Para responder essa questão, o candidato deve indicar a alternativa em que consta o objetivo da autora Maria Helena de Souza Patto, no livro A Produção do Fracasso Escolar, ao apresentar a história do Jeca Tatu.
Ao abordar a temática do fracasso escolar, a autora Maria Helena de Souza Patto faz uma análise da educação brasileira e os preconceitos historicamente construídos. Pontua que, a escola e 90% da população era analfabeta. Nos anos seguintes, esse quadro não se alterou muito e mais de 70% da população do país continuava iletrada.
Nos anos seguintes, mesmo com o crescimento das ideias liberais, com movimentos sociais, econômicos e políticos nas décadas de 1920 e 1930, e ampliação do ensino público, a classe popular continuava excluída do contexto educacional. O fracasso escolar seguia como um desafio.
A autora aponta que, nesse período, existiam teorias racistas para o fracasso escolar, marcadas pelo preconceito em relação aos índios, aos mestiços e aos negros, bem como ao homem do campo. Uma teoria evolucionista “comprovava" a inferioridade das raças não brancas, justificando sua sujeição ao homem branco. Mesmo com a abolição da escravatura, em 1888, e com a chegada da República, continuou-se a anunciar esta inferioridade, só que para justificar o lugar de subalternidade que índios, negros e mestiços passaram a ocupar, mesmo livres, na nova estrutura social. Essa forma de pensar influenciou uma considerável parte dos intelectuais da época, que elaboravam uma literatura sobre o povo brasileiro que colaborava para validar e reforçar a visão negativa do homem tropical e mestiço.
Um exemplo disto é o Personagem Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, que favoreceu a formação de estereótipos negativos a respeito do homem pobre e do campo. Ao denunciar os problemas da Primeira República, como a falta de saneamento básico, Lobato mostrava uma visão negativa do caipira. Jeca era um caipira de aparência desleixada, com a barba pouco densa, calcanhares sempre desnudos, rachados, pois ele detestava usar sapatos. Acredita-se que este personagem tenha contribuído para a cristalização do mito da indolência das populações rurais, da população mais pobre das grandes cidades. Isso acontecia devido a uma valorização de uma ideologia urbana em detrimento do rural, em razão de um rápido crescimento das cidades e populações urbanas. Miserável, Jeca Tatu detinha somente algumas plantações, apenas para sua sobrevivência e pescava em um pequeno riacho perto de sua habitação. Sem condições e sem cultura, não cultivava os necessários hábitos de higiene. E em uma versão do conto, “Jeca Tatu - a ressurreição", ele era vítima do descaso das autoridades com a saúde e adoecia, ia ao médico e se transformava em um fazendeiro bem sucedido. Assim, disseminou-se a ideia de que a salvação nacional viria através das políticas de saneamento.
Segundo Patto, a história do Jeca Tatu teve grande destaque na literatura brasileira tanto que o personagem se tornou Jeca Tatuzinho, protagonizando campanhas de saúde. O mito contribuiu para uma ideologia depreciativa do homem do campo e das populações residentes nas periferias, tendo reflexos no campo educacional. Ainda de acordo com a autora, esta representação social do homem do campo evidencia não apenas a crença generalizada e duradoura na indiferença ou aversão das populações rurais pela escola como também a crença dominante, por um longo período, de que a verminose seria a principal causa do fracasso escolar das crianças das classes populares.
Assim, o pensamento educacional ficou fortemente marcado por uma visão estereotipada da família pobre ao relacionar somente os fatores extras escolares para explicar a aprendizagem da criança.
Fonte: PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1993.
Dessa forma, conclui-se que a autora Maria Helena de Souza Patto apresenta a história do Jeca Tatu com o objetivo de apresentar a expressão exemplar do componente ideológico da consciência urbana sobre o mundo rural.
Portanto, a letra B é a alternativa correta.
Gabarito do Professor: Letra B.