Texto I
Animais Racionais
Paralisar músculos, injetar substâncias capazes de alterar a percepção ou inocular
doenças. Esses são alguns exemplos da infinidade de procedimentos científicos utilizados
pelos cientistas em experimentos com animais. Crueldade? Aparentemente, sim. Porém,
antes de levantar a bandeira contra, é preciso estar bem ciente das incoerências que esse
debate acalorado suscita.
Como saber os efeitos danosos que as vacinas podem ter em humanos, sem
avaliar suas consequências em organismos semelhantes? Eis um dos limites da evolução
tecnológica. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), por exemplo, declara: se houver
proibição do uso de animais, anos de esforços para descobrir a cura de doenças como a
Aids, dengue, malária e leishmaniose terão sido em vão.
Os defensores da extinção do uso de animais em pesquisas conta-argumentam
contestando a validade dessa necessidade, declarando a existência da “cultura do
medicamento”. Para eles, a sociedade investe em sanar efeitos ao invés de atacar as
causas reais das doenças, como estresse e má alimentação.
Ainda que parcialmente correto, a má qualidade de vida e certas doenças soam
irresponsáveis em um país em vias de assistir a um novo surto de dengue, além de
verificar a expansão da Aids entre as camadas mais escolarizadas. Investir em pesquisa
e na melhoria da qualidade de vida são fatores que devem caminhar juntos, não se
excluírem mutuamente. Se falta educação para eliminar os mosquitos vetores da dengue,
o que dirá de hábitos culturais relacionados à obesidade, por exemplo.
Criticar o uso de animais em experimentos ainda ajuda a mascarar a hipocrisia do
churrasco do final de semana. Parece conveniente defender a piedade perante todos os
seres vivos sem olhar – literalmente – o próprio prato. No abate de bois, em tempos não
muito remotos, incisões na virilha em animais ainda vivos ajudavam a deixar a carne mais
macia ao fazer com que o boi sangrasse até a morte. Ao mesmo tempo, deveria ser no
mínimo estranho apoiar principalmente a vida de mamíferos. A temática da violência
animal parece esquecida ao comprarmos nos supermercados toda a sorte de novidades
exterminadoras de insetos. A dignidade dos que merecem ser defendidos parece, assim,
escolhida a dedo.
Explicitar os pontos movediços da extinção ao uso de animais em experimentos
científicos, contudo, não significa defender a arbitrariedade. Não é com base em
incoerências que se dá ao aval da crueldade em laboratórios, mas sim se mostra que é
preciso meio-termo. Bem como critério de responsabilidade e fiscalização.
Por isso, a criação do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal
(CONCEA), por meio do projeto de lei Arouca, deveria ser vista como uma iniciativa
positiva ao debate. Após 13 anos de tramitações, o governo aprovou em setembro o
projeto de lei.
Reunir membros da comunidade científica como representantes de sociedades
protetoras dos animais pode ser um caminho prático no sentido de introduzir as
alternativas. É preciso observar no CONCEA um passo mais democrático em relação à
discussão, bem como o cumprimento da própria Constituição (artigo 225, que protege a
fauna e a flora). Para isso, é preciso crer na democracia. Um problema que os brasileiros,
também animais racionais, à vezes padecem.
LIMA, Daniela Priscila
Relacione as ideias centrais com seus respectivos parágrafos e marque a
alternativa sequencialmente CORRETA.
I. A necessidade de usar animais em alguns experimentos vitais ao ser humano.
II. Os defensores dos animais contestam a necessidade desse uso.
III. Mostra que as ideias dos defensores do uso de animais para o bem da Ciência e de
seus opositores são fatores que devem caminhar juntos.
( ) segundo parágrafo
( ) terceiro parágrafo
( ) quarto parágrafo