Texto 1
O que vou dizer é um paradoxo: uma boa razão para o Brasil encarar com otimismo o futuro
difícil que se desenha a sua frente para os próximos anos é o fantástico grau de desperdício que
caracterizou o desenvolvimento do país. Se o Brasil aprender a evitar esse desperdício, nenhum grande
milagre surgirá daí, mas estará sendo acionado um potencial de crescimento com baixo investimento.
Não falo só de coisas como jogar fora o liquidificador que poderia ser consertado ou de
aposentar um automóvel que ainda teria vida útil pela frente. Falo de coisas mais graves, de um tipo de
desperdício menos visível, embutido em vários aspectos do cotidiano brasileiro. Vamos a alguns casos
ilustrativos. Uma cidade como São Paulo, por exemplo, tem 42% de seus terrenos vazios e metade
deles com área superior a 5.000 metros quadrados. Se uma porção reduzida desses terrenos — digamos,
10% deles — fosse utilizada para a plantação de hortas, teríamos algo em torno de 100.000 hortas
familiares produzindo para a cidade e dando ocupação e comida a muita gente.
Quando se fala do aproveitamento do lixo — outro assunto que merece atenção —, apela-se
com frequência para uma visão sofisticada do que deva ser essa operação. Ora, o lixo é valioso, mas
deve ser encarado com modéstia. Além de servir para nivelar terrenos erodidos, criando solo para a
construção de moradias populares pelas próprias pessoas que vão habitá-las, ele pode ser transformado
em adubo ou ainda gerar gás para movimentar ônibus.
O brasileiro que vive no Sul come papaias da Amazônia e os moradores de Belém consomem
alface do Sul. Gasta-se uma enormidade de energia no transporte desses produtos. Pergunto: por que
não dar um jeito de plantar perto dos centros consumidores e com isso reforçar as economias locais,
aproveitando o potencial latente de terras e mão-de-obra?
E o que dizer do desperdício de combustível pelos veículos que circulam nas estradas do país?
Todo motorista sabe que um carro bem regulado permite uma economia de 5% a 10% de combustível.
Pois bem, um cálculo simples mostra que seria possível economizar 10.000 barris de óleo diesel por
dia, no Brasil, com a simples manutenção correta dos motores dos caminhões e ônibus. Isso equivaleria
a mais de 300.000 salários mínimos economizados mensalmente e a um aumento correspondente de
vagas para trabalhadores em oficinas mecânicas, sem falar na economia de divisas.
Coordeno um programa de estudos para a Universidade das Nações Unidas, com
sede em Tóquio, que procura criar alternativas de desenvolvimento a partir de dois fatores
fundamentais, o alimento e a energia. As crises alimentar e energética não apenas se conjugam como,
infelizmente, se reforçam, já que energia cara significa sempre comida mais cara.
O problema do desperdício, é bom notar, apresenta-se em todo o mundo, mas com
configurações diferentes e possíveis soluções também diferentes. Entre os vários tipos de desperdício,
o mais gritante é certamente o gasto de 970 bilhões de dólares por ano no mundo com armamentos.
Isso significa que se queima quase dez vezes o valor de toda a dívida externa brasileira, a cada ano,
com instrumentos de destruição.
Identifique com V as afirmativas corretas de acordo com o texto 1, e com F, as falsas.
1.( ) Desperdício de divisas é, para o Brasil, sinônimo de vencer dificuldades.
2. ( ) O barateamento dos alimentos está diretamente ligado à economia de energia.
3. ( ) Quanto mais se produzem alimentos, maior necessidade se tem de gastar.
4. ( ) Só o controle do desperdício livrará o Brasil de dificuldades.
5. ( ) Paradoxalmente, o desperdício fará do Brasil um país superior.
A alternativa que contém a sequência CORRETA, de cima para baixo, é: