- ID
- 3339181
- Banca
- IDECAN
- Órgão
- Câmara de Coronel Fabriciano - MG
- Ano
- 2017
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Os princípios que faltam
O sucesso atingido pelos antigos romanos na constituição do maior império de todos os tempos se assentava em
regras pétreas ensinadas aos jovens, praticadas pelas melhores famílias e cobradas com rigidez na base da “Dura Lex, sed
Lex”.
Roma cresceu e se diferenciou de outros povos do Mediterrâneo por ter maior facilidade de se organizar em
decorrência da clareza de seus princípios.
Não podemos pensar que eram frouxos e inconsequentes, tocando a lira enquanto a cidade ardia em chamas; essas
versões, escritas pelos vencedores que pretendiam se desfazer da Roma Antiga, são hoje superadas, proporcionalmente
ao enfraquecimento da “Index”.
O sistema romano até hoje é o padrão de organização dos Estados modernos, ordenados em Poderes autônomos
como Executivo, Legislativo, Judiciário, dando ainda através dos tribunos voz ao povo.
O Brasil pretende ser uma República inspirada no sistema romano, como é o resto do planeta, mas continua
patinando na instabilidade, deixando seu potencial “gigantesco” deitado em berço esplêndido, enquanto o sofrimento de
milhões de pessoas persiste e se agrava.
Embora possam se encontrar muitos motivos para o fracasso verde-amarelo, um em especial chama a atenção de
quem analisa os “princípios”. Como a palavra afirma, o princípio se faz base e alicerce de algo que precisa ser sustentado;
quanto mais sólido o princípio, mais possibilidade de elevar a construção e deixá-la resistente.
Em Roma a honra de participar do Legislativo ou de comandar um exército não era remunerada, tinha que ser
voluntária e espontânea, no máximo cabia à pessoa que já tinha alcançado um equilíbrio financeiro em sua vida, um Arco
do Triunfo, uma estátua, uma homenagem. Os impostos arrecadados e os tratados onerosos de paz com os
“conquistados” eram do Estado.
O Legislativo, Senado e tribunos, nada recebia. Obviamente interesses se insinuavam nas decisões, mas pátria, em
sua grandeza, era entendida como o conjunto da nação. Os servidores do Estado eram remunerados através do tesouro
do Estado.
O Brasil de hoje registra no Doing Business do Banco Mundial o vergonhoso e insuportável primeiro lugar no ranking
dos países com o “maior tempo gasto no pagamento de impostos”. Uma ofensa à modernidade e à justiça refletida pelas
1.958 horas gastas em um ano. O segundo colocado, outro país latino-americano, a Bolívia, com cerca da metade, ou
1.025 horas, em quarto, a Venezuela (devastada), com 792 horas, em décimo a Guiné Equatorial, com um quarto do
recorde brasileiro, 492 horas.
O próprio Otaviano Canuto, economista, representante do Brasil no Banco Mundial, afirmou, em entrevista a Claudia
Trevisan: “o nosso ponto de partida (do Brasil) é horroroso... é nosso estilo de capitalismo de compadrios, onde você
coloca dificuldade para vender facilidade”.
Dessa forma, a economia é asfixiada, distorcida, assoberbada de empecilhos contrários à geração de renda. Bem por
isso o brasileiro, que até 15 anos atrás possuía uma renda per capita sete vezes superior à de um chinês, foi ultrapassado
neste ano e deverá ficar a cada ano mais distanciado.
“Vender facilidades” no vocabulário tupiniquim representa cobrar propinas. Exatamente o grau de complexidade do
enfrentamento do dever com o Estado vulnerabiliza especialmente quem começa, o pequeno empreendedor. No cipoal
de complicações aparece um Estado que, longe de servir, se arroga ser servido, que no lugar de fomentar, apoiar, ajudar,
incentivar a geração de oportunidades sordidamente as sequestra, as castiga, as deixa inatingíveis. O muro que separa o
iniciante de quem já chegou é intransponível no Brasil.
O país bate todos os recordes de ineficiência burocrática e ao mesmo tempo de corrupção, declinada em todas as
formas mais perversas e contrárias à aceleração de oportunidades. Corrupção se representa também em “consultorias”
de araque, “notas frias”, “simulações de prestações de serviços”, falsidades documentais, “operações estruturadas”,
“financiamentos para partidos” e uma caterva de perversidade que forma o aglomerado mais podre da corrupção
mundial.
A excrescência tem como cúmplice um Legislativo que, ao passo que seus subsídios e mordomias foram ficando os
maiores do planeta, mais corrupção foi despejando para fora com seus líderes mais destacados atolados e agarrados às
cadeiras como se estas já não tivessem sido perdidas.
Inconcebível como números fragorosamente “horrorosos” não levem as lideranças nacionais a lançar um pacto de
modernização e descomplicação retirando das gavetas milhares de empreendimentos reféns das “dificuldades úteis aos
corruptos”.
(Vittorio Medioli. Disponível em http://www.otempo.com.br/opini%C3%A3o/vittorio-medioli/os-princ%C3%ADpios-que-faltam-1.1544188.
Acesso em: 23/11/2017.)
No texto em análise, o autor faz menção a Roma para: