidade dos rebocadores pelas embarcações maiores, ocorrem acidentes marítimos.
    III. Acidentes marítimos às vezes ocorrem nas entradas das docas. Errado. Os navios entram sem problemas nas docas. Tugboats are those which help move huge ships to enter docks. Os rebocadores são aqueles que ajudam a mover grandes navios para entrar nas docas.
    IV. A falta de visibilidade é uma das causas dos acidentes marítimos. Correto. But sometimes because of the blockage of the visibility of tugboats by the larger vessels, maritime accidents occur. Mas às vezes por causa do bloqueio da visibilidade dos rebocadores pelas embarcações maiores, ocorrem acidentes marítimos.
    V. As explosões representam uma pequena porcentagem nos acidentes com petroleiros. Errado. A porcentagem não é pequena. The major cause of accidents on tankers is explosions.  A principal causa de acidentes com petroleiros são as explosões.

    Gabarito do Professor: Letra B.

  • para os não assinantes: gabarito B

  • I- Verdadeira,

    ''Also, human error on the part of the pilot of the tugboat can also lead to unwanted and unexpected tugboat mishaps.''

    II- Falsa,

    ''But sometimes because of the blockage of the visibility of tugboats by the larger vessels, maritime accidents occur.''

    III- Falsa,

    '' Tugboats are those which help move huge ships to enter docks. ''.

    IV- Verdadeira,

    '' blockage of the visibility''.

    V- Falsa,

    ''The major cause of accidents on tankers is explosions.''.


ID
5086441
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Inglês
Assuntos

MARITIME ACCIDENTS

Accidents on Tugboats

    Tugboats are those which help move huge ships to enter docks. They are small in nature but are powerful to ensure that the large vessels are handled safely. But sometimes because of the blockage of the visibility of tugboats by the larger vessels, maritime accidents occur. Also, human error on the part of the pilot of the tugboat can also lead to unwanted and unexpected tugboat mishaps.

Accidents on Oil Tankers
    The major cause of accidents on tankers is explosions. Since the very nature of the materials . these tankers transport is dangerous and highly flammable, even the most minor of explosions can cause enormous losses. According to statistics, one of the main reasons for oil tanker accidents occurring is because of workers' negligence - nearly 84-88%. 


(Adapted from: https://www .maríneinsight.com/marinesafety/12-types-of~maritime-accidents/)

In "Also, human error on the part of the pilot of the tugboat can also lead to unwanted and unexpected tugboat mishaps.", the word in bold expresses:

Alternativas
Comentários
  • Em "Also, human error on the part of the pilot of the tugboat can also lead to unwanted and unexpected tugboat mishaps.", a palavra em negrito expressa: 

    A) Obrigação
    B) Sugestão
    C) Proibição
    D) Possibilidade
    E) Permissão
    O modal verb CAN expressa, geralmente, habilidade, capacidade, permissão, pedido e possibilidade. 
    No trecho em questão, ele expressa uma possibilidade. 

    "Also, human error on the part of the pilot of the tugboat can also lead to unwanted and unexpected tugboat mishaps."
    Tradução: "Além disso, o erro humano por parte do piloto do rebocador também pode levar a acidentes indesejáveis e inesperados do rebocador. "
    Gabarito do Professor: Letra D.

  • Also, human error on the part of the pilot of the tugboat can also (tambem pode) lead to unwanted and unexpected tugboat mishaps.

    possibilidade (D)


ID
5086444
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Sobre o texto lido, podernos afirmar que

Alternativas
Comentários
  • GABARITO - D

    Muito bom cometário da professora!!!


ID
5086447
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

O cronista emprega urn tom irônico em. vários momentos da narrativa. Em que trecho abaixo isso NÃO acontece?

Alternativas
Comentários
  • Letra E)

    "Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim."

