Para responder essa questão, o candidato deve, considerando as ideias de Paulo Freire, indicar a alternativa correta a respeito da atuação do professor de jovens e adultos, de acordo com uma compreensão crítica do ato de ler.
A)estimulando a criação ou montagem pelo alfabetizando da expressão escrita da expressão oral.
CORRETO – Para Paulo Freire, a alfabetização de adultos é um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo, um ato criador. Para ele seria impossível engajar-se num trabalho de memorização mecânica das sílabas, como também seria impossível reduzir a alfabetização ao ensino puro da palavra, das sílabas ou das letras. Pelo contrário, enquanto ato de conhecimento e ato criador, o processo da alfabetização tem, no alfabetizando, o seu sujeito. O fato do educando necessitar da ajuda do educador, como ocorre em qualquer relação pedagógica, não significa que a ajuda do educador deva anular a criatividade e a responsabilidade do educando na construção de sua linguagem escrita e na leitura desta linguagem. Tanto o alfabetizador quanto o alfabetizando, ao pegarem um objeto, sentem o objeto, percebem o objeto sentido e são capazes de expressar verbalmente o objeto sentido e percebido. Como qualquer um, o analfabeto é capaz de sentir a caneta, de perceber a caneta e de dizer caneta. Porém, uma pessoa alfabetizada é capaz de não apenas sentir a caneta, de perceber a caneta, de dizer caneta, mas também de escrever caneta e, consequentemente, de ler caneta. A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Esta montagem não pode ser feita pelo educador para ou sobre o alfabetizando. Aí tem ele um momento de sua tarefa criadora.
B)insistindo para que leiam, num semestre, muitos capítulos e livros vindo do universo vocabular dos grupos populares.
ERRADO - Para o autor, a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. Este movimento dinâmico é um dos aspectos centrais do processo de alfabetização. Freire defende que as palavras com que organizar o programa da alfabetização deveriam vir do universo vocabular dos grupos populares, expressando a sua real linguagem, os seus anseios, as suas inquietações, as suas reivindicações, os seus sonhos. Deveriam vir carregadas da significação de sua experiência existencial e não da experiência do educador. Elas vêm da leitura do mundo que os grupos populares fazem. Depois, voltam a eles, inseridas em codificações, que são representações da realidade. Para Paulo Freire, a insistência dos professores em que os estudantes “leiam", num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. Ele traz um relato sobre as diversas vezes em que jovens estudantes lhe falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas ou estudadas. Verdadeiras “lições de leitura" no sentido mais tradicional desta expressão, a que se achavam submetidos em nome de sua formação científica e de que deviam prestar contas através do famoso controle de leitura. A insistência na quantidade de leituras sem o devido aprofundamento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que, para ele, urge ser superada.
C)organizando relações bibliográficas, indicando em torno de quais páginas ou capítulos devem ser lidos.
ERRADO - Para Paulo Freire, a insistência dos professores em que os estudantes “leiam", num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. Ele traz um relato sobre as diversas vezes em que jovens estudantes lhe falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas ou estudadas. Verdadeiras “lições de leitura" no sentido mais tradicional desta expressão, a que se achavam submetidos em nome de sua formação científica e de que deviam prestar contas através do famoso controle de leitura. A insistência na quantidade de leituras sem o devido aprofundamento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que, para ele, urge ser superada. Pois, a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra.
D)indicando aos alunos a quantidade mínima e máxima de páginas a serem redigidas num trabalho acadêmico.
ERRADO - Para Paulo Freire, a insistência dos professores em que os estudantes “leiam", num semestre, um sem-número de capítulos de livros, reside na compreensão errônea que às vezes temos do ato de ler. Ele traz um relato sobre as diversas vezes em que jovens estudantes lhe falaram de sua luta às voltas com extensas bibliografias a serem muito mais “devoradas" do que realmente lidas ou estudadas. Verdadeiras “lições de leitura" no sentido mais tradicional desta expressão, a que se achavam submetidos em nome de sua formação científica e de que deviam prestar contas através do famoso controle de leitura. A insistência na quantidade de leituras sem o devido aprofundamento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que, para ele, urge ser superada. Essa mesma visão, de outro ângulo, se encontra, por exemplo, em quem escreve, quando identifica a possível qualidade de seu trabalho, ou não, com a quantidade de páginas escritas. No entanto, um dos documentos filosóficos mais importantes de que dispomos, As teses sobre Feuerbach, de Marx, tem apenas duas páginas e meia... Contudo, ele ressalta que é importante também lembrar que não podemos tirar a importância da necessidade que temos educadores e educandos, de ler, sempre e seriamente, os clássicos neste ou naquele campo em especial. É o aprofundamento da leitura e não a quantidade de páginas lidas o aspecto essencial. A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral.
E) demonstrando que a leitura da palavra precede sempre a leitura do mundo.
ERRADO – Para o autor, a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele. Este movimento do mundo à palavra e da palavra ao mundo está sempre presente. Movimento em que a palavra dita flui do mundo mesmo através da leitura que dele fazemos. De alguma maneira, porém, podemos ir mais longe e dizer que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de “escrevê-lo" ou de “reescrevê-lo", quer dizer, de transformá-lo através de nossa prática consciente.
Fonte: FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler - em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez Editora & Autores Associados, 1991.
Portanto, a letra A é a alternativa correta.
Gabarito do Professor: Letra A.