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Uso exagerado de e-mail deve evoluir para uma 'etiqueta'
Jenna Wortham
Certa manhã da semana passada, acomodei-me diante do
computador e olhei para minhas caixas de entrada de emails:
40 mil mensagens não lidas. (O número enorme se
relaciona à minha vida como jornalista, e às cinco contas diferentes,
pessoais e profissionais, que mantenho no serviço). Porque estava me sentindo estranhamente animada,
decidi atacar a montanha de mensagens, jogando fora sem
ler as mensagens de fóruns e os alertas de rede social.
Confirmei diversas reuniões por meio de mensagens breves,
respondi a convites que estavam há muito esperando
respostas e retribuí mensagens carinhosas de alguns amigos.
Trabalhei durante cerca de uma hora, e reduzi a pilha
de mensagens não lidas em 100 e-mails.
Satisfeita com o desempenho matinal, saí cedo para o almoço.
Mas quando voltei à minha mesa, uma hora mais tarde,
era como se eu não tivesse apagado coisa alguma. Dezenas
de mensagens novas esperavam respostas ou decisões.
Frustrada, fechei minha tela de e-mail e não consegui
retornar a ela pelo resto do dia.
Nem sempre foi assim. O e-mail um dia foi uma ótima ferramenta
de comunicação, menos intrusiva que o telefone e
mais rápida que os correios. Agora, mesmo quando funciona
como desejado, se tornou um pesadelo virtual – e, em
certos casos, um pesadelo real. Já tive muitos sonhos ruins
sobre perder mensagens importantes enviadas pelo meu
chefe.
O QUE DEU ERRADO
Parte do problema está em o formato do e-mail ter se estagnado
enquanto os demais recursos de comunicação e redes
sociais disparavam e o deixavam muito para trás, diz Susan
Etlinger, analista do Altimeter Group, que estuda como as
pessoas usam e interagem com a tecnologia e a internet. O
e-mail se organiza em larga medida por uma cronologia linear,
com pouca atenção a tópicos e a questões contextuais.
"
É como qualquer outra timeline ou feed", ela diz. "As coisas
têm seu momento e depois passam. O modelo atual do email
ficou obsoleto".
Enquanto as soluções não vêm, ainda preciso ficar de olho
em minha caixa de entrada ao longo do dia e faço – em papel
– uma lista de pessoas a quem preciso responder antes
de dormir. É um método arcaico, na melhor das hipóteses, e
raramente consigo responder a todos antes que o dia acabe.
SOLUÇÕES
Eu comecei a pensar na hipótese de declarar falência de email
– fechar minha conta e começar do zero com uma
nova – mas descobri uma nova opção nas guerras do email,
um aplicativo chamado Mailbox, para o Apple iOS, que
promete mudar a maneira pela qual administramos nossos
e-mails.
O Mailbox de certa forma reproduz um sistema mais antigo
e simples para lidar com a correspondência – correspondência
física –, que costumávamos separar logo que recebíamos.
As cartas mais importantes eram lidas primeiro, as
mensagens indesejadas iam para o lixo e algumas das correspondências
eram guardadas para leitura posterior. O app
faz mais ou menos a mesma coisa, ao permitir que os usuários separem sua caixa de entrada em três colunas claramente
demarcadas.
O e-mail tradicional é apenas uma parte das comunicações
eletrônicas que recebemos e requerem constante atenção.
Muitos de nós precisamos encarar um número cada vez maior de caixas de entrada – entre as quais as do Twitter,
Facebook, SNS, Skype, serviços de encontros on-line, LinkedIn
e Snapchat.
É possível que uma solução técnica não baste.
ETIQUETA
Joshua Lyman, consultor de tecnologia e blogueiro que recentemente
completou seu mestrado em sistemas de informação
pela Universidade Brigham Young, diz que o principal
problema do e-mail é social e cultural. Etiqueta e expectativa
precisam ser estabelecidas, da mesma forma que a
etiqueta telefônica evoluiu até que surgisse um entendimento
comum quanto a evitar telefonemas tardios ou no horário
das refeições.
"Não é a quantidade de e-mails que é o problema", diz Lyman.
"Mas sim as mensagens que requerem que percamos
tempo, procuremos arquivos, componhamos uma resposta
bacana. Os seres humanos só conseguem processar dado
volume de informações. Ficamos sobrecarregados".
E ele diz que isso é um sinal de esperança. Lyman acha
que poderemos resolver o problema, desde que assim desejemos.
Por exemplo, podemos tentar manter nossos emails
de trabalho curtos, inspirando-nos nos 140 caracteres
que limitam os posts do Twitter. E podemos encontrar maneiras
melhores de colaborar, para que organizar um almo-
ço não requeira a troca de 10 mensagens.
"Ensinamos às pessoas como usar a internet, nos últimos
20 anos", diz Lyman. "Basta descobrir como interagir com o
e-mail para que ele nos cause menos problemas".
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/tec.shtml>. Acesso em: 18
mar. 2013. [Adaptado].
O uso da palavra “até”, em “A etiqueta telefônica evoluiu
até que surgisse um entendimento comum”, pressupõe
que os eventos relativos ao uso de instrumentos de comunicação