- ID
- 2169967
- Banca
- REIS & REIS
- Órgão
- SPDM
- Ano
- 2012
- Provas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Língua e sociedade
Onde se usava terno e gravata, usa-se ‘jeans’ e camiseta; onde se usava sapato, usa-se tênis. Usa-se tênis até mesmo com terno... Na sua coluna de fevereiro, Sírio Possenti fala do aumento da informalidade na nossa sociedade e de como isso afeta a língua.
Por: Sírio Possenti
Publicado em 24/02/2012 | Atualizado em 24/02/2012
A sociedade brasileira vive um aumento visível da informalidade. Prova disso são os trajes atuais de trabalho e de viagem. O fenômeno também explica a preferência por determinadas formas de tratamento e de dar ordens. (fotos: Sxc.hu e reprodução)
Como já disse anteriormente neste espaço, muitos pensam nas línguas tendo como pano de fundo apenas a questão da correção. Essa mentalidade alimenta os discursos da decadência, velhos como a humanidade. Desde que se tem notícia, camadas (superiores?) da sociedade afirmam que a língua está em decadência.
O que alimenta essa tese é a crença de que teria havido uma língua perfeita: a de antes de Babel, o grego antigo, o latim clássico, até mesmo o português antigo, que era, em certo sentido, o latim ‘errado’. Mas línguas nunca foram perfeitas, pelo menos não no sentido que se atribui à palavra nesses ‘centros’ de pensamento. É pura ideologia, no sentido mais banal da palavra.
Outros tantos pensam que as línguas são meios de comunicação. O que importa é a mensagem, o objetivo é ser bem-sucedido (chega-se a ouvir que o erro seria não ser entendido!). O curioso é que, às vezes, a melhor comunicação (publicitária, literária, humorística) é aquela em que a mensagem está implícita. Ora, o implícito é o que não é comunicado, por definição.
Mas uma língua é bem mais do que tudo isso. Seria o principal divisor entre humanos e não humanos. Além disso, estaria fundada em princípios universais, quiçá biológicos, alguns deles inatos, tese obviamente controversa, mas que se reforça numa época em que pesquisas genéticas ganham espaço e força.
Não se pode perder de vista as relações entre as línguas e aspectos das sociedades em que são faladas
Apesar disso, há questões ‘superficiais’ que são extremamente interessantes, porque marcam as línguas vivas em seu funcionamento real (e perceptível) no interior das sociedades. Por mais que as pesquisas sobre os universais sejam relevantes, não se pode perder de vista as relações entre as línguas e aspectos das sociedades em que são faladas.
Alguns fenômenos são bem visíveis. Alguns são mencionados em todos os manuais introdutórios, que necessariamente discutem as relações entre língua e cultura. A questão começa na relação com a natureza: até que ponto o ambiente interfere na língua? Certamente, climas frios ou quentes condicionam o léxico e estão na origem de algumas metáforas. O caso sempre mencionado é o do número de palavras para neve em línguas esquimós, ou para camelo entre os beduínos, ou para dinheiro e cachaça entre nós. Mas quem não vê logo que se trata de relação língua-ambiente mediada pela cultura que avalia esses objetos?
Palavras novas, ou sentidos novos de palavras antigas, surgem para designar elementos novos que são relevantes (termos do futebol ou da informática, por exemplo), termos desaparecem porque se referiam a ‘objetos’ que desapareceram ou perderam importância. Quem ainda sabe o que é “concunhado”?
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A partir da leitura do texto é correto afirmar: