Em palavras breves, as figuras de linguagem são recursos expressivos utilizados com objetivo de gerar efeitos no discurso. Dentro do extenso grupo em que se arrolam esses recursos, existem quatro subdivisões: figura de palavra, figura de construção, figura de sintaxe e figura de som.
a) “...e planta, e colhe, e mata, e vive, e morre.” (Clarice Lispector)
Incorreto. Consta polissíndeto, repetição de conectivos coordenativos — normalmente se repetirão as conjunções “e”, “ou” e “nem”. Exs.:
“Do claustro, na paciência e no sossego, / Trabalha e teima, e lima, e sofre, e sua!” (Olavo Bilac)
“Em seguida dei de ombros, convencido de que o Geremário tinha razão e tinha razão a boda, e os filhos do cego tinham razão, e todo mundo tem razão.” (Monteiro Lobato)
“E hoje mamãe cose e borda e borda e canta no piano e faz bolinhos aos sábados, tudo pontualmente, e com alegria.” (Clarice Lispector)
“Há dois dias meu telefone não fala, nem ouve, nem toca, nem tuge, nem muge.” (Rubem Braga)
b) Suas lágrimas são como cristais.
Incorreto. Há comparação. Semelhante à metáfora, esta figura de linguagem estabelece comparação entre elementos. Usualmente apresentará conectivos para este fim, a exemplo de “como”, “tal como”, “qual”, etc. Exs.:
“Por ali ficou feito gato sem dono.” (Monteiro Lobato)
“Meu coração tombou na vida/tal qual uma estrela ferida/pela flecha de um caçador.” (Cecília Meireles)
“A sombra das roças é macia e doce, é como uma carícia.” (Jorge Amado)
“Meu coração é como um túmulo para o segredo da amizade.” (Bernardo Guimarães)
c) “E rir meu riso e derramar meu pranto...” (Vinícius de Moraes)
Incorreto. Há pleonasmo, emprego de palavras desnecessárias ao sentido. Há dois tipos: um a que se chama de vicioso, decorrente da ignorância da significação das palavras (p.ex. decapitar a cabeça, tornar a repetir, encarar de frente), e o literário, que é intencional e serve à ênfase, ao vigor da expressão. Exs.:
“Era como se todo o mundo que ele pisara com os pés, que vira com os seus olhos, que pegara com as suas mãos, se perdesse num instante.” (José Lins do Rego)
“Meteram-me a mim e a mais trezentos companheiros (...) no estreito e infecto porão de um navio.” (Maria Firmina dos Reis)
“Contra o parecer do médico assistente deu-se alta a si próprio.” (Monteiro Lobato)
“Talvez ainda um dia me será grata por ter-te impedido de matar-te a ti mesma.” (Bernardo Guimarães)
d) “Boi bem bravo, bate baixo, bota baba, boi berrando... Dança doido, dá de duro, dá de dentro, dá direito.” (Guimarães Rosa)
Correto. Consta aliteração, repetição de fonema vocálico (em relação a vogais) ou consonântico (em relação a consoantes) igual ou parecido, para descrever ou sugerir acusticamente o que temos em mente, quer por meio de uma só palavra, quer por unidades mais extensas.
“Bramindo o negro mar, de longe brada.” (Luís de Camões)
“Vozes veladas, veludosas vozes [...].” (Cruz e Sousa)
Letra D