    Note que neste trecho ele está apenas narrando os fatos. Ao contrario dos demais trechos


ID
5086450
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

No texto lido, a existência de um burro morrendo na praça levou o cronista a escrever sobre o fato avistado porque

Alternativas
Comentários
  • Gabarito letra A.


ID
5086453
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Por meio da metáfora do burro, pode-se encontrar, na crônica lida, uma crítica aos indivíduos passivos diante do seu destino e que aceitam o que lhes é atribuído sem relutar. Tal referência pode ser observada nos trechos abaixo, EXCETO em:

Alternativas
Comentários

ID
5086456
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Qual frase empregada pelo narrador-personagem melhor resume sua reflexão sobre a natureza daquele animal morto na praça?

Alternativas
Comentários
  • a opção que demonstra a indiferença daquele animal, como os outros que também existem. B

ID
5086459
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção em que o termo burro é recuperado por meio de um hiperônimo.

Alternativas
Comentários
  • HIPERÔNIMO É TODA PALAVRA QUE POSSUI SENTIDO AMPLO, GERAL. ENQUANTO HIPÔNIMO É JUSTAMENTE O CONTRÁRIO, É A PALAVRA NA SUA ESPECIFICIDADE.

    ELETRODOMÉSTICO É HIPERÔNIMO DE MICRO-ONDAS QUE, POR SUA VEZ, É HIPÔNIMO.

    [HIPÔNIMO] UNIVERSIDADE → USP → INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR [HIPERÔNIMO];

    [HIPÔNIMO] FORD KA → AUTOMÓVEL → MEIO DE TRANSPORTE [HIPERÔNIMO]

    ASSERTATIVA: B


ID
5086462
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Observando os recursos estilísticos empregados no texto, há eufemismo em:

Alternativas
Comentários
  • GABA-A

    ---> Eufemismo é uma figura de linguagem que emprega termos mais agradáveis para suavizar uma expressão.

    • Eufemismo está intimamente ligado à maneira de como falar algo desagradável, ou seja, com mais delicadeza. Está ligado à suavização da fala.
  • Alguém mostra na A onde se encontra o eufemismo. Mas não identifiquei/

  • Vanessa Caroline, em campos mais largos e eternos, ou seja No paraíso, no céu etc.
  • Bateu as botas

  • "Em campos mais largos e eternos". estava para morte...

  • Em capins mais largos e eternos = juntou os cascos.

  • texto topzera até esqueci da questão


ID
5086465
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção em que o acento grave indicativo de crase NÃO é colocado por uma situação de " . regencia.

Alternativas
Comentários
  • Gab A- locução

  • Letra A : quinta-feira à tarde = locução adverbial.

  • LOCUÇÃO ADVERBIAL.

    GABARITO - A

  • Locução adverbial de tempo .

  • @PMMINAS #OTAVIO

    "TUDO POSSO NAQUELE QUE ME FORTALECE"

    Regência

    termo regido a palavra que depende de outra para obter sentido completo e de termo regente a palavra a que se subordina o termo regido.

    Regência verbal

    Chamamos de regência verbal a relação que se estabelece entre os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais). Os verbos podem ser intransitivos e transitivos.

    Regência nominal

    Chamamos de regência nominal o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome. Essa relação é sempre intermediada por uma preposição.

    FONTE: https://www.portugues.com.br/gramatica/nocoes-conceituais-regencia-regencia-nominal-.html


ID
5086468
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção em que se atribui ERRADAMENTE (entre parênteses) um sentido ao termo sublinhado.

Alternativas
Comentários
  • "O moral" significa estado de ânimo. Ex. O moral da tropa está baixo, precisamos melhorar as refeições e a divisão de fainas.

  • já diria a filósofa do século XX Gretchen "é bom para o moral"

  • A moral é o conjunto das normas de conduta ou os princípios que regem os bons costumes de uma sociedade e que são convencionados como válidos.

    O moral diz respeito ao ânimo, à disposição e ao estado de espírito das pessoas.

