TEXTO 1
Capitães de areia: até quando?
Com publicação datada de 1937, a obra Capitães de Areia,
de Jorge Amado, repercutiu de forma polêmica, a ponto de
ser censurada pelo Estado Novo varguista, sob a acusação
de propaganda comunista. Embora o comunismo fosse
citado de forma lateral ao longo do texto, o enredo consiste
numa crítica social relacionada a um problema latente de
sua época: transgressões perpetradas por crianças de rua.
[...]
Passados quase oitenta anos, as causas profundas
elencadas pelo autor para descrever tal realidade não nos
soam remotas. Pelo contrário, dispomos de uma tenebrosa
familiaridade com elas. Embora essa não seja a mensagem
principal do livro, é inegável que a exclusão social se
converte em violência, e esta se torna potencialmente
capaz de atingir não só o excluído, mas os outros
indivíduos que cruzam seu caminho, visto que a reação do
oprimido pode vir na forma de opressão.
No Brasil hodierno, toda vez que chega o verão a história
se repete. Como uma espécie de quadro paradigmático das
consequências da exclusão endêmica, o distúrbio e o medo
causados pelos arrastões nas praias da zona sul carioca e
pelos assaltos nas ruas das regiões mais nobres, ganham
protagonismo nas manchetes dos jornais e nas redes
sociais.
Excetuando uma minoria que consegue ter uma visão
holística do problema, as propostas de soluções
apresentadas para acabarmos com os “capitães de areia”
contemporâneos, são sempre simplistas e nunca tocam na
estrutura do problema. Não se vê, por exemplo, um
empenho decisivo para cobrar projetos de inclusão que
devolvam, a longo prazo, a cidadania às gerações
vindouras.
(Leandro Galvão. Capitães de areia: até quando? Disponível em
www.diplomatique.org.br./artigo.php?id=18118. Acessado em
22/09/2016. Adaptado.)
O Texto 1 tem sua importância social, pois: