- ID
- 3939379
- Banca
- Instituto Excelência
- Órgão
- Prefeitura de Tremembé - SP
- Ano
- 2019
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Leia o texto e responda a questão.
Fevereiro de 1878
Assim como as árvores mudam de folhas, as
crônicas mudam de título; e não é essa a única
semelhança entre a crônica e a árvore. Há muitas outras,
que não aponto agora por falta de tempo e de papel.
O caso é que quando eu cronicava a quinzena
tinha diante de mim (ou antes atrás) um espaço limitado,
um período cujos limites podia ver com estes olhos que a
terra me há de comer. Mas trinta dias! É quase uma
eternidade, é pouco menos de um século. Quem se
lembra de coisas que sucederam há quatro semanas?
Que atenção pode sustentar-se diante de tão vasto
período?
Exemplo:
Houve no princípio do mês uma mudança
ministerial, uma completa alteração na política do governo.
Que virei eu dizer de novo trinta dias depois? Quinze dias,
vá; ainda parece que a gente vê o sucesso; os
acontecimentos não são de primeira frescura, mas ainda
estão frescos. Um fato de trinta dias pertence à história,
não à crônica.
Digo isto, leitor amigo, para que, se alguma vez
esta crônica te parecer mofada, fiques sabendo que a
culpa não é minha, mas do tempo — esse velho e barbudo
Cronos, que a tudo lança o seu manto de gelo.
Menos nas minhas costas que neste momento
parecem uma encosta do Vesúvio. Lá me escapou um
trocadilho... não risco; antes isso que uma injúria.
Nem há outra utilidade nos trocadilhos.
(ASSIS, Machado de. Obra completa. Rio de Janeiro: W. M. Jackson,
1938. Disponível em: http://machado.mec.gov.br)
O texto é a primeira parte da coletânea de crônicas
denominada História de trinta dias, de Machado de
Assis. Nessa introdução, qual é o fato justificado pelo
autor?