Texto para responder à questão.
Carta aberta a Lourenço Diaféria*
Dom Lourenço:
Sou um assíduo leitor. Leio tudo e continuamente. No
banheiro, no ônibus, no quintal, na calçada; de madrugada,
tarde, noite; livros, livretos, folhetins, revistas, cartazes,
pichações, jornais, jornalecos, folhas soltas, propagandas,
guias telefônicos, bulas, portas de banheiro e até uma ou
outra palma da mão.
Sou um leitor.
Sou um leitor por imagem refletida, como num espelho
ou numa montanha de ecos, pois o que eu queria mesmo
era ser escritor. Vã esperança. Louco sonho. Não fui ou não
aconteci, como se diz agora. Daí virei leitor; não virei, nasci
leitor... Mas, desgraça minha – ou sorte –, não sou um leitor
técnico, erudito, de análise. Não, não consigo sequer
desvendar normas gramaticais, estilos, influências... Dir-se-
-ia leitor cru? E como não bastasse: gringo, estrangeiro,
Tupac-Amaru. Sou apenas um glutão de imagens, sentimentos, emoções e vibrações. Sou um leitor de nó na garganta e
lágrimas fáceis. Sinto nas palavras, por outros escritas,
aquilo tudo que está dentro de mim, que queria expressar e
não consigo; que sinto e não sei transmitir.
Ah! Dom Lourenço... É a mesma coisa que ter um balão
dentro da gente que vai enchendo de emoções, emoções,
emoções, pronto a explodir, e, quando acontece, estoura o
peito e espalha aquelas palavras todas – imagens e sentimentos – salpicando todos em volta, pintando-os todos
multicolores, floridos, irmanando-os, tornando os homens
mais humanos, mais compreensivos, mais amigos, mais
altos, mais nobres e mais puros.
Sou um leitor. E como tal tenho um aferido e aguçado
“sentimentômetro” de revoluções mil, de pique e médias,
de luzes amarelas, verdes e vermelhas. E meu particular
aparelho de medir sentimentos há muito não acusava
pressão máxima. Há muito eu não sentia a faixa vermelha, o
assobio estridente, a pulsação acelerada, o lacre de segurança quebrado, que anuncia próxima e inadiável explosão.
Mas ao ler Morte sem colete o aparelho funcionou e senti
em mim a caldeira de pressão, o rio sem barragem, a sombra
fresca, cântaro na fonte, grito de liberdade, toque de
recolher, queda e consciência...
Gracias, muchas gracias, por nos tornarmos irmãos no
sentir e transmitir.
*Lourenço Carlos Diaféria foi um contista, cronista e
jornalista brasileiro.
(MEYER, Luís Aberto. In: Magistrando a Língua Portuguesa: literatura
brasileira, redação, gramática, metodologia do ensino e literatura
infantil. Rose Sordi. São Paulo: Moderna, 1991.)
Ao falar de seus sentimentos em relação à leitura, o autor
vale-se de um neologismo por meio do termo “sentimentômetro”. Diante de tal expressão e a partir do contexto,
pode-se afirmar que o autor: