- ID
 - 5030833
 - Banca
 - Alternative Concursos
 - Órgão
 - Prefeitura de Esperança do Sul - RS
 - Ano
 - 2021
 - Provas
 - 
                
- Alternative Concursos - 2021 - Prefeitura de Esperança do Sul - RS - Professor de Ciências
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 - Disciplina
 - Português
 - Assuntos
 
Leia o texto com atenção:
EMERGÊNCIA
    É fácil identificar o passageiro de primeira
viagem. É o que já entra no avião desconfiado. O
cumprimento da aeromoça, na porta do avião, já é
um desafio para a sua compreensão.
    – Bom dia...
     – Como assim?
    Ele faz questão de sentar num banco de
corredor, perto da porta. Para ser o primeiro a sair
no caso de alguma coisa dar errado. Tem
dificuldade com o cinto de segurança. Não
consegue atá-lo. Confidencia para o passageiro ao
seu lado:
     – Não encontro o buraquinho. Não tem
buraquinho?
    Acaba esquecendo a fivela e dando um nó
no cinto.
    Comenta, com um falso riso descontraído:
“Até aqui, tudo bem”. O passageiro ao lado explica
que o avião ainda está parado, mas ele não ouve. A
aeromoça vem lhe oferecer um jornal, mas ele
recusa.
     – Obrigado. Não bebo.
    Quando o avião começa a correr pela pista
antes de levantar voo, ele é aquele com os olhos
arregalados e a expressão de Santa Mãe do Céu!
No rosto. Com o avião no ar, dá uma espiada pela
janela e se arrepende. É a última espiada que dará
pela janela.
    Mas o pior está por vir. De repente ele ouve
uma misteriosa voz descarnada. Olha para todos os
lados para descobrir de onde sai a voz.
    “Senhores passageiros, sua atenção, por
favor. A seguir, nosso pessoal de bordo fará uma
demonstração de rotina do sistema de segurança
deste aparelho. Há saídas de emergência na frente,
nos dois lados e atrás.”
    – Emergência? Que emergência? Quando
eu comprei a passagem ninguém falou nada em
emergência. Olha, o meu é sem emergência.
    Uma das aeromoças, de pé ao seu lado,
tenta acalmá-lo.
    – Isto é apenas rotina, cavalheiro.
    – Odeio a rotina. Aposto que você diz isso
para todos. Ai meu santo.
    “No caso de despressurização da cabina,
máscaras de oxigênio cairão automaticamente de
seus compartimentos.”
    – Que história é essa? Que
despressurização? Que cabina?
    “Puxe a máscara em sua direção. Isso
acionará o suprimento de oxigênio. Coloque a
máscara sobre o rosto e respire normalmente.”
     – Respirar normalmente?! A cabina
despressurizada, máscaras de oxigênio caindo
sobre nossas cabeças – e ele quer que a gente respire normalmente?! “Em caso de pouso forçado
na água...”
    – O quê?!
     “... os assentos de suas cadeiras são
flutuantes e podem ser levados para fora do
aparelho e...”
    – Essa não! Bancos flutuantes, não! Tudo,
menos bancos flutuantes!
    – Calma, cavalheiro.
    – Eu desisto! Parem este troço que eu vou
descer. Onde é a cordinha? Parem!
    – Cavalheiro, por favor. Fique calmo.
   – Eu estou calmo. Calmíssimo. Você é que
está nervosa e, não sei por quê, está tentando
arrancar as minhas mãos do pescoço deste
cavalheiro ao meu lado. Que, aliás, também parece
consternado e levemente azul.
    – Calma! Isso. Pronto. Fique tranquilo. Não
vai acontecer nada.
    – Só não quero mais ouvir falar de banco
flutuante.
   – Certo. Ninguém mais vai falar em banco
flutuante.
    Ele se vira para o passageiro ao lado, que
tenta desesperadamente recuperar a respiração, e
pede desculpas. Perdeu a cabeça.
    – É que banco flutuante foi demais. Imagine
só. Todo mundo flutuando sentado. Fazendo sala
no meio do Oceano Atlântico!
    
A aeromoça diz que lhe vai trazer um
calmante e aí mesmo é que ele dá um pulo:
    – Calmante, por quê? O que é que está
acontecendo? Vocês estão me escondendo alguma
coisa!
    Finalmente, a muito custo, conseguem
acalmá-lo. Ele fica rígido na cadeira. Recusa tudo
que lhe é oferecido. Não quer o almoço. Pergunta
se pode receber a sua comida em dinheiro. Deixa
cair a cabeça para trás e tenta dormir. Mas, a cada
sacudida do avião, abre os olhos e fica cuidando da
portinha do compartimento sobre sua cabeça, de
onde, a qualquer momento, pode pular uma
máscara de oxigênio e matá-lo do coração.
    De repente, outra voz. Desta vez é a do
comandante.
     – Senhores passageiros, aqui fala o
comandante Araújo. Neste momento, à nossa
direita, podemos ver a cidade de...
    Ele pula outra vez da cadeira e grita para a
cabina do piloto:
    – Olha para a frente, Araújo! Olha para a
frente!
 VERÍSSIMO, Luis Fernando. Mais comédias para ler
na escola. São Paulo: Objetiva, 2009.
Com base no texto lido responda a questão:
        Sobre a crônica:
I. É narrada por um narrador observador.
II. É possível perceber ao final do texto que o
passageiro se mostra sólito ao voo.
III. A intencionalidade discursiva do autor da
crônica é relatar, de forma cômica, a ignávia
que acomete alguns passageiros.
IV. A intenção discursiva do escritor é de
relatar o descontrole de alguns passageiros
durante um suposto primeiro voo, o que
provoca exasperação dentro do avião.