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O misterioso caso de Agatha Christie
Em 1920, exatamente um século atrás, ela publicou seu
primeiro livro. Entenda como viagens exóticas, timidez
crônica e uma pontinha de farmacêutica na 1ª Guerra
transformaram uma dama vitoriana na escritora mais
vendida e traduzida da história da civilização.
Texto: Carolina Fioratti
Era 4 de dezembro de 1926. O dia nasceu sob o peso
do ar gelado e úmido do inverno inglês. Um garoto encontra um
calhambeque Morris Cowley abandonado em uma vala às
margens de uma estradinha de terra, no interior da reserva
natural de Newlands Corner. Logo depois, chega um motorista
de caminhão; eles avisam a polícia.
Nos bancos do veículo, havia uma carteira de
habilitação vencida e algumas roupas femininas. A 700 metros
do local, fica um lago chamado Silent Pool – em português,
“piscina silenciosa”. De início, todos pensaram que a motorista
havia se afogado ali na madrugada anterior.
A vítima era Agatha Christie, 36, e ela havia acabado
de se tornar uma personagem de seus próprios livros. Naquele
ano, a escritora perdeu a mãe, e seu marido, o Coronel
Archibald Christie, pediu divórcio porque havia se apaixonado
por outra mulher. Consternada, às 21h45 da noite de 3 de
dezembro, Agatha subiu no carro e desapareceu. De Archibald,
guardou o sobrenome – com o qual assinou toda a sua obra.
Dez dias depois, a polícia encontrou a desaparecida no
tradicional hotel Hydro, a 300 quilômetros de Newlands
Corner. É a mesma distância que separa a capital paulista de
Paraty (RJ), mas Agatha teve lapsos de memória – não se
lembrava de ter embarcado em dois trens para percorrê-la. Ela
estava hospedada como Teresa Neele, sobrenome da mulher
pela qual o ex-marido a largou. Nesse meio-tempo, tabloides e
repórteres carniceiros acompanharam a investigação de perto e
espalharam todo tipo de boato.
Acusaram Agatha de armar o desaparecimento para se
vingar de Archibald ou para propagandear seu primeiro hit, O
Assassinato de Roger Ackroyd – já que ela, embora famosa,
ainda não era a celebridade que se tornaria depois: a autora mais
traduzida da história, na frente de Verne e Shakespeare (que
ficam em segundo e terceiro).
Ela não precisava sair no jornal para ficar famosa, é
claro: seus livros falam por si só. O grande mistério de Agatha
Christie não é seu sumiço, mas sua carreira. Como uma típica
dama vitoriana – que cresceu e casou em uma sociedade
machista, e sequer frequentou a escola – pôde cultivar seu
talento inigualável e construir os quebra-cabeças literários mais
influentes de todos os tempos?
[...]
Disponível em: https://super.abril.com.br/especiais/o-misterioso-caso-de-agathachristie/
Assinale a alternativa correta de acordo com o texto.