Como despertar o gosto pela leitura dicas para
professores
Quando o assunto é o gosto pela leitura, eu sempre
pensei apesar de nunca ter comprovado através de
bibliografia específica que dois tipos de atitudes do professor
são necessários: um passivo, outro ativo.
Atitudes passivas
Julgo como atitudes passivas todas aquelas que tenham
como objetivo criar um ambiente no qual o aluno sinta-se envolvido pelo mundo dos livros e da literatura sem, contudo,
ver isso como uma imposição. A seguir, explico algumas delas.
Na sala de aula, reservar um lugar (ou vários) para
colocar livros
O professor como exemplo de leitor
Durante meus anos de escola (e até de universidade), vi
vários professores falando sobre os benefícios da leitura,
afirmando que devemos ler livros clássicos e ressaltando suas
qualidades.
Muitos deles, no entanto, nunca foram vistos com um livro
embaixo do braço.
Essa atitude de mostrar que "eu sou o professor e leio, olhem aqui meu livro" me parece ser uma das mais importantes para estimular os alunos a ler, pelo simples fato de que isso
desperta curiosidade. Muitas pessoas leem, e começam a ler
depois de ficarem curiosos sobre aquele best seller que viram
na revista. Tudo bem, estimular a leitura de best sellers não é
exatamente nosso objetivo, mas começar diretamente pelos
clássicos será, no mínimo, traumatizante.
Em síntese, creio que o professor deve mostrar amor pela
leitura. Não gosto, nem hábito, mas amor. Esse é o tópico
imprescindível.
Atitudes ativas
Chamo de atitudes ativas aquelas efetivamente
desempenhadas pelo professor de forma a criar uma interação
entre os alunos e a leitura. Acredito que o resultado das
atitudes ativas é altamente influenciado pelas atitudes
passivas, daí a importância dessas últimas. A seguir, falo de
algumas atitudes ativas que eu busco praticar com meus
alunos.
Apresentar textos de interesse dos alunos e destacar
a utilidade da literatura
Óbvio. Os alunos não terão interesse em textos que não
tenham nada a ver com suas realidades ou que não despertem
algum tipo de sentimento. Ninguém, mesmo um apaixonado
por leitura, lê por ler. É preciso um motivo. É preciso gostar. É
preciso ter necessidade.
Organizar atividades a partir da leitura e fazer
relações internas e externas
Em abril de 2008, publiquei um texto no extinto blog
Bravus.net, no qual faço sugestões de atividades para trabalhar
com o clássico de Miguel de Cervantes, Dom Quixote.
Muitas das atividades sugeridas podem ser adaptadas e
utilizadas para quaisquer livros, então transcrevo-as abaixo:
1. Fazer a leitura em voz alta de alguns capítulos da obra:
alunos e professor intercalando a leitura e criando curiosidade
quanto ao resto da história. É muito mais divertido que uma
leitura solitária;
2. Jogo de incorporação à leitura: escolhemos um capítulo
ou trecho e fazemos algumas marcas no texto (a cada duas ou
três linhas). Um aluno inicia a leitura em voz alta e, seguindo
uma ordem estabelecida antecipadamente, um novo aluno
começa a ler a cada marca do texto, até que todos estejam
lendo juntos;
3. Feira de leitura: o grupo encarregado da atividade
anunciará como faziam os leiloeiros antigamente que em
determinada hora e lugar será feita a leitura de certo trecho do
livro. Também farão cartazes anunciando o grande
acontecimento;
4. Leitura dramatizada: um grupo prepara a narração de
algum capítulo da obra para contar aos outros (ao ar livre),
utilizando imagens sequenciais dos fatos. Os narradores
podem vestir-se conforme o estilo da época e pode-se encenar
alguns personagens;
5. Leitura musical: cada grupo fica responsável por um
capítulo e escolhe uma música que combine com o trecho a ser lido. Durante a leitura podem ser feitas pausas para ouvir a
música, que ficará de fundo para os narradores.
6. Brincar com personagens:
\Imaginar como são, desenhá-los, descrevê-los;
Procurar fotos dos personagens na internet e montar um
mural. Depois ler em voz alta algumas falas para ver se os
alunos descobrem de que personagem são;
"Quem é quem?" como os personagens do mural. Dividir a sala em dois grupos pode ser divertido aqui.
Desfile de modelos: entregamos a foto de um
personagem e os alunos devem descrevê-lo utilizando
comentários como se fosse um desfile de moda;
7. Escolher um capítulo e adaptá-lo para linguagem
teatral.
Enfim, muitas outras podem ser pensadas.
Para terminar, o que quero dizer com "relações internas e externas"?
Chamo de relações internas aquelas feitas entre a
literatura e a própria literatura. Se um livro faz menção a outro,
comentar sobre esse outro. Se um autor tem alguma relação
com outro (Luis Fernando Veríssimo com Érico Veríssimo, por
exemplo), comentar sobre essa relação, estabelecer
diferenças, destacar influências, tornar a questão humana, não
só objeto de estudo.
Chamo de relações externas aquelas estabelecidas entre
a literatura e outras áreas do conhecimento. Se falamos de
Dom Quixote, podemos fazer uma atividade de procurar em um mapa onde fica o "Canal da Mancha" - uma relação entre
literatura e geografia. Se lemos Cíntia Moscovich e seus
personagens judeus, podemos explicar um pouco sobre esse
povo e as atrocidades que viveram na Segunda Guerra uma
relação entre literatura e história. Se lemos Jane Austen e suas
heroínas perspicazes que recusam-se a um casamento
arranjado, podemos comentar esse tipo de situação que ocorria
até fins do século XIX uma relação entre literatura, história,
sociologia e antropologia. E assim por diante.
Enfim, essas são algumas ideias que acredito serem
eficazes para estimular o gosto pela leitura. Sei que cada
contexto exige posturas diferentes por parte do professor, mas
espero que você possa aplicar ao menos algumas dessas
sugestões com seus alunos.
Por André Gazola - Retirado do site lendo.org
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qualquer texto sempre apresenta, mesmo que de
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texto acima, pode-se inferir que seu autor pensa que: