- ID
- 1469005
- Banca
- COVEST-COPSET
- Órgão
- UFPE
- Ano
- 2014
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
TEXTO 1 
                              Compro, logo existo. 
(1)  Templo  de  culto  à mercadoria,  o modelo  do  shopping  center,  como o conhecemos hoje, nasceu nos Estados Unidos na década  de 1950. São espaços privados, objetivamente planejados para a  supremacia da ação de comprar. O que se compra nesses centros,  contudo, é muito mais do que mercadoria, serviços, alimentação e  lazer. Compra-se distinção social, sensação de segurança e ilusão  de felicidade e liberdade.  
(2) O  shopping  center  é um  centro de  comércio que se completa  com alimentação (normalmente do tipo fast food), serviços (bancos,  cabeleireiros,  correios,  academias  de  ginástica,  consultórios  médicos, escolas) e lazer (jogos eletrônicos, cinema, internet). Ali o  consumidor  de  mercadorias  se  mistura  com  o  consumidor  de  serviços e de diversão, sentindo-se protegido e moderno. Fugindo  de  aspectos  negativos  dos  centros  das  cidades  e  da  busca  conjunta  de  soluções  para  eles,  os  shopping  centers  vendem  a  imagem de serem  locais com uma melhor  “qualidade de vida” por  possuírem  ruas  cobertas,  iluminadas,  limpas  e  seguras:  praças,  fontes,  bulevares  recriados;  cinemas  e  atrações  prontas  e  relativamente  fáceis de serem adquiridas - ao menos para os que  podem pagar. É como se  “o mundo de  fora”, a vida  real, não  lhes  dissesse respeito...  
(3)  O  que  essa  catedral  das  mercadorias  pretende  é  criar  um  espaço  urbano  ideal,  concentrando  várias  opções  de  consumo  e  consagrando-se  como  “ponto  de  encontro”  para  uma  população  seleta  de  seres  “semiformados”,  incompletos,  que  aceitam  fenômenos historicamente construídos, como se fizessem parte do  curso da natureza. O imaginário que se impõe é o da plenitude da  vida pelo consumo. Nesses espaços, podemos ocupar-nos apenas  dos  nossos  desejos  -  aguçados  com  as  inúmeras  possibilidades  disponíveis  de  aquisição.  Prevalece  a  ideia  do  “compro,  logo  existo”. 
(4)  Concluímos  que  esse  mundo  de  sonhos  que  é  o  shopping center  acaba  reforçando nas pessoas uma  visão  individualista da vida,  onde  os  valores  propagados  são  todos  relacionados  às necessidades e aos desejos  individuais -  “eu quero, eu posso, eu compro”.  Assim, colabora para uma deterioração do ser social e o retardamento  do  projeto  de  emancipação  de  seres  mais conscientes,  autônomos,  prontos  para  a  sociabilidade  coletiva  - que exige a capacidade da troca desinteressada, da tolerância, da relação verdadeiramente humana entre o eu e o outro, entre iguais e entre diferentes. Compreendemos que um ser social emancipado identifica as necessidades  individuais com as da coletividade, sem colocá-las em campos opostos. 
(5) O shopping center híbrido  representa hoje o principal  lugar da  “sociedade de consumo”, contribuindo para a sacralização do modo  de vida consumista e alienado, um modo de vida em que há uma  evidente predominância de símbolos como status, poder, distinção,  jovialidade, virilidade etc., sobre a utilidade das mercadorias. O que  se  pode  concluir  é  que  o  sucesso  da  fórmula  atual  do  shopping  center  híbrido  como  lugar privilegiado para a  realização da  lógica  consumista  traz  consigo  o  fracasso  da  plenitude  do  ser  social,  distanciando-o  de  qualquer  projeto  de  emancipação  e  de  humanização do ser humano. Como diz o poeta Carlos Drummond  de Andrade no poema Eu Etiqueta: “Já não me convém o título de  homem./ Meu nome novo é coisa./Eu sou a coisa, coisamente”.  
                                                                        (Valquíria Padilha. A sociologia vai ao shopping center.  Ciência 
                                                                                    Hoje, maio de 2007, p. 30-35. Adaptado).
  
Considerando a totalidade do Texto 1, podemos afirmar que o tema central defendido pelo autor se resume nos seguintes termos: