A ÁGUA QUE VEM DO AR
Na falta de chuvas, ninguém precisa passar sede. E nem
depender da dessalinização do mar, um processo caro e de
logística complexa. Conheça a região no meio do deserto
chileno que tira água do ar, sem gastar um pingo de energia.
Por: Fellipe Abreu; Luiz Felipe Silva. Editado por: Karin Hueck. Adaptado
de:
http://super.abril.com.br/ideias/a-agua-que-vem-do-ar
Acesso em 18 jul. 2015.
Entre a longa Cordilheira dos Andes e o Oceano
Pacífico, no país mais esticado do mundo, está o maior
deserto latino-americano, o chileno Atacama. A aridez
domina a região e os municípios próximos - são quase 1.500
km de extensão onde a média de chuvas é de 0,1 mm ao
ano, com áreas onde a água fica sem cair por séculos.
Nesse mar de sequidão, fica a região de Coquimbo, no
município de Chungungo, que é banhado pelo mar, e onde
choveu apenas cinco vezes em todo o ano de 2013. Na
área, a média histórica de chuvas é de apenas 100 mm ao
ano - contra 1.500 mm em São Paulo, por exemplo. Mas, ao
contrário da capital paulista, aqui não falta água - é possível
tirá-la do ar.
O que acontece em Coquimbo é que faltam chuvas,
mas sobram nuvens hiperúmidas. São as "nieblas
costeras", que se formam sobre a orla, movem-se em
direção ao continente e acabam aprisionadas por uma
serra, num fenômeno chamado de camanchaca, as "chuvas
horizontais". A camanchaca acontece em condições muito
específicas de geografia, clima e correntes marítimas, e é
bem comum ao longo do litoral peruano e chileno. Essa
neblina é composta por minúsculas gotas de água, que, de
tão leves, se mantêm suspensas no ar. Se a nuvem
encontrar algum tipo de obstáculo, as partículas de água se
chocam umas com as outras e começam a se concentrar.
Alcançam, então, peso suficiente para cair, virar gotas de
água, e deixar um rastro de umidade por onde passam. Nas
regiões em que o fenômeno acontece, é comum encontrar
árvores eternamente encharcadas e animais com os pelos
molhados o tempo todo. A umidade é visível por aqui. Nas
altitudes entre 600 e 1.200 metros, onde o fato é mais
intenso, a vegetação é abundante e frondosa - ao contrário
das zonas em que as neblinas costeiras não acontecem, e
que têm solo seco e pouca flora. Foi observando esse
contraste que, há 50 anos, pesquisadores da Universidad
de Chile tiveram uma ideia: se a água não cai das nuvens,
será que daria para pegá-la de dentro delas? Assim nasceu
a ideia dos atrapanieblas (em português, algo como "capta-nuvem")
- artefatos criados para tirar, literalmente, água do
ar.
As engenhocas são simples: basta esticar malhas
de polietileno de alta densidade (parecidas com as que são
usadas para proteger plantações do sol), de até 150 metros
de largura, entre dois postes de madeira ou aço. A neblina
passa pela malha, mas os fios de plástico retêm parte da
umidade, que condensa, vira água e escorre até uma
canaleta que leva a um reservatório. O negócio é barato e
eficiente: cada metro quadrado da malha capta, em média,
4 litros de água por dia, e um atrapaniebla de 40 m2 custa
entre US$ 1.000 e 1.500. Para melhorar, o modelo é 100%
sustentável. Não atrapalha a flora e a fauna, e funciona
durante quase o ano todo, o que torna possível planejar a
produção de água. Mas não para por aí: a verdadeira vantagem é que os atrapanieblas não utilizam luz elétrica.
Diferentemente de outros métodos caros de obtenção de
água em regiões secas, como a dessalinização do mar, eles
não precisam de energia para funcionar. O vento trata de
espremer as nuvens pelas malhas, e a gravidade cuida de
carregar a água até os baldes. Perfeito.
Infelizmente, o projeto não é replicável no mundo todo
por causa das condições necessárias de clima e
temperatura. Mas países como México e Peru também
utilizam a técnica. No árido Estado de Querétaro, na região
central do México, e nas secas áreas costeiras do Peru -
que inclui a capital Lima, onde a média anual de
pluviosidade é de menos de 10 mm, mas cuja umidade
relativa do ar chega a 98% -, o projeto já funciona em larga
escala. O maior complexo de malha do mundo, contudo,
localiza-se em Tojquia, Guatemala: são 60 captadores que,
ao todo, compõem uma rede de 1.440 m2 e captam quase
4 mil litros de água diariamente, abastecendo cerca de 30
famílias. Sem gastar energia.
A palavra “hiperúmidas", destacada no texto, obedece às
regras do novo acordo ortográfico, assim como todas as
palavras que compõem as frases de qual das
alternativas? Assinale-a.