    GAB: C


ID
5086471
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção em que a classe gramatical da palavra sublinhada é diferente das demais.

Alternativas
Comentários
  • "Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando."

    Os - Artigo

    Olhos - Substantivo

    Meio - Adverbio

    mortos - adjetivo (sem vida)

    as outras alternativas são substantivos (observe que elas possuem artigo que as antecedem)

  • MORTOS É ADJETIVO

    O RESTANTE É SUBSTANTIVO

  • Cara eu ia marca o primeiro porém como sou teimoso acabei me sabotando sabia que a A era adjetivo.

  • Pensador não seria a característica do bur** ??

  • GABARITO LETRA A


ID
5086474
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção em que a palavra sublinhada é um pronome pessoal.

Alternativas
Comentários
  • Aquele que está próximo do verbo.

    alt C

  • https://www.youtube.com/watch?v=n_ZbbI-IXKI Resolução no minuto 51:30.

  • Os pronomes pessoais servem para substituir substantivos.

    A alternativa certa é a letra C

    "o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário"

    pois "o" na oração está substituindo a palavra "Pensamento" e exercendo a função de complemento verbal

    "o" se trata de um pronome pessoal oblíquo átono da 3ª pessoa do singular.

  • *ADENDO*

    Algumas pessoas, ao resolver essa questão, provavelmente ficam em dúvida entre a acertiva "A" e a "C"; na alternativa "A" se trata de um Pronome Demonstrativo, pois o "o " pode ser substituído pelo "isso": "Diga-se a verdade; não fez isso..."

  • GABARITO - C

    "O" retoma pensamento....Pronome Substantivo...

    Pronome Substantivo: Substitui

    Pronome adjetivo: Acompanha

    Parabéns! Você acertou!


ID
5086477
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção em que se encontra um predicado verbo-nominal.

Alternativas
Comentários
  • GAB D- Tem dois predicados- Contemplavam o cadáver( objeto direto) e espetáculo repugnante- outro predicado mas nominal

  • Predicado verbo-nominal apresenta dois núcleos.

    Um que indica ação

    Um que indica qualidade ou estado

  • Predicado verbo-nominal: é o que tem dois núcleos: o verbo da oração, necessariamente intransitivo ou transitivo, e o predicativo, que pode ser do sujeito ou de algum objeto.

  • a) "O lugar não era próprio para remanso de burr**."

    Errada, perceba a presença do verbo de ligação era o que faz com que ele se torne predicado nominal

    b) "Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava mn burr* deitado."

    Errada, também perceba a presença do verbo de ligação era o que faz com que ele se torne predicado nominal

    c) "Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno."

    Errada, aqui se trata de um predicado verbal

    d) "Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante [...]"

    Correta, perceba contemplavam é verbo VTD e espetáculo e repugnante é a característica do cadáver o que faz com quer essa assertiva seja sim um verbo-nominal

    e)"Por que se não investigará mais profundamente o moral do burr*?"

    Errada, se trata de predicado verbal

    Lembre se:

    • Predicado Nominal: Verbo de ligação + caracterização do suj
    • Predicado Verbal: Verbos VT ou VI

    VTN QCONCURSO NEM A PALAVRA BURR# PODE COLOCAR

  • GABARITO - D

    Na estrutura de um predicado verbo nominal temos:

    VERBO DE AÇÃO + PREDICATIVO

    "Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante [...]"

    Bons estudos!


ID
5086480
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção em que há uma locução expletiva.

Alternativas
Comentários
  • Expletiva: Partícula, palavra ou expressão desnecessária ao enunciado escrito, mas que confere ênfase à linguagem.

    Gabarito - C

  • LOCUÇÃO EXPLETIVA ------> SERVE PARA DAR ÊNFASE -------------> é que, será que, ...

    *****SE DEPOIS DO "QUE" DER PRA COLOCAR ISSO/ISTO NÃO É LOCUÇÃO EXPLETIVA*****

  • (C)

    Partícula expletiva ou de realce, isto é, quando for empregada para realce ou ênfase; sua retirada ou inserção não altera a sintaxe.

