Texto para responder à questão.
O amor romântico prega coisas mentirosas, diz
psicanalista
Hamurabi Dias
O amor. Um dia ele chega para todo mundo,
acredite você le itor (le ito ra ), ou não. Na
contemporaneidade, o sociólogo polonês Zygmunt
Bauman, em seu livro “O Amor Líquido”, transforma a
célebre frase marxista - “tudo que é sólido se
desmancha no ar” - em ponto de partida para debater
a fragilidade dos laços humanos e lançar o conceito
de “líquido mundo moderno”. Em síntese, o autor traz
uma reflexão crítica de como esse mundo “fluido",
uma das principais características dos compostos
líquidos, fragilizou os relacionamentos humanos. O
sociólogo observa que o amor tornou-se, na
sociedade moderna, como um passeio no shopping
Center - ícone do capitalismo - e como tal deve ser
consumido instantaneamente e usado uma só vez,
sem preconceito. É o que considera a sociedade
consumista do amor. Pois bem, é nesta linha fluida,
sem preconceito e destarte liberal, com frases como
“Ter parceiro único pode se tornar coisa do passado”
e “Variar é bom, todo mundo gosta”, que a
psicanalista e escritora Regina Navarro Lins, crítica
do que considera “amor romântico”, lança os dois
volumes do "O Livro do Amor”.
“O Livro do Amor” é um estudo que começa
desde a pré-história, seguindo por todos os períodos
da humanidade, até chegar à atualidade. “Descobri
coisas muito interessantes, como que o amor é uma
construção social, e que em cada época ele se
apresenta de uma forma”, avalia. No século XX, o
livro é dividido em três partes. Para a psicanalista o
que mudou o amor na contemporaneidade foram
duas invenções: o automóvel e o telefone. “Pela
primeira vez na história as pessoas puderam marcar
encontro pelo telefone, mesmo com os moralistas
defendendo que era uma indecência a voz do homem
entrar pelo ouvido da mulher”, lembrou. Regina
Navarro Lins acredita que muito dos nossos
comportamentos atuais têm origem em períodos
históricos passados, como o “amor romântico",
surgido lá... no século XII. “Eu aponto também as
tendências de como o amor está se transformando. A
repressão diminuiu, ainda bem. O sexo é da
natureza, é desejável, mas a nossa cultura judaico-cristã sempre viu o sexo com maus olhos. Nos últimos
dois mil anos foi visto como algo abominável, a
repressão sexual foi horrorosa”, apontou.
Sobre o tão alardeado amor romântico, Lins
inicia sua critica observando o caráter sub-humano
que foi atribuído à mulher ao longo dos anos. “A
mulher foi considerada incompetente e burra. O
cavalheirismo é uma ideia péssima para as mulheres.Gentileza é outra coisa. O cavalheirismo implica
sempre em o homem tratar a mulher como se ela
fosse incompetente. Não tem sentido, se
observarmos como a mulher foi considerada no
passado, até hoje pessoas defenderem a ideia de que
a mulher não pode puxar uma cadeira", comparou a
psicanalista.
Regina Navarro defende também que o amor
romântico é baseado na idealização do outro, a
invenção de uma pessoa, atribuindo a ela
características que não tem. “Depois passa a vida
'azucrinando' o outro para mudar o jeito de ser, para
se enquadrar naquilo que se imaginou. Esse tipo de
amor prega coisas mentirosas, como de que não
existe desejo por mais ninguém, de que os amados
vão se completar e nada mais vai faltar, que um terá
todas as suas necessidades completadas pelo outro.
É um amor prejudicial, o que critico é o que ele
propõe. As pessoas só vão viver bem em um
relacionamento se houver a liberdade de ir e vir”,
observou.
Disponível em:
<http://www.bomdiafeira.com.br/noticias/palcocultural/9534/0+amor+rom%C3%A2ntico+prega+coisas+
mentirosas,+diz+psicanalista>. Acesso em: 23 de outubro de 2017. (Adaptado).
Sobre o texto, é correto afirmar que:
I. Nele, o amor romântico é apresentado como um
constructo social, em que os relacionamentos
foram fragilizados pela liquidez da sociedade
moderna.
II. Para o autor, o amor romântico desenvolve-se
como um ideal buscado em uma sociedade na
qual quase todos têm oportunidade de tornaremse sexualmente realizados.
III. O entrecruzamento de outras vozes implica em
um molde da relação amorosa aceito por todos,
em que há uma busca da identidade de si
remetendo à idealização do outro, fato que atribui
autoridade ao discurso produzido.
Está correto apenas o que se afirma em: