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Prova IBADE - 2020 - Prefeitura de Vila Velha - ES - Professor - Língua Portuguesa


ID
3414067
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo e responda ao que se pede.

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira
livre e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de
Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de
Freitas e morreu afogado.

Manuel Bandeira

Dentre as características presentes nas alternativas abaixo, a alternativa em que elas NÃO justificam o título do texto é:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    ? Lembrando que queremos uma alternativa incorreta:

    ? o eu lírico, conturbado, revela a insatisfação do personagem com sua vida, culminando no suicídio ? essa insatisfação não é revelada, ao contrário, tudo mostra que há satisfação, visto que ele bebe, dança, enfim, se mostra feliz e não infeliz.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Questão confusa e deixa bem claro que a resposta é baseada na cabeça de quem fez a questão...

  • Tentei encontrar a alternativa mais absurda, "a mais errada" por assim dizer: "o eu lírico, conturbado", ninguém está conturbado nesse poema, nem o personagem muito menos o narrador.

  • Dentre as características presentes nas alternativas abaixo, a alternativa em que elas NÃO justificam o título do texto é:

    QUE NÃO JUSTIFICA O TÍTULO DO TEXTO, E NÃO O TEXTO EM SI.

    Questão passível de anulação.

  • A questão quer que o candidato encontre a alternativa que não justifica o título do texto.

    O examinador disse texto, ,as entendo que ele se referiu a todo o poema. Vejamos a alternativa incorreta.

    a) a objetividade, a impessoalidade e a aparente imparcialidade do eu lírico.

    Correto. O eu lirico é objetivo não se envolve em nada no poema, apenas serve de narrador.

    Eu lírico é um termo usado dentro da literatura para designar o pensamento geral daquele que está narrando um poema.

    b) a narração em 3ª pessoa é neutra, contrastando a linguagem poética.

    Correta. Alguém está narrando o poema e não é o próprio personagem, logo é a terceira pessoa de forma neutra.

    c) o personagem representa uma alegoria de muitos brasileiros que vivem à margem da sociedade.

    Correta. Alegoria é modo de expressão ou interpretação que consiste em representar pensamentos, ideias, qualidades sob forma figurada. Essa alternativa exigia conhecimento de mundo e de figura de linguagem alegoria. Realmente muitos brasileiros parecem bem como o João gostoso e do nada escutamos que se matou ou tentou fazer isso e nunca sabemos o motivo.

    d) o eu lírico, conturbado, revela a insatisfação do personagem com sua vida, culminando no suicídio.

    Incorreta. O personagem não se mostra conturbado, pelo contrário ele até bebeu ,cantou, dançou, isso mostra que era uma pessoa aparentemente feliz. Portanto essa alternativa se mostra incorreta.

    e) paródia da linguagem jornalística denunciando o destino violento das pessoas simples.

    Correta. A paródia é o produto da desconstrução da realidade para a sua futura, ou imediata, reconstrução. E, sendo um efeito de linguagem que propõe uma nova forma de olhar e ler a realidade. O texto poético inicia como forma de notícia contando a vida de uma pessoa que acaba se matando no final.

    GABARITO D

  • No meu humilde modo de ver, o erro está em duas palavras: " conturbado" e "insatisfação" Nem o eu-lírico ( o autor) está conturbado - ao contrário, é totalmente objetivo - nem seu personagem ( João Gostoso ) revela insatisfação.

    As demais assertivas estão corretas.

    Resposta, letra D.

  • Qual o título? Não aparece!

  • Eu não sabia nem o que era "eu lírico". kkk


ID
3414070
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo e responda ao que se pede.

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira
livre e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de
Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de
Freitas e morreu afogado.

Manuel Bandeira

Observe o período abaixo.


“João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número”. Pode-se afirmar que:


I – há um período simples.

II – há um período composto por coordenação.

III – “Gostoso” é um aposto enumerativo.

IV – há, na segunda oração, adjunto adverbial de lugar.

V – “de feira livre” tem a função de adjunto adnominal.


Estão corretos apenas os itens:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    ? ?João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número?.

    I ? há um período simples ? incorreto, temos um período composto por coordenação (=marcado pela conjunção coordenativa "e").

    II ? há um período composto por coordenação ? correto, período composto ligado por coordenação.

    III ? ?Gostoso? é um aposto enumerativo ? incorreto, o termo não enumera nada, não pode ser aposto enumerativo.

    IV ? há, na segunda oração, adjunto adverbial de lugar ? correto (=no morro da Babilônia).

    V ? ?de feira livre? tem a função de adjunto adnominal ? correto, caracteriza o substantivo "carregador".

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • o Arthur sempre ajudando, já os professores não comentam. Vamos lá Qconcurso colaborar conosco.

  • A questão quer que analisemos os itens abaixo e indiquemos se a afirmação feita está correta. É necessário conhecimento em sintaxe.

    “João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número”.

    I – há um período simples.

    Incorreta. O período simples é formado por apenas um verbo ou uma locução verbal e como podemos ver termos o verbo "era" e "morava" .

    II – há um período composto por coordenação.

    Correta. Os verbos "era" e o verbo "morava" denunciam que há um período composto e a conjunção "e" de adição nos dá a confirmação que temos um período composto por coordenação aditiva.

    III – “Gostoso” é um aposto enumerativo.

    Incorreta. O aposto enumerativo vai dizendo de forma enumerada um termo anteriormente dito. Ex:  faltavam da lista escolar: lápis, caderno e borracha. A palavra Gostoso é o sobrenome ou apelido de João, pois está em letra maiúscula.

    IV – há, na segunda oração, adjunto adverbial de lugar.

    Correta. O termo "no morro da Babilônia" determina o lugar onde João morava e assim exercendo papel de adjunto adverbial de lugar.

    V – “de feira livre” tem a função de adjunto adnominal.

    Correta. Está atribuindo uma característica ao carregador.

    Após analisar os itens temos a seguinte sequência de acertos: II, IV e V.

    GABARITO C

  • “João Gostoso era carregador de feira livre"

    'de feira livre' é adjunto adnominal porque se refere ao substantivo abstrato 'carregador' e possui sentido ativo? Não consigo enxergar o sentido ativo

  • "João Gostoso era carregador de feira livre",

    mas a parte "era carregador de feira livre" é o predicado não é ?

  • desculpe ai, mas ( carregador ) e adjetivo de joao gostoso e nao substantivo. ele teria que ser um substantivo para " de feira livre " ser adjunto adnominal.

  • “João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número”

    V – “de feira livre” tem a função de adjunto adnominal. [Correto]

    Carregador = substantivo concreto → Logo, é Adj. adnominal.

    Lembremos a diferença entre Adj. adnominal X Complemento nominal:

    Adj. adn: 1) Pode ter ou nao preposição / 2- Se refere somente à Substantivo / 3- Concreto ou abstrato / 4- Quando abstrato, este tem natureza agente.

    CN: 1) Sempre tem preposição / 2- Se refere à substantivo, advérbio ou adjetivo / 3- somente à substantivo abstrato / 4- Neste caso, o substantivo abstrato deve ter natureza paciente.

  • Carregador : substantivo concreto, logo " de feira livre" adjunto adnominal

  • eu jurava que "de feira livre" era complemento nominal.

  • “João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número”

    II – há um período composto por coordenação. ( e)

    IV – há, na segunda oração, adjunto adverbial de lugar. (morro da Babilônia)

    V – “de feira livre” tem a função de adjunto adnominal.( ...carregador de feira livre) faz a ação

  • João gostoso era carregador de feira livre

    "Era" flexão do ver "Ser" o qual é verbo de ligação.

    "Carregador" predicativo do sujeito. Sabemos que o predicativo do sujeito exerce função de adjetivo na morfologia. Sabemos também que termo preposicionado qualificando adjetivo será COMPLEMENTO NOMINAL

  • Eu jurava que 'carregador' era verbo.

    :(

  • V-

    Falso. É Complemento nominal

    Resposta II e IV corretas

    Letra B

  • MAURICIO CARDOSO PARABÉNS VOCÊ DECIFROU A QUESTÃO.

    COMPLENTO NOMINAL SOFRE AÇAO, ENQUANTO ADJ ADNOMINAL PRATICA.

  • Carregador é um substantivo concreto, não abstrato. "de feira livre" busca apenas especificar essa profissão. Ele não era um carregador de armazém, por exemplo, e sim de feira livre.

  • Marquei B porque para mim é CN

  • um macete bem eficaz para matar questões envolvendo CN e ADJ AD

    • o CN COMPLEMENTA
    • o ADJ AD especifica

    na questao temos : Carregador de feira ( não é qualquer carregador, é uma carregador de feira)

    alem de carregador ser um subs concreto

  • O carregador deve ser interpretado como a pessoa

    É como se fosse “o bombeiro”, " a enfermeira".

    sendo assim é concreto


ID
3414073
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo e responda ao que se pede.

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira
livre e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de
Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de
Freitas e morreu afogado.

Manuel Bandeira

No trecho “Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.”, os termos em destaque, quanto aos aspectos gramatical, sintático e semântico, podem ser analisados, respectivamente, da seguinte forma:

Alternativas
Comentários
  • Verbos pronominais são aqueles acompanhados por pronomes “me”, “te” “se”, “nos” (pronomes oblíquos átonos). Esse tipo de verbo é usado para indicar ações relativas ao sujeito que as pratica. Sendo assim, o verbo deverá ser conjugado sempre acompanhado do pronome oblíquo correspondente à pessoa gramatical do sujeito.

    Verbos significativos, também chamados de plenos ou nocionais, são verbos que indicam uma ação, podendo ser transitivos diretos ou indiretos e intransitivos. Atuam como núcleo de um predicado verbal ou verbo-nominal.

    GABARITO LETRA E

  • Gab: E

    “Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.

    >> se atirou > Os verbos pronominais são aqueles conjugados em conjunto com um pronome oblíquo átono, que são: me, te, se, nos, vos, se;

    >> Morreu > Quem morre, morre > verbo intransitivo, não rege preposição, tampouco pede complemento verbal;

    >> Afogado > Adjunto adverbial de modo (indicando a forma como morreu);

  • CUIDADO

    Embora a questão possa parecer de simples elucidação, existem poréns que ensejam a mudança do gabarito. A priori, a questão está incorreta, analisemos as duas assertivas que se fazem pertinentes, B e E(gabarito da banca).

    Passagem em analise: “Depois se atirou (1) na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu (2) afogado (3).”

    1) O verbo "atirou" (se atirou) é pronominal, está conjugado com um pronome oblíquo átono, bem como, e não vejo óbice em tal classificação, é verbo de ação, denota uma ação realizada pelo sujeito, A diferenciação pertinente ocorre entre verbos de ação e ligação. Aqui, qualquer uma das assertivas, embora diferentes, está correta.

    2) O verbo "morreu" é intransitivo, ambas as assertivas concordam em tal ponto.

    3) Nosso problema ocorre aqui. A banca afirma (via gabarito) que estamos diante de um adjunto adverbial.

    Via de regra, adjuntos adverbiais são representados por advérbios, por locuções adverbiais ou por orações subordinadas adverbiais. O termo "afogado" é um adjetivo (aquele que se afogou) que qualifica o sujeito e portanto possui função de predicativo do sujeito.

    Teríamos um adjunto adverbial se a construção fosse "...morreu por afogamento". O adjetivo "afogado" não exprime circunstancia, mas sim qualifica, e por ser adjetivo, não pode sozinho assumir papel de adjunto adverbial.

    Em resumo: "afogado" é adjetivo e predicativo do sujeito, adjuntos adverbias só podem ser representados por advérbios, por locuções adverbiais ou por orações subordinadas adverbiais, gabarito da banca incorreto, a resposta é letra B.

  • essa questão foi anulada pela banca

    "Considerando os argumentos apresentados e revendo a estrutura linguística da frase em questão, a Banca reconhece que o termo AFOGADO é um predicativo do sujeito, inserido no predicado verbo-nominal. Mas como os itens outros da alternativa estão corretos, só resta à Banca anular a questão e não apenas alterar o gabarito."

    https://ibade.org.br/Cms_Data/Contents/SistemaConcursoIBADE/Media/PMVVMAG2019/respostas_recursos/gabarito/tarde/L-ngua-Portuguesa.pdf

  • Essa questão foi anulada sim.


ID
3414076
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo e responda ao que se pede.

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira
livre e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de
Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de
Freitas e morreu afogado.

Manuel Bandeira

Em “João morreu no doce contato das águas plácidas da Lagoa.”, ocorre a seguinte figura de linguagem:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ? ?João morreu no doce contato das águas plácidas da Lagoa.?

    ? Temos a figura de linguagem chamada "sinestesia" (=mistura de sensações, temos paladar "doce", tato "contato").

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  • METAFORA: Utiliza comparação entre termos. Ex amor arde, a caneta é uma espada, mulher é o demônio etc..

    PARADOXO: É utilizando quando contraria a lógica, ex: caiu para cima, uma dor que não se sente..

    SINESTESIA: É utilizando quando é colocado um sensação como por exemplo, paladar, contato, olfato, visão e etc

    METONÍMIA: Talvez o mais utilizado, que basicamente é a troca de uma palavra por outra sem perder o sentido popular. Ex: sou fiel a bandeira (fiel a nação /pátria), todo japonês é inteligente (o povo oriental é inteligente), homem sem teto (pessoa que não possui residencia)

    ANTONOMÁSIA: Utilizado para falar algo com mais palavras. EX: esse é o rei da selva (leão), Aqui é o País do futebol (Brasil)...

  • O eufemismo também é característica conspícua da construção, visto que se mitiga uma informação: a morte de João; entretanto, como não há essa opção, é mesmo sinestesia a figura de linguagem presente.

    Letra B

  • Não seria uma metáfora sensorial? Ocorre sinestesia quando há dois tipos de sensações em uma frase, como: senti o cheiro doce da sua presença

  •  a) Metáfora.  comparação sem conectivo ou palavra com valor não próprio

     b) Sinestesia.  mistura das sensações (GABARITO)

     c)Paradoxo.   ideias contrárias, simultaneamente e no mesmo ser

     d) Metonímia. utilização de palavras substituindo outra. ex.: marca pelo produto (havaianas-chinelo)

     e) Antonomásia. um tipo de metonímia com termo consagrados. ex.: o rei do futebol= pelé

  • GABARITO: LETRA B

    ACRESCENTANDO:

    Aliteração ⇝ Repetição de consoantes.

    Anacoluto ⇝ É a mudança repentina na estrutura da frase.

    Anáfora ⇝ Repetição de palavras em vários períodos ou orações.

    Antítese ⇝ Ideias contrárias. Aproximação sentidos opostos, com a função expressiva de

    enfatizar contrastes, diferenças.

    Antonomásia ⇝ Consiste em designar uma pessoa ou lugar por um atributo pelo qual é

    conhecido.

    Apóstrofe ⇝ Consiste no uso do vocativo com função emotiva.

    Assíndeto ⇝ A omissão de conectivos, sendo o contrário do polissíndeto.

    Assonância ⇝ Repetição de encontro vocálicos.

    Catacrese ⇝ Desdobramento da Metáfora. Emprega um termo figurado como nome de certo

    objeto, pela ausência de termo específico.

    Comparação ⇝ Compara duas ou mais coisas.

    Conotação ⇝ Sentido figurado.

    Denotação ⇝ Sentido de dicionário.

    Elipse ⇝ Omissão.

    Eufemismo ⇝ Emprego de uma expressão mais leve.

    Gradação/ Clímax ⇝ Sequência de ideias. Crescentes ou decrescente.

    Hipérbato ⇝ Inversão sintática.

    Hipérbole ⇝ Exagero em uma ideia/sentença.

    Ironia ⇝ Afirmação ao contrário.

    Lítotes ⇝ Consiste em dizer algo por meio de sua negação.

    Metáfora ⇝ Palavras usadas não em seu sentido original, mas no sentido figurado.

    Metonímia ⇝ Substituição por aproximação.

    Neologismo ⇝ Criação de novas palavras.

    Onomatopeias ⇝ Representação gráfica de ruídos ou sons.

    Paradoxo ⇝ Elementos que se fundem e ao mesmo tempo se excluem.

    Paralelismo ⇝ Repetição de palavras ou estruturas sintáticas que se correspondem quanto ao

    sentido.

    Paronomásia ⇝ Palavras com sons parecidos.

    Perífrase ou circunlóquio ⇝ Substituição de uma ou mais palavras por outra expressão.

    Personificação/ Prosopopeia ⇝ Atribuição de sentimentos e ações próprias dos seres

    humanos a seres irracionais.

    Pleonasmo ⇝ Reforço de ideia.

    Polissíndeto ⇝ O uso repetido de conectivos.

    Silepse ⇝ Concordância da ideia e não do termo utilizado na frase e possui alguns tipos. Pode

    discordar em gênero (masculino e feminino), número (singular e plural) e pessoa (sujeito na

    terceira pessoa e o verbo na primeira pessoa do plural.

    Símile ⇝ É semelhante à metáfora usada para demonstrar qualidades ou ações de elementos.

    Aproximação por semelhança.

    Sinédoque ⇝ Substituição do todo pela parte.

    Sinestesia ⇝ Quando há expressão de sensações percebidas por diferentes sentidos. Uma sensação visual que evoca um som, uma sensação auditiva que evoca uma sensação tátil, uma sensação olfativa que evoca um sabor, etc.

    Zeugma ⇝ Omissão de uma palavra que já foi usada antes.

    FONTE: RITA SILVA


ID
3414079
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo e responda ao que se pede.

Poema tirado de uma notícia de jornal

João Gostoso era carregador de feira
livre e morava no morro da Babilônia
num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de
Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de
Freitas e morreu afogado.

Manuel Bandeira

A opção correta quanto à regência verbal é:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    A) Assiste-lhe o direito de solicitar as informações sobre a empresa ? correto, verbo "assistir" com sentido de "caber" (=cabe a alguém, assiste a alguém ? lhe).

    B) Assisti o seu destempero junto ao ciclista, disse o guarda ao motorista ? assistir com o sentido de "ver" é um verbo transitivo indireto e rege a preposição "a" (=ao seu desempenho).

    C) Não lhe conheço bem para entregar a encomenda em confiança ? quem conhece, conhece alguém (=pronome oblíquo "lhe" usado incorretamente como objeto direto, o correto é "o conheço").

    D) O policial queria ajudar a ela, mas não havia entendimento sobre a questão ? ajudar alguém (=verbo transitivo direto ? ajudá-la).

    E) Explicava ao aluno de que não se atrasasse para a prova ? explica alguma coisa a alguém (=que não se atrasasse para a prova).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!! 

  • Assistir no sentido de ver = VTI (a)

    Assistir no sentido  de ajudar =VTD 

    Assistir no sentido de ter competência =VTI(A)

    A) Assiste-lhe o direito de solicitar as informações sobre a empresa.

    Assiste  algo= vtd= o diteito

    A alguém = .. o lhe(s) aparecem quando temos objetos indiretos.

    B) Assisti no sentido de ajudar = vtd.

    C) não  conheço  alguém = vtd.

    D) os pronomes  pessoais  do caso reto não  exercem a função  de objeto direto  só  de sujeito.  Chame ele( errado)

    chame-o

  • A questão exige conhecimento sobre regência verbal e queremos encontrar a única que faz uso corretamente dela.

    a) Assiste-lhe o direito de solicitar as informações sobre a empresa.

    Correta. O verbo assistir com valor de ( dizer respeito e competir) exige o complemento verbal indireto que é preposicionado, dessa forma o "lhe" é o pronome correto para substituir o objeto indireto.

    Assiste a ele o direito de solicitar...

    b) Assisti o seu destempero junto ao ciclista, disse o guarda ao motorista.

    Incorreta. O verbo assistir com sentido de "observar" rege a preposição "a".

    Forma correta: assisti ao seu...

    c) Não lhe conheço bem para entregar a encomenda em confiança.

    Incorreta. O verbo conhecer não exige termo complemento preposicionado, logo não é possível colocar o "lhe" o correto é a utilização do "o"

    Forma correta: não o conheço bem...

    d) O policial queria ajudar a ela, mas não havia entendimento sobre a questão.

    Incorreta. O verbo ajudar não exige complemento preposicionado e sim um objeto direto que é sem preposição, o correto é usar "lo", pois os objetos diretos ligados a um verbo terminado em R é acrescentado esse pronome.

    Forma correta: ajudá-lo.

    e) Explicava ao aluno de que não se atrasasse para a prova.

    Incorreta. O verbo é transitivo direto e indireto e na temos "ao aluno" como objeto indireto, logo o segundo objeto é sem preposição "de".

    Forma correta: explicava ao aluno que...

    GABARITO A

  • gab A

    Assiste-lhe o direito de solicitar as informações sobre a empresa.

    ele quis dizer, você tem o direito de solicitar as informações sobre a empresa.

    Esse ASSISTIR, tem transitividade indireta = ASSISTE A VOCÊ esse direito.

    Usamos o lhe para verbos com transitividade indireta, e ações feitas por PESSOAS.

  • O verbo assistir no sentido de ver não aceita o lhe, todavia o verbo aceitará o lhe quando equivaler a caber.

  • VERBO ASSISTIR COM SENTIDO DE CABER, CABE A FULUNADO ASSISTIR O DIREITO


ID
3414082
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Matemática
Assuntos

Se jogarmos quatro dados de 6 faces simultaneamente, de todas as combinações possíveis de resultado, em quantas o quarto dado terá como resultado um 6?

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: B.

    6 x 6 x 6 x 1 (o quarto dado só pode ser uma possibilidade, a face 6) = 216

  • Cada dado tem 6 possibilidades, mas o último tem a restrição de poder sair apenas o número 6, então:

    6 X 6 X 6 X 1 = 216.

    Multiplicamos porque ele joga o primeiro dado E o segundo E o terceiro E o quarto.

    Na análise combinatória o ''e'' multiplica e o ''ou'' soma.

  • Achei a questão mal elaborada
  • Questão BEM MAL elaborada... "em quantas o quarto dado terá como resultado um 6?"

    pede exclusivamente em quantos arremesso tal DADO vai cair o número 6...

    isso é probabilidade, não combinação.

  • resposta é 216, mas concordo que pelo jeito que tá escrita leva a pensar em probabilidade pelo "Se jogarmos", se não escrevesse isso tava certo.

  • Como assim? O que os outros dados tem a ver com o 4º dado? A questão está pedindo somente o 4º dado, então tanto faz os outros 3, entendi foi é nada.

    Eu interpretei que a chance do 4º dado sair com a face 6 é de 1/6... Enfim! Nem existe a resposta, portanto temos que adivinhar o que o examinador quer.

  • (fiz do jeito mais difícil mas fica simples de entender)

    6.6.6.6 = 1296

    6.6.6.5 = 1080

    1296 - 1080 = 216

  • uai, gente, os dados não são jogados simultaneamente? Então qual seria o "quarto dado"?


ID
3414085
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Matemática
Assuntos

Em um grupo de 500 pessoas, 60% são mulheres e 40% dessas mulheres são estudantes. Sabe-se também que 20% dos homens do grupo são estudantes. Se for escolhida uma pessoa desse grupo aleatoriamente, a probabilidade de a pessoa ser estudante ou ser mulher é de:

Alternativas
Comentários
  • 500 sendo 60% = 300 mulheres

    sendo que os homens sera 200 desses 20% são estudantes 40.

    soma-se 300+40=340 mulheres e estudantes

    500--100

    340-- X

    multiplicando em cruz ficamos com o resultado 68%.

  • QUE???

    pra mim o cálculo seria o seguinte:

    TOTAL = 500 pessias

    TOTAL DE MULHERES = 300

    MULHERES ESTUDANTES = 120

    TOTAL DE HOMENS = 200

    HOMENS ESTUDANTES = 40

    Se a questão pede a probabilidade de a pessoa ser estudante OU mulher, seria:

    160/500 + 300/500 = 92%

  • Eventos não mutuamente excludentes.

    A/B ocorrem simultaneamente.

    P (A ou B) = P(A)+P(B)-P(A e B)

    P (mulheres ou estudantes) = P (mulheres) + P (estudantes) - P (mulheres e estudantes)

    P (mulheres ou estudantes) = 300/500 + 160/500 - 120/500

    P = 340/500

    P = 0,68

    P = 68%

  • Mestre dos Magos, o problema é que nesse caso você está contabilizando as mulheres que são estudantes 2 vezes. Por isso você deve subtraí-las do seu cálculo. Sendo assim: 160/500 + 300/500 - 120/500 = 340/500 (= 0,68 = 68%)

  • 500 pessoas

    60% mulheres = 300 ------> 40% estudantes e mulheres = 120

    40% homens = 200 --------> 20% estudantes e homens = 40

    -------------------------------------------------------------------------------------------

    Calculando a probabilidade que não atende ao enunciado = HOMENS QUE NÃO SÃO ESTUDANTES

    P(E) = 160/500 = 0,32 ----> 32%

    -------------------------------------------------------------------------------------------

    Se 32% é a probabilidade que não atende ao enunciado (homens que não são estudantes), a probabilidade que atende ao enunciado (mulheres ou estudantes) é o total (100%) menos 32% (homens que não são estudantes).

    100% - 32% = 68% -----> MULHERES ou ESTUDANTES

    Gab: D

  • A questão pergunta a probabilidade de ser mulher ou estudante. Temos neste grupo 300 mulheres ( 120 estudantes e 180 não estudantes) e também temos 40 homens que estudam. Logo: 300 ( número de mulheres ) + 40 ( homens que estudam) = 340.

    A regra geral de probabilidade, é que probabilidade é: o que eu quero / total, logo fica 340/ 500 que é igual a 68%( Letra D).

  • A probabilidade de a pessoa ser estudante ou ser mulher é de:.

    60% são mulheres (Preciso das estudantes e das que não são estudantes, pego tudo).

    40% são homens que 20% são estudantes. (Preciso apenas dos estudantes).

    Resolução: (obs: eu sempre simplifico, que seria 2 x 4 = 8 )

    20% (estudantes) x 40% (total de homens) = 800 / 100 = 8% são estudantes.

    60% + 8% = 68%

    "Ex nihilo nihil fit".

  • para mim a questão é mal formulada pois ela não informa que 60% de 500 são mulheres e que desse restante 20 são homens estudantes ... VOCÊ NÃO PODE DEDUTIVAMENTE DIZER QUE OS OUTROS 20 SÃO HOMENS ...

  • O Português, sendo levado ao pé da letra, ou seja, da forma correta gramaticalmente, te levaria para outra resposta. Nesse caso não sei se o elaborador tem dificuldade com o Português ou se fez na maldade mesmo. Sendo analisado por um professor de Gramática, ela nunca passaria.

  • M = 300 mulheres

    H = 200 homens

    (EM) = 60% de 300 = 120 mulheres estudantes

    (E∩H) = 20% de 200 homens = 40 homens estudantes

    E = 120+40=160 estudantes

    n(EUM) = n(E) + n(M) - n(EM) = 160 + 300 - 120 = 340

    P(EUM) = 340/500 = 0,68 = 68%

  • Temos 500 pessoas

    Mulheres= 60% de 500 = 300

    Mulheres estudantes= 40% de 300 = 120

    Homens estudantes= se 300 mulheres então 200 homens para dar as 500 pessoas então: 20% de 200 = 40

    Estudantes = 120+40 = 160/500 = 0,32

    Mulheres = para não contabilizar as estudantes 2x temos q subtrair 300-120= 180 então: 180/500= 0,36

    Somando= 0,32+0,36 = 0,68 ou 68%

    Gab D


ID
3414088
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Matemática
Assuntos

Em uma progressão aritmética, a soma do quarto termo com o sétimo termo é 41. A soma dos primeiros dez termos dessa progressão é:

Alternativas
Comentários
  • Gab. Alternativa A

    Utilizando definição de soma de P.A., temos que a soma dos 10 termos desta P.A. é de 205.

    Explicação passo-a-passo:

    Vamos analisar primeiramente uma P.A. muito simples e ver como se faz a soma dela:

    1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10

    Assim note que somando sempre os termos da ponta e ir gradualmente chegando para o meio temos que:

    1 + 10 = 11

    2 + 9 = 11

    3 + 8 = 11

    4 + 7 = 11

    5 + 6 = 11

    Assim a soma dos extremos é sempre igual, e note que o quarto termo com o 7 são umas dessas somas, ou seja, sabemos que todas as outras somas desta P.A. terão resultado 41 também.

    Como são 10 termos, teremos 5 pares, todos os pares somam 41 também, ou seja, basta multiplicar 41 por 5 e teremos a soma de todos estes pares, logo:

    41 . 5 = 205

    Assim temos que a soma dos 10 termos desta P.A. é de 205.

  • Com a primeira informação a4+a7=41, substituindo o termo geral onde a4=a1+3r e a7= a1+6r.

    Temos que a1+3r+a1+6r = 41

    2a1+9r= 41.

    Sabendo que a soma dos termos de uma PA é dado por: Sn= (a1+an).n/2.

    Substituindo os valores S10= (a1+a10).10/2

    S10= (a1+a1+9r).5

    S10 = (2a1+9r).5

    S10 = 41.5 = 205.

    QUALQUER ERRO INFORMAR.

  • Precisa notar que são termos equidistantes.

    ou seja...

    a1+a10 =41

    a2+a9 = 41

    a3+a8 = 41

    assim como A4+ A7 = 41

    a5+a6 = 41

    o que era 10 transformou-se em 5

    41 x 5 = 205.

  • Sem fórmula.

    Tem que saber que os termos são equidistantes.

    a1+a10= 41

    a2+a9= 41

    a3+a8= 41

    a4+a7= 41

    a5+a6= 41

    A questão pede a soma dos termos, então é só somar: 41+41+41+41+41= 205

  • Basta saber que são termos equidistantes pessoal. Daí já mata a questão, sem enrolação! O comentário da colega Thaís Ferreira explica a maneira mais fácil.

  • SEMPRE QUE EU RESPONDO ESSE IPO DE QUESTÃO EU FAÇO DA SEGUINTE FORMA.

    A7-A4=3

    A PARTIR DAI O 3 SE TORNA A RAZÃO

    A3+A4=A7

    O SETE É O PRIMEIRO TERMO.

    A1=7

    A2=10

    A3=13

    A4=16

    A5=19

    A6=22

    A7=25

    A8=28

    A9=31

    A10=34

    A7+A4=41 25+16=41

    7+10+13+16+19+22+25+28+31+34=205

    OBS:NÃO SEI SE EU ESTOU CERTO MAS SEMPRE QUE EU FAÇO ESSE TIPO DE QUESÃOE USO ESSA FORMA EU ACERTO.

  • Normalmente não gosto de poluir os comentários, ainda mais quando as respostas dos colegas já são suficientes, mas aqui vai minha resposta, que foi um pouco mais algébrica

    a4 + a7 = 41

    fórmula da soma dos termos S = (a1 + an)*n/2, com as informações do enunciado fica assim S = (a1 + a10)*10/2

    Percebam que a1 = a4 - 3r e a10 = a7 + 3r

    Vamos substituir na fórmula da soma dos termos

    S = (a4-3r + a7+3r)*10/2

    Podemos cortar o -3r com o +3r

    S = (a4 + a7)*10/2 sobraram apenas a soma do a4 e a7, que já sabemos que dá 41

    S = 41*10/2 = 205

  • se observamos nessa questão da pra fazer de cabeça ou seja...

    ele fala que a soma do 4 termo com 7 =41

    "a soma dos Extremos é igual a soma dos Equidistantes", explicando:

    Olhem essa hipotética P.A de razão 31, 4, 7, 10, 13, 16

    Percebam que 1 + 16 = 17 (soma dos Extremos) e 4 + 13 = 17 (soma dos Equidistantes) esse padrão vai se repetindo DENTRO da sequência. Vamos usar esse raciocínio pra resolver a questão.

    vemos que forma 5 pares multiplica 5*41=205

  • Soma dos termos da P.A é representada pela fórmula:

    Sn = (a1+an)*n/2

    Desenvolvendo...

    S10= (a1+a10)*10/2

    Ora, se a4+a7=41, logo a1+a10=41

    Basta substituirmos:

    S10= 41*10/2

    s10= 41*5

    S10 = 205

  • Propriedade - Termos equidistantes: A soma dos termos equidistantes são iguais

    a1 a2 a3 a4 a5 a6 a7 a8 a9 a10

    a1+a10= 41

    a2+a9= 41

    a3+a8= 41

    a4+a7= 41

    a5+a6= 41

    Logo, 5x41 = 205

    Resposta: a1+...+a10= 205

    Observação!

    Se for ímpar, por exemplo:

    PA: 2 - 4 - 6 - 8 - 10

    2 + 10 = 12

    4 + 8 = 12

    6 - o termo do meio é a metade da soma!

    Espero ter ajudado! <3

  • S10 = (A4 +A7).10/2

    S10 = 41.5

    S10 = 205

  • Gabarito: A.

    Em uma PA, a soma dos termos extremos é a mesma dos equidistantes. Assim, em uma PA de 10 termos, nós teremos 5 conjuntos de 2 extremos cada.

    Assim, se a soma de A1 com A10 vale 41. Nós multiplicamos esse valor por 5 e encontramos a resposta, que é 205. A questão sai em segundos com essa propriedade.

    Bons estudos!


ID
3414091
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Raciocínio Lógico
Assuntos

Em uma escola, os alunos têm três opções de atividades extracurriculares: arte, música e esporte coletivo. Eles devem participar de, pelo menos, uma atividade. Dos 110 estudantes na escola, 55 escolheram música, 60 escolheram esporte e 40 escolheram arte. Se 35 alunos escolheram exatamente duas atividades, o número de alunos que escolheu fazer as três atividades foi:

Alternativas
Comentários
  • a: apenas os que fazem artes

    b: apenas fazem música

    c: apenas os que fazem esporte

    x: intersecção entre o conjunto de Artes e Esportes

    y: intersecção entre o conjunto de Artes e Música

    z: intersecção entre o conjunto de Esportes e Música

    w: intersecção entre os 3 conjuntos

    A ideia é formar um sistema de equações, para cancelar as incógnitas. Temos que 110 são todos os alunos, portanto:

    a + b + c + x + y + z + w = 110

    E somando as atividades feitas pelos alunos, teremos: 40 + 55 + 60, que é com as atividades repetidas inclusas, logo:

    a + b + c + 2x + 2y + 2z + 3w = 155

    Há a multiplicação dos fatores acima em 2 pelas intersecções que ocorrem duas vezes, e a intersecção W é multiplicada por 3 por ocorrer três vezes.

    Resolvendo o sistema com subtração da maior pela menor:

    a + b + c + 2x + 2y + 2z + 3w = 155

    a + b + c + x + y + z + w = 110

    x + y + z + 2w = 45

    É dado no enunciado que 35 alunos realizam dois tipos de atividade, que é justamente x + y + z, substituindo:

    35 + 2w = 45

    2w = 10

    w = 5

    Letra C

  • Duas atividades, no exemplo, usando esporte (E) como repetida, mas poderia ser qualquer das outras:

    M + E = 115 - 35 (A,E,M) = 80

    A + E = 100 - 35 (A,E,M) = 75

     

    80-75= 5

     

    Gab: C

    De nada. Não desistam!

     

  • as contas não são difíceis, o complicado é perceber o raciocínio por trás delas

  • Veja em desenho que fica mais fácil de entender. Ou não ...

    http://sketchtoy.com/69130605

  • Eu fiz uma resolução bem simplória, mas cheguei no resultado:

    peguei os 110 e diminui com os 35 que escolheram EXATAMENTE duas atividades: 110-35=75

    Ou seja, sobraram 75 que escolheram música, esporte ou arte.

    Quem escolheu SOMENTE a música: 75-55= 20

    Quem escolheu SOMENTE o esporte: 75-60= 15

    Quem escolheu SOMENTE a arte: 75-40=35

    Aí soma:

    35 (que escolheram duas atividades) + 20 (só música) + 15 (só esporte) + 35 (só arte)= 105

    110-105= 5 (que escolheram três atividades)

    Espero ter ajudado.

  • ALUNOS NA ESCOLA 110

    ARTES 40 ALUNOS

    MUSICA 55 ALUNOS

    ESPORTE COLETIVO 60 ALUNOS

    TOTAL 155

    35 ALUNOS FAZEM EXATAMENTE 02 ATIVIDADES

    35 * 3 ( ARTES E MUSICA / MUSICA E ESPORTE COLETIVO / ESPORTE COLETIVO E ARTES ) = 105

    110 - 105 = 05 ALUNOS FAZEM AS 03 ATIVIDADES

  • O comentário de Dieime Aparecida de Moraes da Silva está perfeito!!!

  • 110 Total

    55 música

    60 esporte Total=110+35

    40 arte

    ——————-

    35 duas atividades 145-50=5

    55-35=20

    60-35=25 Total=50

    40-35=5

    ——————-

  • Esse tipo de questão basta observar que a o enunciado só dispõe número múltiplos de 5, logo a resposta só pode ser múltiplo de 5

  • 3 * 35 = 105

    110 - 105 = 05

  • Então o problema fala 35 alunos fazem exatamente 3 atividade. Ai a galera faz 35 * 3. Ai eu me pergunto, se 35 alunos fazem 2 atividades, de onde vocês tiraram que é 35 * 3? Pode isso arnaldo, não era a soma de todos que fazem 2 atividades?

  • RESOLUÇÃO EM VÍDEO+100 QUESTÕES

    https://youtu.be/u-wJNReeE5k

    CANAL PROFESSOR TIAGO GOMES


ID
3414094
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Matemática
Assuntos

Marina é professora de Matemática e está organizando uma olimpíada com seus alunos. Durante a olimpíada, cada aluno participante realizará duas provas. Ela precisará corrigir as provas em 1 hora e meia para que o resultado da olimpíada saia no horário programado. Considerando que ela corrige 24 provas em uma hora, a quantidade limite de alunos que poderão participar da olimpíada se ela tiver ajuda de um professor com o mesmo ritmo de correção que ela, de forma que o resultado da olimpíada não atrase, será de:

Alternativas
Comentários
  • Cada professor corrige 24 provas por hora = 24 provas/h

    1 hora = 60 min

    Precisa ser feita a correção em uma hora e meia = 90 min

    .

    24 provas ---------- 60 min

    X provas ---------- 90 min

    60 . X = 24 . 90

    X = 36 provas

    (Como são dois professores: 36 . 2 = 72 provas).

    Os dois professores poderão corrigir 72 provas.

    Mas cada aluno fará duas provas então:

    72 / 2 = 36 alunos.

  • (B)

    Fiz essa questão pelo raciocínio lógico, vejamos:

    1h (60minutos) ela corrige 24 provas.Ou seja, ela corrige 12 provas a cada (30m).

    Logo, 1h 30m(90m) ela ira corrigir 36 provas.

  • tambem fiz pela logica, acertei , mais nao sabia qual operaçao eu tinha que fazer ...e regra de 3 ?

  • 24 = 1h

    1h30m = 36

    36 * 2 (+1 professor) = 72

    72 / 2 (duas provas por aluno) = 36

  • 24 = 1h

    1h30m = 36

    36 * 2 (+1 professor) = 72

    72 / 2 (duas provas por aluno) = 36

  • A questão exigiu conhecimentos sobre regra de três simples.

    Montando a regra de três simples, conforme os dados do enunciado, temos:

    Provas ------------- tempo

    24 --------------------- 60 min ---- 1 hora equivale a 60 min

    x ---------------------- 90 min ---- 1 hora e meia equivale a 90 min

    Após a montagem da regra de três, precisamos analisar as grandezas. Veja:

    Aumentando-se o tempo (de 60 p/ 90), aumenta-se a quantidade de provas --- Grandezas diretamente proporcionais;

    Como as grandezas são diretamente proporcionais, então basta multiplicar "cruzado". Veja:

    60 x = 24 . 90

    60 x = 2160

    x = 36 ---- Isso significa que 1 professor corrige 36 provas em 1 hora.

    Logo, com a ajuda de um outro professor com o mesmo ritmo de trabalho, serão corrigidas 72 provas em 1 hora e meia (36 x 2 = 72).

    Se cada aluno realizará duas provas, então temos:

    72/2 = 36 alunos

    Gabarito do monitor: Letra B

  • Os candidatos a professor de artes devem ter xingado essa Banca kkkk

  • Fiz em forma de regra de tres composta

    Provas Alunos Minutos

    2 1 90

    24 X 30

    Já que ela corrige 24 provas em 1 hora se ela tiver ajuda de um outro professor q tenha o mesmo rendimento que ela

    então ele vai corrigir as 24 provas na metade do tempo e a metade de 1 hora são 30 minutos nesse caso ficando assim:

    a grandeza provas é uma grandeza diretamente proporcional

    a grandeza tempo é inversamente proporcional pq agora ela terá ajuda pra corrigir as provas ja que irá corrigir na metade do tempo então ja q tem mais tempo mais alunos podem participar das olimpiadas

    1_______2 30

    X_______24_____90

    Simplificando

    1 = 1 1

    X 12 3

    multiplicando cruzado

    X= 36

  • A questão em sí é fácil, o enunciado que complica


ID
3414097
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

A formação inicial de professores é de responsabilidade das universidades e teve mudanças importantes a partir da Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96. Uma delas foi a criação dos Institutos Superiores de Educação, que deveriam ser centros formadores, disseminadores, sistematizadores e produtores do conhecimento referente ao processo de ensino, de aprendizagem e de educação escolar, com o objetivo de promover a formação geral dos futuros professores de educação básica e, ainda, favorecer o conhecimento e o domínio dos conteúdos específicos ensinados nas diversas etapas da educação básica e das metodologias e tecnologias a eles associados, bem como desenvolver habilidades para a condução dos demais aspectos inerentes ao trabalho coletivo da escola.

A outra mudança, foi:

Alternativas
Comentários
  • a) Refere-se ao artigo 65 da LDB: A formação docente, exceto para educação superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo 300 horas.

    b)Refere-se ao artigo 62-B da LDB: O acesso (não ingresso) de professores das redes públicas de educação básica a cursos superiores de pedagogia e licenciatura sera efetivado por meio de processo seletivo diferenciado.

    c) Refere-se ao artigo 62 incisivo 8: os currículos dos cursos de formação de docentes terão por referência a BNCC.

    d) Gabarito

    e) Artigo 62 da LDB: A União, os Estados e os Municípios, em regime de colaboração, deverão promover a formação inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais do magistério.


ID
3414100
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Legislação Municipal
Assuntos

A Lei nº 4.100, de 22 de outubro de 2003, que institui o Sistema Municipal de Ensino do Município de Vila Velha/ES, e disciplina seu funcionamento, expressa em seu Capítulo III, Da Educação Infantil e Do Ensino Fundamental, no art. 29 que, na rede pública municipal, o atendimento em creches deverá fazer-se, prioritariamente, a partir de:

Alternativas

ID
3414103
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

A mobilidade escolar ou a conhecida transferência é objeto de regramento na LDB e em outros instrumentos normativos do CNE e dos Conselhos de Educação Estaduais e Municipais.
As mobilidades, de modo geral, ocorrem por necessidade dos adultos responsáveis pelo menor que não pode deixar de ser atendido frente a uma escolha que não foi sua.
Nesse sentido, não há como recusar matrícula em algum estabelecimento de ensino que favoreça o deslocamento do aluno transferido. Mas, acima dessas questões administrativas, não há como recusar a continuidade dos estudos iniciados em outra escola, de forma que o aluno não se sinta despreparado para avançar em seu percurso de aprendizagem ou que não se sinta retrocedendo em conquistas já efetivadas.
Em observações e acompanhamento de alguns estudos, indicam que essa questão tem sido descuidada gerando, inúmeras vezes, nos alunos transferidos, uma sensação de abandono ou descaso.
Por tudo isso, ao tratar da mobilidade interséries e interescolas ou sistemas e, pensando prioritariamente na dimensão pedagógica que envolve o currículo escolar e a avaliação, a LDB estabeleceu no § 1° do art. 23 que:

Alternativas
Comentários
  • Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de organização, sempre que o interesse do processo de aprendizagem assim o recomendar.

    § 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive quando se tratar de transferências entre estabelecimentos situados no País e no exterior, tendo como base as normas curriculares gerais. (LETRA B)

    § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir o número de horas letivas previsto nesta Lei. (LETRA C)

    Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio, será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:

    I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;

    I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar, excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;            

    II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do ensino fundamental, pode ser feita:

    a) por promoção, para alunos que cursaram, com aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola; (LETRA E)

    b) por transferência, para candidatos procedentes de outras escolas;

    c) independentemente de escolarização anterior, mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua inscrição na série ou etapa adequada, conforme regulamentação do respectivo sistema de ensino;

    III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular por série, o regimento escolar pode admitir formas de progressão parcial, desde que preservada a seqüência do currículo, observadas as normas do respectivo sistema de ensino; (LETRA D)

    IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou outros componentes curriculares; (LETRA A)

  • Todas as alternativas são princípios fundamentasi da LDB, porém a alternativa correta é a letra A devido a mesma ter sido a que recebeu a última atualização no ano de 2018.

    O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:

    Art. 1º A , passa a vigorar com a seguinte redação:

    XIII - "garantia do direto à educação e a aprendizagem ao longo da vida." (NR)

    Art. 37: “  A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos nos ensinos fundamental e médio na idade própria e constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao longo da vida."

    LEI No. 13.632 03/2018

  • Questão absurda, querem que o candidato leve a LDB para consultar na hora da prova?

  • Tinha que saber o parágrafo exato.
  • Gente que questão mais absurda é essa?!

  • Essa questão aborda o seguinte. Eu, por exemplo, tive uma aluna que ficou estudando em casa por dois anos, sem estar matriculada em nenhuma escola. Quando ela procurou se matricular, estava com idade pertinente ao 7o ano, embora sua última matrícula fosse no 5o ano. A escola aplicou uma avaliação com ela para ver se ela estava apta a frequentar o 7o ano. Como ela estava, foi matriculada nessa série. Ou seja, a escola reclassificou a aluna, mesmo ela tendo vindo de outro estado, outro tipo de escola.


ID
3414106
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Legislação Municipal
Assuntos

A Lei nº 5.629, de 24 de junho de 2015, do Município de Vila Velha, Estado do Espírito Santo, que Aprova o Plano Municipal de Educação - PME e dá outras providências, apresenta como Meta 5: alfabetizar todas as crianças, no máximo, até o final do 3º (terceiro) ano do Ensino Fundamental.

Dentro da referida Meta, a Estratégia 5.6 diz que os alunos que, ao final do 3º ano do Ensino Fundamental, não estiverem alfabetizados:

Alternativas

ID
3414109
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Legislação Municipal
Assuntos

De acordo com o Decreto nº 258, de 29 de dezembro de 2014, que estabelece critérios para implantação, organização e funcionamento do projeto de educação em tempo integral e normatiza medidas a serem adotadas pelas Unidades de Ensino, em seu artigo 3º, estabelece que a carga horária diária das Unidades Escolares participantes do Projeto de Educação em Tempo Integral é de, no mínimo:

Alternativas
Comentários
  • LETRA A


ID
3414112
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Direito Digital
Assuntos

A legislação que regula o uso da Internet no Brasil por meio da previsão de princípios, garantias, direitos e deveres para quem usa a rede, é chamada:

Alternativas
Comentários
  • Art. 1º Esta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria.

    O Marco Civil da Internet, oficialmente chamado de Lei n° 12.965/2014, é a lei que regula o uso da Internet no Brasil por meio da previsão de princípios, garantias, direitos e deveres para quem usa a rede, bem como da determinação de diretrizes para a atuação do Estado

    http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm

    https://pt.wikipedia.org/wiki/Marco_Civil_da_Internet

  • Gab D

    Lei 12.965/2014

    Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil.

    Art. 1º  Esta Lei estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil e determina as diretrizes para atuação da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios em relação à matéria.

    Art. 3º  A disciplina do uso da internet no Brasil tem os seguintes princípios:

    I - garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal;

    II - proteção da privacidade;

    III - proteção dos dados pessoais, na forma da lei;

    IV - preservação e garantia da neutralidade de rede;

    V - preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas;

    VI - responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei;

    VII - preservação da natureza participativa da rede;

    VIII - liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os demais princípios estabelecidos nesta Lei.

    Parágrafo único. Os princípios expressos nesta Lei não excluem outros previstos no ordenamento jurídico pátrio relacionados à matéria ou nos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.

    CAPÍTULO II

    DOS DIREITOS E GARANTIAS DOS USUÁRIOS


ID
3414115
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

O programa do MEC para educação a distância, que visa proporcionar formação continuada para o uso pedagógico das diferentes tecnologias da informação e da comunicação é denominado:

Alternativas
Comentários
  • Mídias na Educação é um programa de educação a distância, com estrutura modular, que visa proporcionar formação continuada para o uso pedagógico das diferentes tecnologias da informação e da comunicação – TV e vídeo, informática, rádio e impresso. O público-alvo prioritário são os professores da educação básica.

  • Mídias na Educação.


ID
3414118
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Noções de Informática
Assuntos

Ao alocar recursos, sob demanda, de um servidor e armazenamento de dados em um Data Center remoto, localizado em qualquer ponto do planeta, com acesso pela internet, você estará utilizando o que chamamos de:

Alternativas
Comentários
  • Assertiva D

    Computação na Nuvem.

  • GAB. D

    ONLINE: conectado direta ou remotamente a um computador e pronto para uso (diz-se de sistema, equipamento ou dispositivo).

    REAL TIME: Significado de tempo real. O que é tempo real: Expressão usada para se referir àquilo que acontece simultaneamente, ao mesmo tempo.

    FTP: Protocolo de transferência de arquivos.

    COMPUTAÇÃO NA NUVEM: Computação em nuvem, é a disponibilidade sob demanda de recursos do sistema de computador, especialmente armazenamento de dados e capacidade de computação, sem o gerenciamento ativo direto do usuário. (GABARITO)

    COMPUTAÇÃO QUÂNTICA: A computação quântica é a ciência que estuda as aplicações das teorias e propriedades da mecânica quântica na Ciência da Computação.

  • Parabéns "Paula" pelo comentário - sucinto e esclarecedor...

  • Gabarito D

    Segundo Carl Claunch (2008) Cloud Computing (Computação em Nuvem) é um estilo de computação, no qual os recursos de TI são fornecidos aos clientes através da Internet. Em outras palavras, a computação em nuvem é uma solução em que todos os recursos de informática (hardware, software, redes, armazenamento) são fornecidos aos usuários sem a necessidade de uma infraestrutura presente, somente virtual. Existem mecanismos de armazenamento de arquivos descentralizados; o arquivo fica armazenado em servidores conectados à internet e pode ser acessado pela web ou por aplicativos instalados no computador. A sincronização entre os locais é automática, bastando o computador estar conectado à internet para que isso aconteça.

  • Computação quântica kkkkkkk essa foi boa

  • De quântico eu só conheço o meu coach quântico que está, por meios de parcelas fixas de $1200,00, reestruturando meu DNA!

  • Galera, há algumas semanas, comecei utilizar os MAPAS MENTAIS PARA CARREIRAS POLICIAIS, e o resultado está sendo imediato, pois nosso cérebro tem mais facilidade em associar padrões, figuras e cores.

    Estou mais organizado e compreendendo grandes quantidades de informações;

    Retendo pelo menos 85% de tudo que estudo;

    E realmente aumentou minha capacidade de memorização e concentração;

    Dicas e métodos de aprovação para carreiras policiais, instagram: @veia.policial

    “FAÇA DIFERENTE”

    SEREMOS APROVADOS!


ID
3414121
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Noções de Informática
Assuntos

Smartphones e tablets têm à sua disposição uma grande quantidade de aplicativos para uso em educação. Esses aplicativos são chamados:

Alternativas
Comentários
  • ah não , o cara perguntou como fala aplicativos em inglês abreviadamente

  • Gabarito letra C para os não assinantes.

    “App” pode ser a sigla para várias coisas no mundo mas em se tratando do mundo mobile app é uma abreviação para “application”, do inglês, que significa aplicativo, programa, software.

    https://www.telefonescelulares.com.br/o-que-e-app/

  • IOS - é o sistema operacional da Apple para dispositivos móveis.

    Android - é um sistema operacional (SO) baseado no núcleo Linux.

    APPS - Aplicação móvel ou aplicativo móvel, conhecida normalmente por seu nome abreviado app, é um software desenvolvido para ser instalado em um dispositivo eletrônico móvel, como um PDA, telefone celular, smartphone ou um leitor de MP3

    Linux - Linux é um termo popularmente empregado para se referir a sistemas operativos ou sistemas operacionais que utilizam o Kernel Linux.

    Blogue - Um blogue é um sítio eletrónico cuja estrutura permite a atualização rápida a partir de acréscimos dos chamados artigos, postagens ou publicações.

  • no-break – também conhecido como UPS (Fonte de Energia Ininterrupta, na sigla em inglês) é um condicionador que regula a voltagem e a pureza da energia que chega até os eletrônicos conectados a ele.

    Impressora ou dispositivo de impressão é um periférico que, quando conectado a um computador ou a uma rede de computadores, tem a função de dispositivo de saída, imprimindo textos, gráficos ou qualquer outro resultado de uma aplicação.

    spyware - é um software espião de computador, que tem o objetivo de observar e roubar informações pessoais do usuário que utiliza o PC em que o programa está instalado, retransmitido-as para uma fonte externa na internet, sem o conhecimento ou consentimento do usuário..

    placa-mãe - é a parte do computador responsável por conectar e interligar todos os componentes, ou seja, processador com memória RAM, disco rígido, placa gráfica, entre outros

    modem -  um modem é um dispositivo de hardware que converte dados em um formato adequado para um meio de transmissão de forma que possam ser transmitidos de um computador para outro

  • GABARITO - C

  • Apps (de applications) é o nome dado para os aplicativos dos smartphones em geral. Resposta certa, alternativa c).

  • Gabarito C

    Programa = maior complexibilidade

    Aplicativo = menor complexibilidade (termo criado pela microsoft no Windows 8)

    Hoje praticamente são identicos devido a loja de aplicativos.

    Fonte: https://canaltech.com.br/software/afinal-qual-a-diferenca-entre-programa-app-app-universal-e-app-windows-59423/

  • Eu não estou lendo isso, pior que eu errei.

    Nem todo app é de educação, sacanagem

  • IOS, Android e Linux são sistemas operacionais e não aplicativos.

  • "Apps" é a abreviação de aplicativo, que é um programa de software presente em dispositivos móveis, como celulares e tablets, ou no computador e em smart TVs. Eles podem ser executados offline ou online, além de apresentarem versões pagas ou gratuitas, obtidas em lojas de aplicativos.


ID
3414124
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Noções de Informática
Assuntos

Das ferramentas abaixo, aquela que é uma enciclopédia baseada na web e escrita de maneira colaborativa denomina-se:

Alternativas
Comentários
  • Assertiva E

    enciclopédia baseada na web  Wikipédia.

  • Gabarito letra E para os não assinantes.

    A) Enciclopédia Barsa. (os mais novinhos nem conhecem, mas é da minha época... meu era uma coleção enorme de livros onde fazíamos as pesquisas da escola e era a maior ostentação ter a coleção Barsa completa. Tô veia! kkkk)

    B) Google maps.(serviço de pesquisa e visualização de mapas e imagens gratuito fornecido pela Google)

    C) Compédia. (esse examinador é uma comédia - essa alternativa é invenção dele)

    D) Googleplex. (nome do complexo de edifícios que formam a sede da empresa Google, situada na cidade de Mountain View, Califórnia, Estados Unidos. Esse nome é a junção da palavra Google e complex (complexo de edifícios))

    E) Wikipédia. GABARITO!

  • Nostalgia pura, que sonho era ter a enciclopédia Barsa rs!

  • GABARITO - E

  • gab: E

    A Wikipédia é um projeto de enciclopédia multilíngue de licença livre, baseado na web e escrito de maneira colaborativa.

  • Gabarito: E

    Wikipédia = Enciclopédia online, e escrita de maneira colaborativa.

  • Gabarito: E

    Wikipédia = Enciclopédia online, e escrita de maneira colaborativa.

  •  Wikipédia.

  • Wikipedra

  • A Wikipédia é um projeto de enciclopédia multilíngue de licença livre, baseado na web e escrito de maneira colaborativa. 15 de janeiro de 2001


ID
3414127
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia

O Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI propõe que a educação deve organizar-se em torno de quatro aprendizagens fundamentais que, ao longo de toda a vida, serão de algum modo para cada indivíduo, os pilares do conhecimento.

Considere as afirmativas sobre esses pilares do conhecimento.


I - O único pilar que deve ser objeto de atenção por parte do ensino estruturado é “aprender a conhecer”.

I - Cada um dos quatros pilares deve ser objeto de igual atenção por parte do ensino estruturado.

III - Os quatro pilares propostos são independentes uns dos outros, pois não há relação entre os mesmos.

IV - Existem entre os quatro pilares múltiplos pontos de contato, de relacionamento e de permuta.


Estão corretas, apenas, as seguintes afirmativas.

Alternativas

ID
3414130
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

Em um debate sobre as relações entre processos de aprendizagem e desenvolvimento, foi defendida, entre outras, a seguinte posição:


É necessário esperar a criança apresentar um nível

de desenvolvimento particular para começar a

educação escolar.


Considerando a noção de zona de desenvolvimento proximal apresentada por Vygotsky, sobre esse posicionamento é correto afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • Letra C - não seria o mais produtivo, pois a exposição a novas aprendizagens pode funcionar como fator construtivo do desenvolvimento.

  • por que a ( D) esta errada?

  • também não entendi

  • A credito por ter falado O MAIS PRODUTIVO

  • Letra C

    Segundo Vygostsky a criança nasce em um mundo humano, ou seja ela precisa do outro e da cultura para se desenvolver por meio da mediação, então a criança deve entrar na escola cedo para poder ter relações pessoais, diferente de Piaget que defende os estágios do desenvolvimento, ou seja a criança precisa ir amadurecendo para aprender desenvolve para aprender Vygotsky aprende para desenvolver.

  • Sério essa eu não entendi e nenhuma das respostas aqui fez sentido com a resposta do Item.

  • É necessário esperar a criança apresentar um nível

    de desenvolvimento particular para começar a

    educação escolar

    Segundo Vygotsky, quanto mais aprende mais desenvolve. Então não sera necessário esperar que a criança apresente algum nível para depois começar. Pois a qualquer momento em que for realizadas interações ali está ocorrendo desenvolvimento.


ID
3414133
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

Segundo José Carlos Libâneo, utilizando como critério a posição que adotam em relação aos condicionantes sociopolíticos da escola, as tendências pedagógicas foram classificadas em liberais e progressistas.

Considere as afirmativas sobre o papel da escola, a atuação do professor e os conteúdos de ensino na tendência pedagógica crítico-social dos conteúdos.


I- A atuação da escola consiste na preparação do aluno para o mundo adulto e suas contradições, fornecendo-lhe um instrumental, por meio de aquisição de conteúdos e da socialização, para uma participação organizada e ativa na democratização da sociedade.

II- Os conteúdos não devem ser apenas ensinados, ainda que bem ensinados; é preciso que se liguem, de forma indissociável, à sua significação humana e social.

III- A forma de conceber os conteúdos estabelece oposição entre cultura erudita e cultura popular ou espontânea, numa relação de descontinuidade.

IV- O papel de mediação em torno da análise dos conteúdos é exercido pelo professor sempre de forma não diretiva, evitando a intervenção pedagógica.


Estão corretos apenas os itens:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito A -> Alternativas I e II CORRETAS

    CORREÇÕES:

    III- A forma de conceber os conteúdos estabelece oposição entre cultura erudita e cultura popular ou espontânea, numa relação de descontinuidade -> no livro ele diz que a forma de conceber os conteúdos não estabelece uma oposição entre cultura erudita e cultura popular, veja só :

    "Essa maneira de conceber os conteúdos do saber não

    estabelece oposição entre cultura erudita e cultura popu-

    lar, ou espontânea, mas uma relação de continuidade em

    que, progressivamente, se passa da experiência imedia-

    ta e desorganizada ao conhecimento sistematizado. Não

    que a primeira apreensão da realidade seja errada, mas é

    necessária à ascensão a uma forma de elaboração supe-

    rior, conseguida pelo próprio aluno, com a intervenção

    do professor. "

    IV - O papel de mediação em torno da análise dos conteúdos é exercido pelo professor sempre de forma não diretiva, evitando a intervenção pedagógica -> Esse ficou fácil, até porque o professor que faz a mediação no ensino sempre está utilizando alguma forma de intervenção pedagógica, seja a crítica-social, a tradicional ou a pedagogia nova.


ID
3414136
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

As aprendizagens essenciais definidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) devem concorrer para assegurar aos estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, que consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento.

Com relação às dez competências gerais, é correto afirmar que são propostas para as seguintes etapas da Educação Básica:

Alternativas
Comentários
  • CONTINUAÇÃO:

    6.Trabalho e Projeto de Vida — Valorizar a diversidade de saberes e vivências culturais e apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe possibilitem entender as relações próprias do mundo do trabalho e fazer escolhas alinhadas ao exercício da cidadania e ao seu projeto de vida, com liberdade, autonomia, consciência crítica e responsabilidade.

    7.Argumentação — Argumentar com base em fatos, dados e informações confiáveis, p/ formular, negociar e defender ideias, pontos de vista e decisões comuns que respeitem e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o consumo responsável em âmbito local, regional e global, com posicionamento ético em relação ao cuidado de si mesmo, dos outros e do planeta.

    8.Autoconhecimento e Autocuidado — Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade para lidar com elas.

    9.Empatia e Cooperação — Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação, fazendo-se respeitar e promovendo o respeito ao outro e aos direitos humanos, com acolhimento e valorização da diversidade de indivíduos e de grupos sociais, seus saberes, identidades, culturas e potencialidades, sem preconceitos de qualquer natureza.

    10.Responsabilidade e Cidadania — Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação, tomando decisões com base em princípios éticos, democráticos, inclusivos, sustentáveis e solidários.

  • 1.Conhecimento — Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital p/ entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar p/ a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva.

    2.Pensamento Científico, Crítico e Criativo — Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade, p/ investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções com base nos conhecimentos das diferentes áreas.

    3.Repertório Cultural  Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural.

    4.Comunicação — Utilizar diferentes linguagens – verbal , corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, p/ se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo.

    5.Cultura Digital — Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais p/ se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.

  • Lembrem-se que o mais importante não é decorar as competências, mas sim entender sua essência.

  • A questão aqui não e saber as competências!

    Note-se que a banca quer saber em quais etapas e níveis essas competências são asseguradas. Precisa prestar atenção para não focar nas competências.

    Ao longo da Educação Básica, as aprendizagens essenciais definidas na Base Nacional Comum Curricular (BNCCdevem concorrer para assegurar aos estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, que consubstanciam, no âmbito pedagógico, aos direitos de aprendizagem e ao desenvolvimento.

    letra E


ID
3414139
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

Considere as seguintes afirmativas com relação às metodologias ativas.


I- A função do professor deve ser atuar como mediador entre o conhecimento e os alunos, estimulando essa interação e ajudando nas dificuldades.

II-O professor perde a sua função e pode ser substituído pela tecnologia ou perder sua razão de existir.

III- A aprendizagem baseada em projetos e a aprendizagem baseada em problemas são práticas de ensino aprendizagem comuns nas metodologias ativas.

IV- Nessas metodologias, o aprendizado está centrado na figura do professor.


Estão corretos apenas os itens:

Alternativas
Comentários
  • Letra B

    O professor jamais pode ser substituído por novas tecnologias. Ao contrário, é o professor que faz a mediação dessas. E na metodologia ativa, a aprendizagem deve estar centrada no estudante e no processo de ensino.

  • concordo com o comentário anterior o professor não pode ser substituído, por mais tecnologia que tenha precisa ter um mediador.


ID
3414142
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

A teoria das inteligências múltiplas, elaborada pelo cientista Howard Gardner, causou impacto nos meios pedagógicos.

Considere as seguintes afirmativas a respeito da teoria das inteligências múltiplas.


I- O tipo de inteligência que deve ser mais valorizado é a lógica-matemática.

II- Há outros tipos de inteligência, além da linguística e da lógico-matemática.

III- A inteligência não é única e não pode ser medida e padronizada.

IV- As pessoas nascem com determinada quantidade de inteligência que serve de limite para as diferentes realizações.


Estão corretas apenas as afirmativas:

Alternativas
Comentários
  • Essa questão aborda a teoria das inteligências múltiplas, elaborada por Howard Gardner. Deve-se indicar as afirmativas corretas a respeito de tal teoria. 

    A teoria das inteligências múltiplas foi desenvolvida pelo psicólogo Howard Gardner. De acordo com a teoria, a inteligência não é única, podendo ser abordada por vários aspectos, e os indivíduos possuem diferentes inteligências. Dessa forma, existem oito tipos de inteligência: I - Lógico-matemática, que engloba o raciocínio dedutivo e indutivo, bem como a capacidade de realizar operações numéricas e de fazer deduções; II – Linguística, que envolve a capacidade que o indivíduo tem de se expressar e para entender por meio de palavras ditas ou escritas, a habilidade de aprender idiomas e de usar a fala e a escrita para atingir objetivos; III – Espacial, com a disposição para reconhecer e manipular situações que envolvam apreensões visuais, observando e captando com precisão o mundo visual e espacial; IV - Corporal-cinestésica, que consiste no potencial para usar o corpo com o fim de resolver problemas, fabricar produtos e expressar sentimentos ou realizar ações (ex: atletas, atores, mímicos, cirurgiões); V - Interpessoal, que diz respeito à relação com o outro, com a capacidade de entender as emoções e intenções dos outros e consequentemente de se relacionar bem; VI – Intrapessoal, que envolve o autoconhecimento e percepção de si mesmo, a inclinação para se conhecer e usar o entendimento, agindo e se adaptando de acordo com esse conhecimento de si mesmo; VII - Musical, com a aptidão para perceber, tocar, apreciar, transformar, compor e expressa padrões musicais; VIII – Naturalista, que inclui a capacidade de reconhecer, discriminar e classificar diferentes espécies da natureza ou formações naturais. 
    Vamos analisar as afirmativas.

    I- O tipo de inteligência que deve ser mais valorizado é a lógica-matemática. 
    ERRADO - Para Howard Gardner, há oito tipos diferentes de inteligência e todas são importantes para uma sociedade sadia. Ele afirma que a inteligência acadêmica não pode ser o fator decisivo a definir o indivíduo e que as pessoas aprendem de forma diferente, o que significa que a sociedade precisa levar em consideração as demais inteligências e valorizá-las.

    II- Há outros tipos de inteligência, além da linguística e da lógico-matemática. 
    CORRETO - Segundo essa teoria, existem oito tipos de inteligência: I - Lógico-matemática; II – Linguística; III – Espacial; IV - Corporal-cinestésica; V - Interpessoal; VI – Intrapessoal; VII - Musical; VIII – Naturalista. 

    III- A inteligência não é única e não pode ser medida e padronizada. 
    CORRETO - A visão tradicional propõe a existência de uma inteligência única. Já a Teoria das Inteligências Múltiplas prega que todos nós temos diversos tipos de inteligência, com desempenhos independentes. Embora independentes, elas raramente funcionam isoladas, atuando combinadas, e qualquer tarefa adulta sofisticada envolverá uma fusão de várias delas. O autor defende ainda que as inteligências devem ser mobilizadas para ajudar os indivíduos a aprender, e não como uma forma de categorizá-los. 

    IV- As pessoas nascem com determinada quantidade de inteligência que serve de limite para as diferentes realizações. 
    ERRADO - Cada pessoa tem um ritmo, tem seus pontos fortes e fracos, tem seu jeito de aprender. De acordo com Gardner (1999), a inteligência é um potencial biopsicológico para processar informações que pode ser ativado num cenário cultural para solucionar problemas ou criar produtos que sejam valorizados por uma cultura. Para cultivá-la, é preciso de um ambiente estimulante ao longo do desenvolvimento. 

    Fontes: 
    GARDNER, H. Inteligências múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. 
    GARDNER, H. Inteligência: um conceito reformulado. Rio de Janeiro: Objetiva, 1999. 
    Portanto, estão corretas apenas as afirmativas II e III, sendo a letra D alternativa certa. 
    Gabarito do Professor: Letra D.
  • Letra D

    Pela leitura dá para acertar essa questão.

  • Inteligência múltiplas é a teoria que defende 8 tipos de inteligência: lógica-matemática, espacial-visual, interpessoal, intrapessoal, naturalista, linguística, corporal e música. Tem alguns que acrescentam mais 2 inteligências a pictográfica e social

ID
3414145
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

Uma professora realizou uma ação avaliativa no início de um processo de ensino e aprendizagem. Seu objetivo era obter informações sobre os conhecimentos, aptidões e competências dos estudantes, visando à delimitação das intervenções mais adequadas.

A principal função da avaliação que foi realizada denomina-se:

Alternativas
Comentários
  • LETRA D- DIAGNÓSTICA.

    A avaliação diagnóstica (analítica) é adequada para o inicio do período letivo, pois permite conhecer a realidade na qual o processo de ensino-aprendizagem vai acontecer. O professor tem como principal objetivo verificar o conhecimento prévio de cada aluno, tendo como finalidade de constatar os pré-requisitos necessários de conhecimento ou habilidades imprescindíveis de que os estudantes possuem para o preparo de uma nova etapa de aprendizagem.

  • Letra D

    Segundo Libâneo (2002, p. 218) " a avaliação diagnóstica permite identificar progressos e dificuldades dos alunos e atuação do professor . Ocorre no início durante e no final do desenvolvimento das aulas ou unidades didáticas"

  • A letra C que apareceu para mim como avaliação diagnóstica.

  • Início = diagnóstica

    Durante= formativa

    Final= somativa


ID
3414148
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

De acordo com a legislação vigente, as escolas devem desenvolver práticas inclusivas.

Considere as seguintes afirmativas com relação à perspectiva da educação inclusiva no espaço escolar.


I- A escola deve evitar o contato entre estudantes que não apresentam deficiências e os que apresentam.

II- A escola deve promover o contato entre estudantes que não apresentam deficiência e os que apresentam, atuando de forma a evitar situações que envolvam intimidação vexatória.

III- O professor deve acompanhar, sem o auxílio de outros profissionais, a aprendizagem dos estudantes com deficiência, e altas habilidades/superdotação e transtornos globais do desenvolvimento.

IV- A escola deve elaborar uma proposta pedagógica que atenda aos grupos e às necessidades individuais.


Estão corretas, apenas, as afirmativas:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: D

    II e IV.


ID
3414151
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais, o Projeto Político Pedagógico (PPP) é um dos meios de viabilizar a escola democrática e de qualidade para todos. Considere as seguintes afirmativas sobre o PPP.


I- deve contemplar a concepção sobre educação, conhecimento, avaliação e mobilidade escolar.

II- deve ser construído somente por professores.

III- deve contemplar as bases norteadoras da organização do trabalho pedagógico.

IV- não deve tratar do programa de formação continuada dos profissionais da educação


Estão corretas apenas as afirmativas:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: B

    I e III.

  • B 1 e 3

  • Alternativas I e III corretas. O projeto político-pedagógico deve constituir-se:

    I – do diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do processo educativo, contextualizado no espaço e no tempo;

    II – da concepção sobre educação, conhecimento, avaliação da aprendizagem e mobilidade escolar;

    III – da definição de qualidade das aprendizagens e, por consequência, da escola, no contexto das desigualdades que nela se refletem;

    IV – de acompanhamento sistemático dos resultados do processo de avaliação interna e externa (SAEB, Prova Brasil, dados estatísticos resultantes das avaliações em rede nacional e outras; pesquisas sobre os sujeitos da Educação Básica), incluindo resultados que compõem o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e/ou que complementem ou substituam os desenvolvidos pelas unidades da federação e outros;

    V – da implantação dos programas de acompanhamento do acesso, de permanência dos estudantes e de superação da retenção escolar;

    VI – da explicitação das bases que norteiam a organização do trabalho pedagógico tendo como foco os fundamentos da gestão democrática, compartilhada e participativa (órgãos colegiados, de representação estudantil e dos pais).

    DCN/2013


ID
3414154
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Pedagogia
Assuntos

A Nota técnica nº4/2014 do MEC orienta quanto a documentos comprobatórios de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidade/superdotação no Censo Escolar.

Segundo essa nota técnica, cabe ao professor que atua no Atendimento Escolar Especializado:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito: A

    elaborar o plano de Atendimento Educacional Especializado.

  • Art. 13. São atribuições do professor do Atendimento Educacional Especializado:

    I – identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessidades específicas dos alunos público-alvo da Educação Especial;

    II – elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especializado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade; 

    Resolução Nª 4, de 2 de outubro de 2009. Pá.3.


ID
3441628
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.” A ideia de que a língua é um atributo humano fica melhor representada na passagem:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA E

    ? ?Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo.? 

    ? Ou seja, a língua está atribuída a nós desde o nosso nascimento (é um atributo humano; é inerente ao ser humano).

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!


ID
3441631
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.” A análise NÃO está correta em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ?  Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de ?caosmologia? a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

    ? O pronome demonstrativo "essa" possui caráter anafórico (ana volta); refere-se a algo mencionado anteriormente e não possui caráter catafórico (catapulta; algo que ainda será mencionado).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • a) Correto. É irrefragável a natureza vocativa do termo: está isolado por vírgulas e pode ser suprimido da estrutura sem ocasionar nenhuma prejuízo gramatical;

    b) Incorreto. "Essa" é um pronome demonstrativo exercendo referência endofórica, especificamente a anáfora e não catáfora;

    c) Correto. "Aquilo" é o sujeito e a partícula "que" o retoma;

    d) Correto. Regresse a este trecho: "James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos (...)";

    e) Correto. Move-se algo, isto é, a escrita.

    Letra A

  • ANafórico => ANtes

    Catafórico => cata fora (ainda não apareceu, então tem que pegar fora, algo que vai vir)

  • Essa, esse, isso = ANÁFORA

    Esta, este, isto = CATÁFORA


ID
3441634
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!” A função sintática do termo destacado se repete em: 

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    ? ?Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!? ? pronome relativo retomando o substantivo "língua" e exercendo a função sintátiva de sujeito (o quê exista? Uma língua ? que ? sujeito);

    ? ?Existe algo que escapa à norma e aos códigos.? ? o verbo "existir" é pessoal e possui sujeito; o quê existe? Algo (=sujeito simples e a nossa resposta).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • O termo em destaque no enunciado é sujeito simples:

    Uma língua que não existia.

    a) Incorreto. É objeto indireto do verbo bitransitivo "pedir";

    b) Incorreto. É objeto direto;

    c) Incorreto. É adjunto adverbial;

    d) Correto. Organizando a estrutura: "algo que escapa à norma e aos códigos existe". Fique atento, porque as bancas, insistentemente, trarão o verbo "existir" à frente do sujeito. Desse modo, é fácil que o candidato tome o sujeito como objeto direto, que não existe;

    e) Incorreto. É adjunto adnominal.

    Letra C

  • Letra D

    O termo destacado exerce a função de SUJEITO

    A) É um Objeto indireto.

    B) Classificada como oração subordinada substantiva objetiva direta.

    C) Exerce a função de adjunto adverbial.

    E) Exerce a função de adjunto adnominal.

    Erros? Mandem msg.

  • Para aqueles que não entenderam, é bom lembrar que os pronomes relativos também possuem função sintática. Basta substituir os pronomes relativos pelo termo que eles estão retomando.

    "Uma língua que não exista"

    "Uma língua não existe"

    “Existe algo que escapa à norma e aos códigos.”

    Algo escapa à norma e aos códigos.”

    A função exercida pelo pronome relativo é a de sujeito.

  • Discordo dos nobres colegas em relação à alternativa E. Creio que seja Complemento Nominal e não adjunto adnominal. Tendo em vista que no trecho "tradutores de sonhos" o termo DE SONHOS está ligado ao substantivo TRADUTORES e sofre a ação, ou seja, os sonhos são traduzidos (termo paciente). Configurando, portanto, Complemento Nominal.

ID
3441637
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes.” Que língua não “falável” é essa?

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? Voltando ao texto: Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal (língua dos sonhos). Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!


ID
3441640
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“Muitas vezes não palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos.” Em relação ao verbo destacado é correto afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ? ?Muitas vezes não palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos.?

    ? Temos o verbo "haver" com sentido de "existir" (=é um verbo impessoal "não possui sujeito" e é transitivo direto; o termo "palavras nas línguas locais" é objeto direto, complemento verbal não preposicionado).

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • "Muitas vezes não há palavras (...)"

    Atente-se: "muitas vezes" não pode ser sujeito, conquanto a ordem da estrutura nos conduza a essa conclusão. Pense: o verbo haver, que se acha na forma verbal "há", não está concordando com sujeito algum, simplesmente porque inexiste sujeito nessa estrutura. O termo "muitas vezes" é apenar um modificador, uma locução adverbial.

    Letra B

  • “Muitas vezes não  palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos.” 

    Objeto direto é "Palavras"

    GABARITO: IMPESSOAL E VTD

  • ✔ Gabarito: B.

    ⁂ Complementando de forma direta:

    ⫸ “Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos.” 

    ⇒ "" está no sentido de existir, então é impessoal.

    ⇒ "palavras" é o objeto direto, porque o verbo é IMPESSOAL (não tem sujeito).

  • gab B

    o verbo haver, sentido de existir, sempre será presente em orações impessoais, não haverá flexão de pessoa, plural, ! Não haverá sujeito. Salvo se for uma locução verbal em que ele seja o verbo auxiliar.


ID
3441643
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“(...) não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas” Só é correto afirmar que:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ? ?(...) não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas?

    ? O pronome relativo retoma o substantivo "expressões" e exerce a função sintática de sujeito do verbo "traduzam" (o quê traduz? expresões, retomado pelo pronome "que", o qual exerce a função de sujeito).

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • “das culturas moçambicanas” é complemento nominal?

  • O primeiro detalhe para o qual deve atentar-se: a estrutura não se apresenta em ordem direta e, portanto, devemos, para fins de clareza, organizá-la. Em seguida, destacar as palavras mais importantes. Em negrito, o sujeito; sublinhados, os verbos que com ele concordam:

    "Expressões que traduzam valores e categorias moçambicanas não existem nas línguas europeias."

    É imprescindível que note: a partícula "que" retoma o termo imediatamente anterior, ou seja, o sujeito "expressões". Logo, também se comporta como sujeito dessa oração:

    "Expressões que traduzem valores e categorias moçambicanas não existem nas línguas europeias."

    a) Incorreto. É sujeito simples;

    b) Correto;

    c) Incorreto. É adjunto adverbial;

    d) Incorreto. É adjunto adnominal;

    e) Incorreto. É objeto direto.

    Letra B

  • "não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas" não é termo deslocado com 3 palavras? não exige vírgula?

    não existem expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas nas línguas europeias

  • "Das culturas moçambicanas" é adj adnominal ou complemento nominal?

  • “(...) não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas

    Pessoal, os pronomes relativo sempre retomam um termo anterior, ou seja, possuem função anafórica. Na oração acima, o pronome relativo está retomando o substantivo "expressões". Indiretamente, portanto, o sujeito é expressões. O "que" é chamado de sujeito referencial, pois remete ao verdadeiro sujeito. Fazendo a substituição, fica fácil comprovar isso:

    “(...) não existem nas línguas europeias expressões que traduzam (...)

    “(...) não existem nas línguas europeias expressões. Expressões traduzem (...)

  • “das culturas moçambicanas” é um ADN,LOGO ESTÁ ESPEFICANDO A CULTURA.

    #PERTENCEREMOS

  • Na B (gabarito), valem as palavras de Rocha Lima:

    "Além de servirem de ligação oracional, os relativos desempenham uma função sintática no corpo da oração a que pertencem.

    Examinemos este período de Rachel de Queiroz:

    “Era uma vez, já faz muito tempo, havia um homem / que era ateu.

    O sujeito da oração adjetiva “que era ateu” está representado nela pelo pronome relativo que, cujo antecedente é — um homem.

    Cumpre assinalar que a função sintática do relativo nada tem que ver com a função sintática do seu antecedente. Embora o relativo, como sabemos, reproduza a significação do antecedente, o que importa é o papel que ele, relativo, exerce na oração em que figura.

    No período citado, esta verdade se nos mostra de maneira claríssima: na oração principal, o termo um homem serve de objeto direto a “havia”; contudo, o pronome relativo (que, na oração adjetiva, está posto em lugar de um homem) funciona como sujeito de “era”" (Gramática Normativa da Língua Portuguesa. 49ª edição. 2011. Editora José Olympio. Rio de Janeiro. 655 páginas. ISBN 9788503010221. Páginas 333-4).

  • “das culturas moçambicanas” é objeto indireto. ERRADO!

    das culturas moçambicanas é adjunto adnominal, pois caracteriza o substantivo CULTURA. Para ficar mais fácil, lembre-se de que o ADJUNTO ADNOMINAL, em forma de locução adjetiva, indica ação, posse, qualidade, ORIGEM, matéria ou outra especificação.

    Como podemos perceber no trecho analisado, DAS CULTURAS MOÇAMBICANAS indica ORIGEM.

    Outro exemplo:

    Só bebo água DA FONTE lá no sítio.


ID
3441646
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros.” O universo literário e o cientifico NÃO ficam claramente interligados em :

Alternativas
Comentários
  • Sinceramente... Não entendi nada. Alguém pode me ajudar? Obg

  • O texto todo une conceitos da biologia/vida/ciência/mundo material a conceitos do mundo da literatura/cultura/arte/mundo subjetivo. Essas uniões são feitas de forma explicita (como nas letras A,C,D e E) ou implícita (como na letra B, a resposta).

  • ibade disgraçada

  • Uma questão com mais de 82% de erros, será que o problema está nos estudantes? Isso é uma falta de respeito com quem paga a inscrição para concorrer a uma vaga dita de "ampla concorrência". E depois, ainda aparece alguém que viu o gabarito e tenta o justificar.

  • Só marcou a "B" quem olhou os comentários antes. Não é possível.

  • Peçam o comentário do professor!!!

  • FIQUEI IGUAL O ZACARIAS DOS TRAPALHÕES , OLHANDO PRA TODAS AS DIREÇÕES SEM ENTENDER NADA... AIII DIDI!!

  • Acho que estamos juntos nessa, galera! Ninguém parece ter entendido nada!


ID
3441649
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

É possível entender do 8º. parágrafo que:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA E

    ? Voltando ao 8º parágrafo: Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Não sei o porquê de a banca não enumerar, no texto, as linhas e/ou os parágrafos. De toda forma, o oitavo é este:

    "Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer."

    O trecho destacado em negrito endossa o gabarito.

    Letra E


ID
3441652
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“O nosso fito, como produtores de sonhos,l...” A palavra destacada tem o seu sentido melhor substituído em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA E

    ? O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes.

    ? O substantivo em destaque tem como significado (objetivo, meta, intenção, alvo, intuito) ? a nossa intenção, como produtores de sonhos (LETRA E).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!


ID
3441655
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas.” Desse segmento pode-se inferir que:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança (=temos um teor de condição; para as culturas sobreviverem há condições: elas têm que se manterem produtivas; têm que ser sujeito de mudança ? ou seja, a conjunção subordinativa condicional traz esse valor semântico que queremos: As culturas sobrevivem se forem produtivas, e sujeito de mudança).

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas.” 

    O "se" indica uma condição.

    Aquele fato só acontecerá SE este se manter.

    É uma condição. ;)

    Bons estudos

  • Prezados, gabarito letra A.

    Ou seja, uma condição foi estabelecidade para se manter produtiva.

    Bons estudos.

  • GAB.A✔

    hipótese/condição sob a qual se realiza a outra oração.

    As culturas sobrevivem enquanto (desde que, contanto que)se mantiverem produtivas (...)

    -Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu (Ecl. 3:1-17)


ID
3441658
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio.” O “silêncio” a que o autor se refere é:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? ?Os africanos voltaram a ser os ?outros?, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio.?

    ? Refere-se a um lugar em que a palavra deve se destacar para ter visibilidade (para ser percebida e valorizada).

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!


ID
3441661
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato.” A concordância está correta em:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ? palavra e pensamento desvalorizados

    ? Temos dois substantivos (um no masculino e um no feminino); o adjetivo, ao concordar com ambos, deve ser flexionado no plural e no masculino (desvalorizados).

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • => "critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato."

    Quem desvaloriza?

    Critérios

    No texto o verbo concorda com o sujeito

    A questão pede a concordância nos casos abaixo:

    Obs.: veja que agora não se trata de verbo, mas de adjetivo.

    Regra:

    1. Se o adjetivo vier antes do substantivo deve concordar em gênero e número com o substantivo mais próximo.

    2. Se o adjetivo vier depois do substantivo deve concordar em gênero e número com o substantivo mais próximo ou com o plural.

    A) palavra e pensamento desvalorizadas.

    => desvalorizado ou desvalorizados

    B) palavra e pensamento desvalorizados.

    => Correto.

    C) palavra e pensamento desvalorizada.

    => desvalorizado ou desvalorizados.

    D) pensamento e palavra desvalorizado.

    => desvalorizada ou desvalorizados

    E) desvalorizado palavra e pensamento.

    => desvalorizada

  • Sempre que houver dois substantivos de gêneros diferentes e um adjetivo os caracterizando, a flexão deste último no masculino é sempre legítima. Por isso "palavras e pensamento desvalorizados." Se estudada minuciosamente a morfologia, em especial o trabalho de Mattoso Câmara Jr., atestar-se-á que o masculino não demarca gênero, pois se trata, a bem da verdade, de gênero neutro. O que marca a flexão de gênero na Língua Portuguesa é tão somente o feminino; entretanto, não nos aprofundemos nisso.

    Letra B

  • Letra B


ID
3441664
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

Em todas as frases abaixo, o autor do texto usa a primeira pessoa do plural; o item em que essa pessoa se refere a um nós distinto do das demais é:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito Letra A.

  • Gab. - A

    A) “Na nossa infância, todos NÓS experimentamos este primeiro idioma,...”.

    (se refere não só aos poetas e ficcionistas, mas também as pessoas em geral)

    B) “Eu creio que todos NÓS, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal.”.

    (o aposto deixa explícito que se refere aos poetas e ficcionistas)

    C) “Dito de outro modo, todos NÓS somos impossíveis tradutores de sonhos.”.

    (pertence ao mesmo parágrafo do item anterior, ou seja, refere-se aos poetas e ficcionistas)

    D) “Na verdade, os sonhos falam em NÓS o que nenhuma palavra sabe dizer.”.

    (pertence ao mesmo parágrafo do item anterior, ou seja, refere-se aos poetas e ficcionistas)

    E) “O NOSSO fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável,...”.

    (embora pertença a outro parágrafo, continua referindo-se aos poetas e ficcionistas)

  • Difícil, hein? Ai ai ai

  • O gabarito A refere-se a todos, já as outras alternativas refere-se a um grupo,

    Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. 

    ...

    Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

     O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes.

  • O "nós" da letra "A" se refere a todos no geral, e não só aos poetas, como descrito nas outras alternativas.

  • Na nossa infância traz um adjunto adiverbial temporal marcando um tempo determinado: infância.

  • Rapá, se cai uma questão destas em minha prova, me levanto e vou embora

  • Gabarito: A.

    Eu entendi que o comando da questão estava pedindo um "nós específico" em relação a um "nós em geral" (ou vice-versa), mas por preguiça de ler o texto na íntegra, acabei errando e marcando a letra "B".


ID
3441667
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

I- “(...) eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos.”

II- “(...) que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas.”

III- “Os africanos voltaram a ser os “outros”, ...” 


Os pronomes destacados têm a correspondência semântica melhor transcrita em: 

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    I- ?(...) eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos.? ? Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros (=AQUELES QUE NÃO VÊM DA ÁFRICA, OS NÃO AFRICANOS) e isentar de culpas aqueles que me são próximos.

    II- ?(...) que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas (=AQUELES QUE NEGATIVAM AQUILO QUE É DIFERENTE).?

    III- ?Os africanos voltaram a ser os ?outros?, ... (=AQUELES INVISÍVEIS PERANTE A SOCIEDADE)? 

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Semântica é o estudo do significado.

    Logo, portanto, a questão exigia do candidato a troca de palavras com o mesmo significado.

    GaB D

  • Pra que um texto desses?

  • Questão esquizofrênica, não entendi a lógica de uma questão desse tipo.

  • Gabarito D

    Entendi assim:

    I - ela vindo da África, uma pessoa Africana,

    usasse a tribuna para acusar os outros : não africanos.

  • I- “(...) eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos.”

    Trata-se de uma pessoa negra discursando.

  • Invisíveis lógicas é a pqp!


ID
3441670
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“— Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!


O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe?”


Em relação à pontuação, pode-se dizer que :

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA D

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: ? Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

    ? Desconhecida? ? pergunta ele. 

    ? Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

    O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

    ? O travessão marca a fala da mulher ao marido; os dois-pontos dão início a um pensamento interno do marido em relação a essa língua tão misteriosa solicitada pela mulher.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Podemos perceber que ele pensou quando observamos as partes em vermelho:

    — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

       O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

        Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza.

  • A resposta seria I e III, por isso foi anulada.

    Item II está errado. Não seria 20GB e sim 20MB.


ID
3441673
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso.” O período na ativa fica:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA B

    ? ?Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso.? ? temos uma voz passiva analítica; na voz ativa o sujeito passará a ser o objeto direto e o agente da passiva passará a ser o sujeito, mantendo-se a correlação temporal verbal:

    Um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso está negando essa diversidade.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Já resolvi mais de 100 questões da IBADE hoje, e NENHUM comentário dos professores do QC.

  • Se a frase na voz passiva possuir, além do auxiliar de voz passiva, outro verbo auxiliar, ele continuará a existir na voz ativa; atente-se: você só retirará o auxiliar de voz passiva

    Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso.” 

    Um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso está negando essa diversidade.

  • Não entendi pq não é a C

  • De forma bem simples:

    "A diversidade está sendo negada... por um sistema " - Passiva

    "Um sistema ... está negando essa diversidade. " - Ativa


ID
3441676
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio.” Os parênteses foram usados para:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito Letra D-

    “Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa)..

    Se eles não escrevem em inglês, qual língua eles escrevem?

    O parentese foi utilizado para a inclusão de uma ideia não explicita.

  • A inclusão remete à adição, acréscimo. O autor acresceu algo ao que foi anteriormente expresso. É notória até mesmo a conjunção aditiva alojada entre os parêntesis.

    Letra D

  • Correta, D

    Complementando:

    Dentre outros, o parênteses é usado:

    Na introdução de explicações, comentários, considerações e reflexões sobre algo que foi mencionado na frase;

    Na separação de orações intercaladas com verbos declarativos, principalmente quando curtas. Além dos parênteses, também é possível a utilização da vírgula ou de travessões na separação de orações intercaladas.

    Na introdução de dados biográficos, bibliográficos e indicações ciêntificas.

    Na indicação da possibilidade de leitura de uma certa palavra no gênero masculino ou feminino, bem como no singular ou no plural.

    https://www.normaculta.com.br/parenteses/

  • Aproveitando a deixa.. não esqueça que seria possível a substituição do parenteses por vírgulas ou travessões.

    Spadoto, 560.

    Sucesso, Bons estudos, Nãodesista!

  • Complementando:

    Mesmo não sendo o comando da questão, as aspas utilizadas poderiam ser substituídas por vírgulas, explicitando ainda mais o caráter aditivo de uma explicação intercalada na oração.

    Amigos desculpe a formatação!

    Entrando nesse mundo de comentarista de questões.....

  • Assertiva D

    a inclusão de uma ideia não explícita.


ID
3441679
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

A inversão das palavras destacadas implica também mudança de classe gramatical em:


I- o mais tranquilo sorriso/ o sorriso mais tranquilo

II- impossíveis tradutores de sonho/ tradutores de sonhos impossíveis

III- Os autores africanos/ Os africanos autores.


Está correta a alternativa:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA E

    ? Importante apontar que a questão quer mudança gramatical e não semântica (de sentidos):

    ? III- Os autores africanos (=substantivo + adjetivo) / Os africanos autores (=o termo que era substantivo passou a ser adjetivo). Tínhamos autores que eram africanos e passamos a ter africanos que eram autores.

