- ID
- 1743730
- Banca
- INSTITUTO AOCP
- Órgão
- EBSERH
- Ano
- 2015
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Por que algumas pessoas poderosas agem como
tiranos?
Ana Carolina Prado
Nos anos 70, o psicólogo Philip Zimbardo queria
entender por que as prisões são tão violentas.
Então, ele decidiu criar uma prisão artificial no
porão da Universidade de Stanford. Os voluntários
do experimento foram divididos entre prisioneiros e
guardas e deveriam cumprir esses papéis por duas
semanas. Porém as condições ali ficaram tão tensas
que foi necessário acabar com tudo em apenas seis
dias. Logo no começo, as pessoas que assumiram o
papel de guarda se tornaram extremamente sádicas e
autoritárias, impondo castigos como privação de sono
e comida. Os “prisioneiros" responderam fazendo
rebeliões. Esse é um ótimo (e macabro) exemplo de
como o poder pode corromper as pessoas. E nós
sabemos que, na vida real, muita gente poderosa faz
coisa parecida – ou pior.
Os pesquisadores das Universidades de Stanford,
do Sul da Califórnia e de Northwestern fizeram um
estudo, a ser publicado no Journal of Experimental
Social Psychology, para entender melhor por que
esse tipo de coisa acontece. E descobriram que o
problema está na combinação de poder e baixo status.
No experimento, os autores simularam atividades
de uma empresa e dividiram os voluntários
aleatoriamente em papéis de chefes e subordinados,
variando em status e poder. Em seguida, esses
indivíduos puderam selecionar tarefas em uma lista
de 10 para os outros executarem. O resultado mostrou
que as pessoas com papeis de maior poder e menor
status escolheram atividades mais humilhante para
os seus parceiros (por exemplo, latir como um cão
três vezes) do que os de qualquer outra combinação.
Os pesquisadores chegaram à conclusão de que,
quando as pessoas recebem um papel que lhes dá
poder, mas não têm o respeito que normalmente
o acompanha, podem acabar se empenhando em
comportamentos degradantes. Elas se sentem mal
em estar numa posição de baixo status e acabam
usando sua autoridade humilhando outros para se
sentir melhor. É tipo o que acontece com aquele chefe
tirano que ninguém respeita e todo mundo odeia.
Isso pode ter contribuído para os abusos cometidos
por militares em prisões, bem como no experimento
de Zimbardo nos anos 70. Em ambos os casos, os
guardas têm o poder, mas falta-lhes o respeito e
admiração dos outros. “Nossas descobertas indicam
que a experiência de ter poder sem status, seja como
membro das forças armadas ou como um estudante
universitário que participa de um experimento, pode
ser um catalisador para comportamentos degradantes
que podem destruir relacionamentos e impedir a
cooperação", diz o estudo.
Os pesquisadores de Standford e Northwestern
reconheceram, porém, que há outros fatores
envolvidos. Só porque uma pessoa tem o poder ou
está em uma posição de baixo status não significa
necessariamente que ela irá maltratar os outros.
Assim, essa história de que o poder corrompe nem
sempre é verdade. Mas uma alternativa encontrada
por eles para evitar abusos é encontrar formas
para que todos os indivíduos, independentemente
do status de seus papéis, se sintam respeitados e
valorizados. “O respeito alivia sentimentos negativos
sobre sua posição e os leva a tratar os outros de
forma positiva", diz o estudo. Também é importante
haver oportunidades para o crescimento, pois a
pessoa tende a melhorar seu comportamento e seus
sentimentos quando sabe que pode ganhar uma
posição melhor no futuro.
Adaptado de http://super.abril.com.br/blogs/como-pessoasfuncionam/
category/sem-categoria/page/17/
Em “... deveriam cumprir esses papéis por duas semanas.", a expressão destacada refere-se a