O clima definitivamente entrou na pauta global
Reinaldo Canto
Já não era sem tempo e nem por falta de sinais gritantes das mudanças climáticas, cada
vez mais intensos e preocupantes. Finalmente, a questão foi reconhecida como uma seríssima
ameaça à sobrevivência do ser humano num planeta mais quente e instável.
As boas notícias começaram no encontro do G-7, o grupo de países mais desenvolvidos do
mundo (Alemanha, França, Reino Unido, Itália, EUA, Canadá e Japão) reunidos na Alemanha,
que decidiu, pela primeira vez, encarar de frente o desafio de “descarbonizar" a economia. Ou
seja, por um fim, mesmo que a longo prazo, ao uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e
gás natural), que tem sido a base energética da economia mundial ao menos há 200 anos.
Inicialmente, o acordo dos países ricos prevê a redução entre 40 e 70%, até o ano de 2050,
das emissões de gases de efeito estufa; e o comprometimento com aportes de recursos para um
fundo de US$ 100 bilhões a serem investidos em tecnologia para a adoção de energias limpas e
renováveis nos países pobres, principalmente no continente africano.
O objetivo mais imediato dos países que compõem o G7 é o de frear o aquecimento do
planeta para que não ultrapasse os dois graus centígrados, considerados pelos cientistas um
patamar crítico, já que o aumento da temperatura média poderá acarretar mais fenômenos
climáticos extremos, extinção acelerada de espécies, além de acarretar o aumento nos níveis dos
oceanos, entre outras consequências. Segundo o comunicado emitido pelo G7, a economia
mundial deverá estar “descarbonizada" até o ano de 2.100.
Ainda faltam detalhes sobre como será a execução do plano na prática, mas o anúncio e a
importância dada ao tema são inéditos e demonstram claramente a preocupação desses líderes
com o futuro do planeta. Isso não é pouca coisa. Muitos entenderam a posição como histórica,
por representar o início do fim da era dos combustíveis fósseis, até aqui a base da economia
global desde a Revolução Industrial.
A outra boa notícia veio do Vaticano e eis que, mais uma vez, o Papa Francisco surpreende
e renova o seu empenho em falar sobre problemas contemporâneos. Desta feita, em sua primeira
encíclica – “Laudato si'" (Louvado sejas), ele cita o Patriarca Ecumênico Bartolomeu: “Um crime
contra a natureza é um crime contra nós mesmos e um pecado contra Deus".
Se não fosse pouca coisa, o Papa ainda afirma, fazendo uma direta referência às
mudanças climáticas, que o urgente desafio de proteger a nossa casa comum inclui a
preocupação de unir toda a família humana na busca de um desenvolvimento sustentável e
integral, pois sabemos que as coisas podem mudar.
Em consonância com os preceitos adotados desde a Conferência das Nações Unidas, a
Rio+20, no Rio de Janeiro em 2012, que colocou o desenvolvimento sustentável ao lado da
erradicação da pobreza, o Papa Francisco fez coro e reforçou a sua preocupação com os menos
favorecidos: “São inseparáveis as preocupações com a natureza, a justiça para com os pobres, o
empenho da sociedade e a paz interior".
E agora, Brasil?
Em recentes declarações durante o encontro de cúpula com a União Europeia, a Presidenta
Dilma Rousseff afirmou que o Brasil tem sido um dos países que mais reduziu suas emissões,
graças principalmente à queda do desmatamento. Mesmo assim, para a 21ª Conferência do
Clima a ser realizada em Paris no final do ano, será preciso um compromisso mais efetivo e não
apenas jogo de palavras.
Nessa ocasião, deverão ser assumidos novos compromissos para substituir o Protocolo de
Kyoto, com metas mais ambiciosas para todos os países. Ainda mais entre os maiores
emissores, caso do Brasil, que ocupa a 10ª posição. As pressões sobre o governo já começaram,
entre elas, o Lançamento da Coalizão Brasil: Clima, Florestas e Agricultura, movimento com a
presença de mais de 50 entidades representantes do setor privado e de importantes
organizações do terceiro setor, que “pretende propor e promover políticas públicas para o
estímulo à agricultura, à pecuária e à economia florestal que impulsionem o Brasil como
protagonista na liderança global da economia sustentável e de baixo carbono, gerando
prosperidade, com inclusão social, geração de emprego e renda".
A Coalizão vai divulgar um documento que apresenta propostas de políticas e ações
efetivas que devem contribuir para a estruturação da posição do Brasil na COP21.
Nesses seis meses que faltam para o encontro de Paris, novas discussões e debates virão,
e o Brasil deve entrar no clima positivo que começa a tomar corpo mundo afora.
Disponível em: <http://www.cartacapital.com.br/sustentabilidade/o-...> . Acesso em: 06 ago. 2015. [Adaptado]
O texto tem como propósito comunicativo dominante