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Gab. - E

    I- o mais tranquilo sorriso / o sorriso mais tranquilo

    (art. + adv. + adj. + subst.) / (art. + subst. + adv. + adj.) - SEM ALTERAÇÃO DE CLASSE

    II- impossíveis tradutores de sonho/ tradutores de sonhos impossíveis

    (adj. + subst. + prep. + subst.) / (subst. + prep. + subst. + adj.) - SEM ALTERAÇÃO DE CLASSE

    III- Os autores africanos/ Os africanos autores.

    (art. + subst. + adj.) / (art. + subst. + adj.) - COM ALTERAÇÃO DE CLASSE (quem era subst. passou a ser adj. e vice-versa)

  • I - o mais tranquilo sorriso

    O = artigo

    Mais = advérbio

    Tranquilo = adjetivo

    Sorriso = substantivo

    o sorriso mais tranquilo

    O = artigo

    Mais = advérbio (modifica o adjetivo "tranquilo")

    Tranquilo = adjetivo (caracteriza o substantivo "sorriso")

    Sorriso = substantivo

    Para saber se o substantivo é a palavra "tranquilo" ou a palavra "sorriso" devemos perguntar:

    O sorriso é tranquilo?

    Fez sentido? Sim, então sorriso é substantivo e tranquilo é adjetivo.

    Veja que não faz sentido falar:

    O tranquilo é sorriso.

    Portanto a I está incorreta.

    II - impossíveis tradutores de sonho

    Impossíveis = adjetivo (caracteriza tradutores)

    Obs.: Não é advérbio, por quê? Por que é variável.

    Tradutores = substantivo

    É tradutor de quê?

    De = Preposição (regida pelo substantivo "tradutores")

    sonho = substantivo

    tradutores de sonhos impossíveis

    Tradautores = substantivo

    De = preposição

    Sonhos = substantivo

    Impossíveis = adjetivo (veja que não mudou a classe, continua sendo adjetivo, porém ao invés de caracterizar "tradutores", está caracterizando "sonhos")

    Portanto a II está incorreta.

    III - Os autores africanos

    Os = artigo

    Autores = substantivo

    Africanos = adjetivo

    Os africanos autores.

    Os = artigo

    Africanos = substantivo

    Autores = adjetivo

    Autores era substantivo e passou a ser adjetivo.

    Africanos era adjetivo e passou a ser substantivo.

    Portanto a III está correta.

  • Correta, E

    Questãozinho em.....

    Os autores africanos -> Quem eram africanos? Os autores.

    Artigo - substantivo - adjetivo.

    Os africanos autores -> Quem eram autores? Os africanos.

    Artigo - substantivo - adjetivos.

  • GAB [E] AOS NÃO ASSINANTES !!!

    #ESTABILIDADESIM.

    #NÃOÀREFORMAADMINISTRATIVA!!!

  • Parabéns para quem como eu leu mudança de sentido.... e errouuu


ID
3441682
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos.” A oração reduzida destacada estabelece uma relação com a anterior de:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA A

    ? ?Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos.?

    ? Temos uma oração subordinada adverbial causal reduzida do gerúndio; desenvolvendo-a (já que vim da África); o fato de (causa) eu ter vindo da África fazesse com que...

    Baixe a Planilha de Gestão Completa nos Estudos Grátis: http://3f1c129.contato.site/plangestaoestudost3

    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Confira nova redação à estrutura e verá que há uma relação de causa:

    "Talvez se esperasse que, por ter vindo da África, eu usasse desta tribuna (...)"

    O motivo, a causa de a pessoa esperar que o enunciador usasse a tribuna se aloja no fato de este último ter vindo do continente africano.

    Letra A

  • os acontecimentos foram feitos por ter vindo da africa.

  • Questão boa de errar. XD

  • Prezados, gabarito letra A. Vejamos um adendo:

    O fato de ter vindo da África, fez com que ela tenha usado a tribuna para se lamentar.

    Ou seja, Causa e Consequência.

    Bosn estudos.

  • Pegadinha do malandro..


ID
3441685
Banca
IBADE
Órgão
Prefeitura de Vila Velha - ES
Ano
2020
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Línguas Que Não Sabemos Que Sabíamos* - Mia Couto


       Num conto que nunca cheguei a publicar acontece o seguinte: uma mulher, em fase terminal de doença, pede ao marido que lhe conte uma história para apaziguar as insuportáveis dores. 

    Mal ele inicia a narração, ela o faz parar: — Não, assim não. Eu quero que me fale numa língua desconhecida.

     — Desconhecida? — pergunta ele. 

     — Uma língua que não exista. Que eu preciso tanto de não compreender nada!

      O marido se interroga: como se pode saber falar uma língua que não existe? Começa por balbuciar umas palavras estranhas e sente-se ridículo como se a si mesmo desse provas da incapacidade de ser humano.

       Aos poucos, porém, vai ganhando mais à vontade nesse idioma sem regra. E ele já não sabe se fala, se canta, se reza. Quando se detém, repara que a mulher está adormecida, e mora em seu rosto o mais tranquilo sorriso. Mais tarde, ela lhe confessa: aqueles murmúrios lhe trouxeram lembranças de antes de ter memória. E lhe deram o conforto desse mesmo sono que nos liga ao que havia antes de estarmos vivos.

     Na nossa infância, todos nós experimentamos este primeiro idioma, o idioma do caos, todos nós usufruímos do momento divino em que a nossa vida podia ser todas as vidas e o mundo ainda esperava por um destino. James Joyce chamava de “caosmologia” a esta relação com o mundo informe e caótico. Essa relação, meus amigos, é aquilo que faz mover a escrita, qualquer que seja o continente, qualquer que seja a nação, a língua ou o gênero literário.

       Eu creio que todos nós, poetas e ficcionistas, não deixamos nunca de perseguir esse caos seminal. Todos nós aspiramos regressar a essa condição em que estivemos tão fora de um idioma que todas as línguas eram nossas. Dito de outro modo, todos nós somos impossíveis tradutores de sonhos. Na verdade, os sonhos falam em nós o que nenhuma palavra sabe dizer.

       O nosso fito, como produtores de sonhos, é aceder a essa outra língua que não é falável, essa língua cega em que todas as coisas podem ter todos os nomes. O que a mulher doente pedia é aquilo que todos nós queremos: anular o tempo e fazer adormecer a morte.

     Talvez se esperasse que, vindo de África, eu usasse desta tribuna para lamentar, acusar os outros e isentar de culpas aqueles que me são próximos. Mas eu prefiro falar de algo em que todos somos ao mesmo tempo vítimas e culpados. Prefiro falar do modo como o mesmo processo que empobreceu o meu continente está, afinal, castrando a nossa condição comum e universal de criadores de histórias. 

       Num congresso que celebra o valor da palavra, o tema da minha intervenção é o modo como critérios hoje dominantes desvalorizam palavra e pensamento em nome do lucro fácil imediato. Falo de razões comerciais que se fecham a outras culturas, outras línguas, outras lógicas. A palavra de hoje é cada vez mais aquela que se despiu da dimensão poética e que não carrega nenhuma utopia sobre um mundo diferente. O que fez a espécie humana sobreviver não foi apenas a inteligência, mas a nossa capacidade de produzir diversidade. Essa diversidade está sendo negada nos dias de hoje por um sistema que escolhe apenas por razões de lucro e facilidade de sucesso. 

       Os africanos voltaram a ser os “outros”, os que vendem pouco e os que compram ainda menos. Os autores africanos que não escrevem em inglês (e em especial os que escrevem em língua portuguesa) moram na periferia da periferia, lá onde a palavra tem de lutar para não ser silêncio. 


Caros amigos:


       As línguas servem para comunicar. Mas elas não apenas “servem”. Elas transcendem essa dimensão funcional. Às vezes, as línguas fazem-nos ser. Outras, como no caso do homem que adormecia em história a sua mulher, elas fazem-nos deixar de ser. Nascemos e morremos naquilo que falamos, estamos condenados à linguagem mesmo depois de perdermos o corpo. Mesmo os que nunca nasceram, mesmo esses existem em nós como desejo de palavra e como saudade de um silêncio. Vivemos dominados por uma percepção redutora e utilitária que converte os idiomas num assunto técnico da competência dos linguistas. Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente. Existe algo que escapa à norma e aos códigos. Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento. Estamos todos amarrados aos códigos coletivos com que comunicamos na vida quotidiana. Mas quem escreve quer dizer coisas que estão para além da vida quotidiana. Nunca o nosso mundo teve ao seu dispor tanta comunicação. E nunca foi tão dramática a nossa solidão. Nunca houve tanta estrada. E nunca nos visitamos tão pouco.

       Sou biólogo e viajo muito pela savana do meu país. Nessas regiões encontro gente que não sabe ler livros. Mas que sabe ler o seu mundo. Nesse universo de outros saberes, sou eu o analfabeto. sei ler sinais da terra, das árvores e dos bichos. Não sei ler nuvens, nem o prenúncio das chuvas. Não sei falar com os mortos, perdi contacto com os antepassados que nos concedem o sentido da eternidade. Nessas visitas que faço à savana, vou aprendendo sensibilidades que me ajudam a sair de mim e a afastar-me das minhas certezas. Nesse território, eu não tenho apenas sonhos. Eu sou sonhável.

        Moçambique é um extenso país, tão extenso quanto recente. Existem mais de 25 línguas distintas. Desde o ano da Independência, alcançada em 1975, o português é a língua oficial. Há trinta anos apenas, uma minoria absoluta falava essa língua ironicamente tomada de empréstimo do colonizador para negar o passado colonial. Há trinta anos, quase nenhum moçambicano tinha o português como língua materna. Agora, mais de 12% dos moçambicanos têm o português como seu primeiro idioma. E a grande maioria entende e fala português inculcando na norma portuguesa as marcas das culturas de raiz africana. Esta tendência de mudança coloca em confronto mundos que não são apenas linguisticamente distintos. Os idiomas existem enquanto parte de universos culturais mais vastos. Há quem lute para manter vivos idiomas que estão em risco de extinção. Essa luta é absolutamente meritória e recorda a nossa batalha como biólogos para salvar do desaparecimento espécies de animais e plantas. Mas as línguas salvam-se se a cultura em que se inserem se mantiver dinâmica. Do mesmo modo, as espécies biológicas apenas se salvam se os seus hábitat e os processos naturais forem preservados.

       As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas. As línguas e as culturas fazem como as criaturas: trocam genes e inventam simbioses como resposta aos desafios do tempo e do ambiente. Em Moçambique vivemos um período em que encontros e desencontros se estão estreando num caldeirão de efervescências e paradoxos. Nem sempre as palavras servem de ponte na tradução desses mundos diversos. Por exemplo, conceitos que nos parecem universais como Natureza, Cultura e Sociedade são de difícil correspondência. Muitas vezes não há palavras nas línguas locais para exprimir esses conceitos. Outras vezes é o inverso: não existem nas línguas europeias expressões que traduzam valores e categorias das culturas moçambicanas. (...) 

* Intervenção na Conferência Internacional de Literatura WALTIC, Estocolmo, junho de 2008. 

“Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento.” É possível inferir que o encantamento do autor se dá:

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: LETRA C

    ? ?Essa dimensão esquiva é aquela que a mim, enquanto escritor, mais me fascina. O que me move é a vocação divina da palavra, que não apenas nomeia mas que inventa e produz encantamento.?

    O autor se refere a uma língua que passa os aspectos técnicos, é aquela língua que está constantemente em mutação, aquela que marca povos e sociedades, aquela que não pode ser explicada através da razão, é a língua dos sonhos, aquele que não se traduz em palavras.

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    ? FORÇA, GUERREIROS(AS)!!

  • Que resposta louca, veja:

    Pela língua que nem sabemos que sabíamos e nem sempre é capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente.

    que nem sabemos que sabíamos

    Tem conhecimento sobre, porém esse ainda não foi percebido como existente.

    Veja: Como o sujeito é "língua" deveria ser é capturável.

    Pela lógica racionalista que domina o nosso consciente

    Somos dominados pela razão a qual nos torna cegos e dificulta a percepção daquilo que poderia ser entendido

  • Belo texto!

    Acredito que a banca errou quando montou as alternativas. No texto apresentado, precisamente no 14º parágrafo, a referida frase está disposta sem o "é":

    Contudo, as línguas que sabemos — e mesmo as que não sabemos que sabíamos — são múltiplas e nem sempre capturáveis pela lógica racionalista que domina o nosso consciente.

    Passível de anulação.

    Em tempo: O Qconcursos apresentou a questão exatamente como a banca:

    https://ibade.org.br/Cms_Data/Contents/SistemaConcursoIBADE/Media/PMVVMAG2019/provas_gabaritos/prov_obj/PREFEITURA-DE-VILA-VELHA-PB-PROFESSOR-L-NGUA-PORTUGUESA-P09-Tipo-2_20200218.pdf

  • QUE TEXTO É ESSE? LOUCO! COMEÇA DE UM JEITO E TERMINO NOUTRO. PARECE AQUELE VIZINHO QUE NÃO PARA DE FALAR QD VC CHEGA CANSADO DO TRABALHO. MUDA DE ASSUNTO, JOGA UM MONTE DE PALAVRA FORA DE CONTEXTO. AOS QUE DISCURSAM: SEJAM SUSCINTOS! TEMOS MAIS O QUE FAZER...