INSTRUÇÃO: Leia o texto I a seguir para responder à questão.
TEXTO I
Por que a bolha da maconha legal do Canadá
estourou
Quando o Canadá legalizou a maconha, cerca de um ano
atrás, a disputa para entrar no recém-criado mercado,
que envolveu investidores como o rapper Snoop Dogg
e um ex-chefe da polícia de Toronto, foi apelidada pela
imprensa de “corrida verde”.
Mas, assim como na corrida pelo ouro nos anos 1850,
o brilho desvaneceu, e investidores acabaram comendo
poeira. Para completar, a despeito da legalização, muitos
canadenses ainda compram maconha no mercado
negro.
“Não era preciso ser um especialista para reconhecer
que essas transações (financeiras envolvendo a
maconha) estavam baseadas em fantasia”, diz Jonathan
Rubin, CEO da New Leaf Data Services.
Com décadas de experiência no mercado de commodities
de energia, Rubin viu a legalização da Cannabis em
Estados como Colorado e Califórnia, nos EUA, e depois
no Canadá, como oportunidade única para estrear em
uma nova commodity.
“Tive uma epifania de que essa iria ser uma commodity
como qualquer outra”, ele disse à BBC. Ou seja: para
ele, o preço da Cannabis no atacado flutuaria como o
valor do trigo ou do porco.
Por isso, em vez de investir no produto em si, Rubin
começou a New Leaf para rastrear o preço da Cannabis
nos Estados onde era legal. Investidores e outras
pessoas do setor pagam pelo acesso a esses dados.
Esse modelo de negócios deu a Rubin um ponto de vista
interessante de como o mercado se desenvolveu. No
Canadá, diz, ele decepcionou.
“Não houve o crescimento em vendas e os ganhos
imaginados”, afirmou ele. “Não quero dizer que é um
fracasso, mas definitivamente houve decepções.”
Os preços no atacado caíram cerca de 17% desde que a
New Leaf começou a rastrear os dados, o que manteve
as margens de lucro apertadas para os produtores.
As vendas também desaceleraram, de acordo com o
Statistics Canada.
Isso causou uma montanha-russa nos preços das ações
de empresas de capital aberto no mercado de Cannabis.
Em maio de 2018, a produtora canadense Canopy
Growth ganhou as manchetes quando se tornou a
primeira empresa de maconha a ser listada na Bolsa de
Valores de Nova York.
Seis meses depois, o preço de suas ações havia
dobrado, atingindo US$ 52,03.
Agora, os papéis voltaram ao patamar original — e os
concorrentes da Canopy sofreram perdas igualmente
drásticas.
Problemas de crescimento
Os sinais de problemas surgiram logo no início. Quando
a maconha foi legalizada, em 17 de outubro de 2018,
não havia oferta suficiente para atender a demanda.
Longas filas e pedidos atrasados atormentavam os
consumidores. Os produtores não tinham certeza de
quais tipos seriam mais populares em que lugares,
e os problemas na cadeia de distribuição ainda estavam
sendo resolvidos.
“Tentamos entender quais tipos deveríamos cultivar,
em quais formatos e quantidades [...]. Fizemos um
ótimo trabalho, mas não acertamos em tudo”, diz Rade
Kovacevic, presidente da Canopy.
Uma colcha de retalhos de leis locais canadenses
também tornou o acesso dos consumidores aos produtos
mais difícil. Embora seja fácil comprar maconha em
algumas regiões, em outras as lojas físicas são escassas
e distantes entre si.
Isso acontece especialmente em Ontário, a província
mais populosa do Canadá. A burocracia e o limite no
número de pontos de venda de maconha tornaram a
implementação lenta. Apenas 24 licenças de varejo e
todas foram concedidas (por loteria) para atender a uma
população de 14,5 milhões.
E, onde antes havia escassez, agora há muito produto
disponível, em parte por causa da falta de pontos de
venda.
Em setembro de 2019, os canadenses compraram
11.707 kg de Cannabis seca no Canadá. Mas os
produtores tinham um total de cerca de 165.000 kg de
produtos acabados e inacabados prontos para venda —
mais que o suficiente para atender a demanda por um
ano inteiro.
Kovacevic atribui muitos dos problemas de sua empresa
a dificuldades no varejo em Ontário.
“Acho que a falta de continuidade dos pontos de venda
em todo o país atrasou a transição do mercado negro
para o mercado legal”, afirma. “Foi um desafio.”
Mercado negro prosperando
Quando o governo anunciou a decisão de legalizar a
maconha, uma de suas principais motivações era reduzir
o mercado negro.
Mas o Statistics Canada, que mede as estatísticas do
país, estima que cerca de 75% dos usuários de maconha
ainda usam Cannabis ilegal.
“Há uma resistência muito forte a lojas legais porque
a) são mais caras e b) não há suficientes. As lojas não
estão perto das pessoas, que então decidem continuar
comprando com o seu ‘cara’ de sempre”, diz Robin Ellis,
cofundador da varejista de Toronto The Friendly Stranger
e ativista da legalização da maconha.
Havia apenas cinco lojas de varejo abertas em Toronto
em 2019, e todas estavam concentradas no centro da
cidade, o que significava que muitas pessoas tinham que
dirigir quilômetros se quisessem comprar maconha legal.
Além disso, a maconha legal também é muito mais cara.
O preço de varejo da Cannabis legal aumentou, de
9,82 dólares canadenses por grama em outubro de 2018
para 10,65 dólares canadenses por grama em julho,
segundo o Statistics Canada.
Enquanto isso, o preço do grama ilegal caiu de 6,51 para
5,93 dólares canadenses.
Legalizar a maconha
Talvez uma das razões pelas quais as vendas tenham
sido fracas para os produtores seja que, ao contrário do
que alguns especialistas em saúde temiam, a legalização
da maconha não transformou todos em maconheiros.
No ano passado, a porcentagem de canadenses que
consumiam maconha cresceu de 14% para 17%.
Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/
internacional-50935153>. Acesso em: 5 jan. 2020
(Adaptação).
De acordo com o texto, assinale a alternativa correta.