- ID
- 1841389
- Banca
- COMPERVE
- Órgão
- Prefeitura de Boa Saúde - RN
- Ano
- 2014
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Com a força de um trator
A primeira mulher a operar máquinas pesadas no Estádio Mané Garrincha
conta como superou o
preconceito e mudou os rumos de sua carreira
Eunice da Silva Oliveira teve de aprender cedo a superar desafios. Ficou viúva cedo e
precisou sustentar sozinha a filha de 11 meses. Hoje, aos 39 anos, orgulha -se em dizer que
Thaís, que tem 18, já está na faculdade, incentivada pelo perfil trabalhador e arrojado da mãe.
Características que afloraram novamente em 2011, no canteiro de obras do Estádio Mané
Garrincha, em Brasília (DF). Oito meses depois de ser admitida para serviços de limpeza, Eunice
foi promovida. Assumiu a direção de uma empilhadeira e passou a ser a primeira mulher a operar
máquinas pesadas na obra.
O salário aumentou de 730 para 4.200 reais. Entre as novas atribuições, estavam
empilhar e suspender meia tonelada de tijolos por dia. “Nunca tive medo de pegar no pesado",
diz. Eunice já tinha carteira de habilitação, mas foi selecionada para a vaga após um curso de
condução de veículos pesados de três dias.
Reconstruída, a arena Mané Garrincha teve sua capacidade ampliada de 45.000 para
70.800 lugares, obra que custou 1,2 bilhão de reais e levou 1.027 dias para ficar pronta.
Olhar feminino
No começo, ela lutou para se familiarizar com o novo universo. Além da tensão por causa
da enorme responsabilidade, Eunice enfrentou algumas piadinhas machistas. “Sempre tinha um
que soltava uma graça, 'cuidado que é mulher no volante', mas a maioria me dava apoio".
Operando uma das empilhadeiras, virou exemplo de superação entre os operários. “ Não acho
que é um serviço só para homens e muito menos que deixo de ser feminina", afirma Eunice, que
não abria mão do batom antes de iniciar a jornada de trabalho.
Com o dinheiro que ganhou na obra da Copa, Eunice quitou suas dívidas, reformou a casa
e comprou um carro novo. “E ainda consegui guardar um dinheirinho na poupança", conta.
Estimulada pela experiência no Mané Garrincha, Eunice quis permanecer no setor da construção
civil. Após a conclusão da arena, fez questão de tirar carteira de habilitação na categoria D para
também poder dirigir ônibus, caminhões e outros tipos de tratores. Passou cinco meses
desempregada, até ser contratada por uma empresa em Brasília, e hoje segue dirigindo veículos
pesados. “As empreiteiras em geral dão preferência aos homens, mas acabei conseguindo por
causa da minha experiência no Mané Garrincha".
E, mesmo não sendo muito fã de futebol, a operária pretende viver a emoção de assistir a
pelo menos um jogo no estádio que ajudou a erguer. “Sempre que passo lá, bate uma saudade
daqueles tempos. Foi um trampolim para mim e para muitos amigos que tive o prazer de
conhecer".
Abril na Copa – Edição especial. Placar. São Paulo: Editora Abril, n. 1391, jun. 2014. [Adaptado]
A intenção comunicativa dominante no texto é