Como as faces de Janus
Vivemos no mundo das redes, dos computadores
portáteis, da telefonia móvel, na era da informação
ubíqua, da notícia instantânea, global, planetária, que
percorre – num átimo– as veias e artérias de fibra
óptica do planeta. Nesse contexto, a cibercultura tem
um papel ambiguamente universal: ela potencializa
aquilo que somos, sem fazer exceções acerca de valores
morais, políticos e ideológicos. Ela, como as demais
projeções de nossa própria cognição, enfim, de nossa
consciência e inteligência além de nossos próprios
corpos biológicos, exprime com precisão aquilo que
realmente somos. Na internet, por exemplo, encontra-se
absolutamente tudo, em termos de conteúdos. O
que vai diferenciar a experiência é justamente o usuário e sua cognição particular, que se estende além
dele através dessas redes informacionais. Num só
termo, trata-se de extensões de nossa própria mente
plasmadas nos objetos técnicos que concebemos e
usamos. Se mergulho no ciberespaço para pesquisar
algo importante, que diz respeito à minha pesquisa
da crítica da tecnologia, e já tenho em mente o que
procuro, minha experiência será uma, e dirá respeito a
uma intenção que já trago comigo e que estendo aos
tais objetos, mas se só intuo a minha busca, se saio a
navegar de link em link, minha experiência será completamente
diferente, e poderei chegar a lugares inimaginados,
ou, também, a lugar algum, dependendo
do que sejam as minhas próprias expectativas.
O que queremos dizer é que não há nada nas tecnologias
que não seja absolutamente humano. Todos
os conteúdos foram programados, postados e produzidos
por seres humanos, e é por isso que a cibercultura
e o ciberespaço servem também a terroristas
fundamentalistas, pois são como espelhos límpidos
da nossa própria face no mundo, de nossas ações e
intenções, sejam elas pacifistas, terroristas, ecologistas,
capitalistas e assim por diante. Como as duas faces
de Janus, a cibercultura e o ciberespaço trazem para
nós que os utilizamos potencializações e reciprocidades
daquilo que de fato já somos, e se por um lado
podem ser usados como ferramentas educacionais,
pedagógicas, humanitárias, por exemplo, de pesquisa
escolar, acadêmica e científica, objetivando uma
sociedade melhor, mais esclarecida e igualitária, por
outro podem, também, dar suporte a fins e intenções
totalmente diversos, como ensinar a fazer bombas,
espalhar pelo mundo ideologias extremistas e fundamentalistas
infames, coordenar ataques terroristas
aqui ou alhures e assim por diante. É como se Janus
não tivesse apenas duas, mas sim infindáveis faces e
expressões, assim como a humanidade tem, ou seja,
não foi a internet que começou e provocou o terrorismo,
mas sim o contrário: há terrorismo, intolerância
e desumanidade no mundo, nas culturas, nas mentes
e corações humanos, por isso também se refletem
nesse grande espelho que a internet de fato é.
Nota: Janus é um deus romano cuja imagem está
associada a mudanças e transições. No texto, a referência
a Janus indica ambiguidade.
QUARESMA, A. Ruptura e tragédia social. Sociologia. ed. 72. 2017. p.
52; 55-57.[Adaptado]
Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V )
e as falsas ( F ) com relação à frase abaixo retirada do
texto.
Vivemos no mundo das redes, dos computadores
portáteis, da telefonia móvel, na era da informação
ubíqua, da notícia instantânea, global, planetária, que
percorre – num átimo– as veias e artérias de fibra
óptica do planeta. (1° parágrafo)
) Na frase, há marca gramatical que evidencia
que o autor faz parte do contexto descrito.
( ) A palavra “ubíqua” pode ser substituída por
“onipresente”, sem prejuízo de sentido na frase.
( ) A palavra “átimo” pode ser substituída por
“instante”, sem prejuízo de sentido na frase.
( ) Em “as veias e artérias de fibra óptica do planeta”,
há uso figurativo da linguagem, por isso
a informação não deve ser interpretada em
sentido literal.
( ) A expressão “num átimo” funciona como
aposto explicativo do termo “percorre”.
Assinale a alternativa que indica a sequência correta,
de cima para baixo.