O passado vai nos condenar
No mundo físico, você sempre pode mudar. Pode mudar de cidade, de aparência, de estilo, de profissão, de opinião. Na internet, não é assim: tudo o que você já fez ou disse fica gravado para sempre. Cada vez mais, usamos a rede para nos relacionarmos uns com os outros. Isso está gerando uma massa de dados tão grande, cobrindo tantos detalhes das nossas vidas, que no futuro será muito difícil de controlar – e poderá nos comprometer. “Nunca mais escreva [na internet] nada que você não queira ver estampado na capa de um jornal”, advertem Cohen e Schmidt, autores do livro The New Digital Age.
A internet não esquece nada. E isso afetará a vida de todo mundo. Se uma criança chamar uma colega de “gorda” na rede, por exemplo, poderá manchar a própria reputação pelo resto da vida – pois todo mundo saberá que, um dia, ela praticou bullying. Inclusive potenciais empregadores, que poderão deixar de contratá-la. Uma foto ou um comentário poderão trazer consequências por muito tempo. Schmidt diz que a internet deveria ter um botão “delete”, que permitisse apagar para sempre eventuais erros que cometamos online. Isso é muito difícil, pois alguém sempre poderá ter copiado a informação que queremos ver sumir. Mas surgirão empresas especializadas em gerenciar a nossa reputação online, prometendo controlar ou eliminar informações de que não gostamos, e empresas de seguro virtual, que vão oferecer proteção contra roubo de identidade virtual e difamação na internet. “A identidade online será algo tão valioso que até surgirá um mercado negro, em que as pessoas poderão comprar identidades reais ou inventadas”, dizem os autores.
O fim do esquecimento terá consequências profundas – que, para o Google, incluirão até a escolha do nome das pessoas. Alguns casais batizarão seus filhos com nomes bem diferentes, que não sejam comuns, e registrarão esses nomes nas redes sociais antes mesmo do nascimento da criança, tudo para que ela se destaque. Outros preferirão nomes comuns e genéricos, como “José Carlos”, que sejam muito frequentes e tornem mais difícil identificar a pessoa, permitindo que se esconda na multidão e mantenha algum grau de privacidade online.
(Anna Carolina Rodrigues – Superinteressante, junho, 2013. Adaptado)
De acordo com informações contidas no texto, pode-se afirmar que