    • Ex.: Nós é que ligamos para a polícia
    • O pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário.

ID
5086483
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção ein que a presença de vírgula(s) se justifica por se tratar de um aposto.

Alternativas
Comentários
  • Aposto: termo de natureza explicativa que se refere a um antecedente. Opera separado por virgulas ou pausas equivalentes.

  • GABARITO - D

    "Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do b para espertá-lo [... ]"

    aposto é um termo que amplia, resume ou explica o conteúdo de outro termo.

    Aqui temos um aposto explicativo.

  • Aposto

    É um termo que amplia, explica, desenvolve ou resume o conteúdo de outro termo.

    O aposto classifica-se em:

    I – explicativo: Raquel, contadora da firma, está viajando. Só queria algo: apoio. Um trabalho – tua monografia – foi premiado. Obs.: O aposto explicativo pode vir com vírgulas, travessões, parênteses ou dois-pontos.

    II - enumerativo ou distributivo: Ganhei dois presentes: uma joia especial e um livro raro. Suas reivindicações incluíam muitas coisas: melhor salário, melhores condições de trabalho, assistência médica extensiva a familiares. Obs.: O aposto enumerativo é antecedido por dois-pontos.

    III - resumitivo ou recapitulativo: Glória, poder, dinheiro, tudo passa. Obs.: O sujeito composto “glória, dinheiro, poder” é resumido pelo pronome indefinido tudo. É termo também antecedido de vírgula.

    IV - especificativo ou apelativo: O compositor Chico Buarque é também um excelente escritor. O estado é cortado pelo rio São Francisco. O aposto especificativo, que não pede sinais de pontuação, indica o nome de alguém ou algo dito anteriormente.

    Observação: O aposto também pode se referir a uma oração: Esforcei-me bastante, o que causou muita alegria em todos. Obs.: Palavras como o, coisa, fato etc. podem referir-se a toda uma oração.

  • Por que não pode ser a alternativa A??

  • creio que pra tentar achar a questão do aposto, pode tentar deslocar o termo (mas n sei se funciona pra todas) e se ao deslocar perder um pouco de sentido é porq faz função de aposto...

    tente deslocar "menino de dez anos" q faz referência a "um deles" fica estranho.

    Agora, na letra E, se deslocar "parados" não perde o sentido, mas pode gerar ambiguidade, por esse motivo "parados" foi deslocado (creio eu).

    Ayrton Senna, piloto de fórmula 1, era bem conhecido.

    Ayrton Senna era bem conhecido piloto de fórmula 1.

  • Por que não pode ser a alternativa A??

  • Não pode ser a alternativa A por que é um advérbio de tempo

  • a) "Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica."

    Errada, aqui se trata de um adj adverbial de tempo

    b) "Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando."

    Errada, Aqui tem vírgula porque ele foi deslocado mas não se trata de um aposto

    c) "O burr& não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capms e outras águas, em campos mais largos e eternos."

    Errada, perceba que ele não fez nenhuma coisa nem outra isso se caracteriza por ser uma conjunção aditiva ele nem comeu capim e nem bebeu água, caso você não lembra se perceba que não dá ideia de explicação por tanto não se trata de aposto

    d) "Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burr# para espertá-lo [... ]"

    Correta, perceba que eu tou especificando quem era um deles que no caso é o menino de dez anos portanto isso sim caracteriza um aposto, portanto letra D

    e) "Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver [... ]"

    Errada, parados é o modo de como eles estavam portanto adj adv de modo

  • Aposto é um termo que se junta a outro de valor substantivo ou pronominal para explicá-lo ou especificá-lo melhor. Vem separado dos demais termos da oração por vírgula, dois-pontos ou travessão.

    Por Exemplo:

    Ontem, segunda-feira, passei o dia com dor de cabeça.

    Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo ontem. Dizemos que o aposto é sintaticamente equivalente ao termo a que se relaciona porque poderia substituí-lo. Veja:

    Segunda-feira passei o dia com dor de cabeça.

  • Para quem está na dúvida, a alternativa E Parados não é advérbio de modo e sim predicativo do sujeito, pois advérbio só funciona para(verbo, adjetivo e advérbio) no caso ali é um substantivo." dois meninos parados contemplavam o cadaver( eles estavam parados e contemplavam o cadaver).


ID
5086486
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção em que o pronome pessoal sublinhado é o sujeito da oração.

Alternativas
Comentários
  • O gabarito da questão é a letra D!

  • Letra D

    Motivo:

    fez-me ver que os que ficavam

    Me fez vencer

    o Fez refere-se diretamente ao ME

    que é o sujeito

  • Sujeito: Todo e qualquer sentença ou expressão que se refira DIRETAMENTE AO VERBO.

    ..Fez-me ver...

    FEZ se refere DIRETAMENTE a ME

    Gab: D

  • Com certeza terá uma questão parecida dessa na prep 2022

    a) "Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos."

    Errada, esse ME ai se trata de um O.I pq perceba o verbo fazer é VTDI pq quem faz faz algo a alguém se pergunte Pareceu fazer o que? A descoberta; A quem ? A mim ( Esse A mim é como se fosse o ME ali)

    b) "Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burr& [... ]"

    Errada, o verbo dizer é VTDI portanto o ME é O.I se pergunte a Própria reflexão diz o que? Que não havendo nenhuma revolução declaro os direitos do burr&...; A reflexão diz isso a quem? A mim ( Esse A mim funciona como ME)

    C) "Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burr* tão bom pensador ia morrer."

    Errada, O.D reflexivo porque o próprio suj sofre e pratica a ação

    d) "A consideração, porém, de que todos os burr*s devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam, não seriam menos exemplares do que esse."

    Correta, Presta atenção que agora vem Bizu toda vez que tiver ME + Infinitivo substitua por Fez Eu.... Caso funcione é pq ele é Suj , perceba vou subst na frase "Fez Eu ver que os que ficavam...." Percebe que ainda manteve o sentido portanto é Suj pq tem ali a presença do EU, geralmente quanto tem ME + infinitivo funciona com suj porém subst para ter a certeza pq sempre tem exceções no portg :(

    e) "Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém."

    Errada, Não entendiam a Mim mesmo se trata de O.D.Preposicionado Se pergunte não entendia o que? A mim mesmo

    @maurofilho87

  • Questão díficil, eu troquei o "ME" por "EU" e só encaixou na D

    "EU" só pode ser sujeito na oração


ID
5086489
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção em que o termo sublinhado é um elemento de coesão, sem cumprir função sintática.

Alternativas
Comentários
  • GAB A- PARTICULA DE REALCE- SÓ TIRAR QUE NÃO MUDA NADA NA FRASE

  • Gabarito letra A. Mas não se trata de partícula de realce.

    Todos os outros são pronomes relativos, portanto, possuem função sintática!

  • GABARITO LETRA A

    Preposição e conjunção não possuem função sintática, são elementos de ligação. Esta de termos ou orações, aquela de palavras. Partícula de realce também não possui função sintática apenas REALÇA o SENTIDO, enfatiza.

    (A) conjuntiva adverbial consecutiva: (Tão) ... Que

    (B) pronome relativo exercendo função sintática de sujeito

    (C) pronome relativo exercendo função sintática de sujeito

    (D) pronome relativo exercendo função sintática de objeto direto

    (E) pronome relativo exerce função sintática de sujeito

  • Particula expletiva se removida não altera nada no entendimento ou no sentido do texto. Só serve de realce. Portanto, assetiva A é incorreta. Resposta letra A.

  • não é partícula expletiva nada, é conjunção consecutiva! e nenhuma conjunção tem função sintática.

  • Lembrem-se pessoal, depois do TESÃO vem a CONSEQUENCIA.

    Conjunção consecutiva


ID
5086492
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

"Releve a importância; os gostos não são iguais."


Fazendo uso de um conectivo para ligar as orações acima, qual destes explicitaria CORRETAMENTE a relação de sentido que se estabelece entre as orações?

Alternativas
Comentários
  • GAB B-PORQUANTO É CAUSAL

  • Oração coordenada explicativa.

    Não tem uma ação para gerar uma reação. Tem-se um conselho sendo explicado em seguida.

  • Acho que lendo o parágrafo e entendendo o contexto fica melhor de acertar a questão. " Relevar a importância que cada um dá para os assuntos, pois os gostos não são iguais.
  • leiam o texto, fica melhor para entender e interpretar a alternativa correta.


ID
5086495
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção em que a classe gramatical da palavra sublinhada foi analisada entre parênteses CORRETAMENTE.

Alternativas
Comentários
  • a- adjetivo

    b- (aqui não tem nada sublinhado, mas também não tem nenhum numeral na frase, "última" é adjetivo)

    c- adverbio de modo (=rapidamente)

    d- conjunção temporal (=durante o tempo que)

    e- pronome pessoal oblíquo átono


ID
5086498
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

"Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso."


Assinale a opção em que a oração reduzida DESFAZ o sentido de oposição do período acima.

Alternativas
Comentários
  • GAB C- TODAS AS OUTRAS TINHAM SENTIDO DE CONCESSÃO


ID
5086501
Banca
Marinha
Órgão
EFOMM
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Um caso de burro

Machado de Assis

    Quinta-feira à tarde, pouco mais de três horas, vi uma coisa tão interessante, que determinei logo de começar por ela esta crônica. Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo, que lhe parecerá vulgar, e porventura torpe. Releve a importância; os gostos não são iguais.
    Entre a grade do jardim da Praça Quinze de Novembro e o lugar onde era o antigo passadiço, ao pé dos trilhos de bondes, estava um burro deitado. O lugar não era próprio para remanso de burros, donde concluí que não estaria deitado, mas caído. Instantes depois, vimos (eu ia coin run amigo), vimos o burro levantar a cabeça e meio corpo. Os ossos furavam-lhe a pele, os olhos meio mortos fechavam-se de quando em quando. O infeliz cabeceava, mais tão frouxamente, que parecia estar próximo do fim.
    Diante do animal havia algum capím espalhado e uma lata com água. Logo, não foi abandonado inteiramente; alguma piedade houve no dono ou quern quer que seja que o deixou na praça, com essa última refeição à vista. Não foi pequena ação. Se o autor dela é homem que leia crônicas, e acaso ler esta, receba daqui um aperto de mão. O burro não comeu do capim, nem bebeu da água; estava já para outros capins e outras águas, em campos mais largos e eternos, Meia dúzia de curiosos tinha parado ao pé do animal. Um deles, menino de dez anos, empunhava uma vara, e se não sentia o desejo de dar com ela na anca do burro para espertá-lo, então eu não sei conhecer meninos, porque ele não estava do lado do pescoço, mas justamente do lado da anca. Dígase a verdade; não o fez - ao menos enquanto ali estive, que foram poucos minutos, Esses poucos minutos, porém, valeram por uma hora ou duas. Se há justiça na Terra valerão por um século, tal foi a descoberta que me pareceu fazer, e aqui deixo recomendada aos estudiosos. 
    O que me pareceu, é que o burro fazia exame de consciência. Indiferente aos curiosos, como ao capim e à água, tinha 110 olhar a expressão dos meditativos. Era um trabalho interior e profundo. Este remoque popular por pensar morreu um burro mostra que o fenômeno foi mal entendido dos que a princípio o viram; o pensamento não é a causa da morte, a morte é que o torna necessário. Quanto à matéria do pensamento, não há dúvidas que é o exame da consciência. Agora, qual foi o exame da consciência daquele burro, é o que presumo ter lido no escasso tempo que ali gastei. Sou outro Champollion, porventura maior; não decifrei palavras escritas,mas ideias íntimas de criatura que não podia exprimi-las verbalmente.
        E diria o burro consigo:
    "Por mais que vasculhe a consciência, não acho pecado que mereça remorso. Não furtei, não menti, não matei, não caluniei, não ofendi nenhuma pessoa. Em toda a minha vida, se dei três coices, foi o mais, isso mesmo antes haver aprendido maneiras de cidade e de saber o destino do verdadeiro burro, que é apanhar e calar. Quando ao zurro, usei dele como linguagem. Ultimamente é que percebi que me não entendiam, e continuei a zurrar por ser costume velho, não com ideia de agravar ninguém. Nunca dei com homem no chão. Quando passei do tílburi ao bonde, houve algumas vezes homem morto ou pisado na rua, mas a prova de que a culpa não era minha, é que nunca segui o cocheiro na fuga; deixava-me estar aguardando autoridade." 
    "Passando à ordem mais elevada de ações, não acho em mim a menor lembrança de haver pensado sequer na perturbação da paz pública. Além de ser a minha índole contrária a arruaças, a própria reflexão me diz que, não havendo nenhuma revolução declarado os direitos do burro, tais direitos não existem. Nenhum golpe de estado foi dado em favor dele; nenhuma coroa os obrigou. Monarquia, democracia, oligarquia, nenhuma forma de governo, teve em conta os interesses da minha espécie. Qualquer que seja o regime, ronca o pau. O pau é a minha instituição um pouco temperada pela teima que é, ein resumo, o meu único defeito. Quando não teimava, mordia o freio dando assim um bonito exemplo de submissão e conf ormidade. Nunca perguntei por sóis nem chuvas; bastava sentir o freguês no tílburi ou o apito do bonde, para sair logo. Até aqui os males que não fiz; vejamos os bens que pratiquei."
    ''A mais de uma aventura amorosa terei servido, levando depressa o tílburi e o namorado à casa da namorada - ou simplesmente empacando em lugar onde o moço que ia ao bonde podia mirar a moça que estava na janela. Não poucos devedores terei conduzido para longe de um credor importuno. Ensinei filosofia a muita gente, esta filosofia que consiste na gravidade do porte e na quietação dos sentidos. Quando algum homem, desses que chamam patuscas, queria fazer rir os amigos, fui sempre em auxílio deles, deixando que me dessem tapas e punhadas na cara. Em fim...
    Não percebi o resto, e fui andando, não menos alvoroçado que pesaroso. Contente da descoberta, não podia furtar-me à tristeza de ver que um burro tão bom pensador ia morrer. A consideração, porém, de que todos os burros devem ter os mesmos dotes principais, fez-me ver que os que ficavam não seriam menos exemplares do que esse. Por que se não investigará mais profundamente o moral do burro? Da abelha já se escreveu que é superior ao homem, e da formiga também, coletivamente falando, isto é, que as suas instituições políticas são superiores às nossas, mais racionais. Por que não sucederá o mesmo ao burro, que é maior? 
    Sexta-feira, passando pela Praça Quinze de Novembro, achei o animal já morto.
    Dois meninos, parados, contemplavam o cadáver, espetáculo repugnante; mas a infância, corno a ciência, é curiosa sem asco. De tarde já não havia cadáver nem nada. Assim passam os trabalhos deste inundo. Sem exagerar. o mérito do finado, força é dizer que, se ele não inventou a pólvora, também não inventou a dinamite. Já é alguma coisa neste final de século. Requiescat in pace. 

Assinale a opção em que se encontra um período composto por coordenação e por subordinação.

Alternativas
Comentários
  • E = "Agora, porém, no momento de pegar na pena, receio achar no leitor menor gosto que eu para um espetáculo [... ] "

  • porem,que.