- ID
- 627619
- Banca
- FCC
- Órgão
- TCE-SE
- Ano
- 2011
- Provas
-
- FCC - 2011 - TCE-SE - Analista de Controle Externo - Coordenadoria de Engenharia
- FCC - 2011 - TCE-SE - Analista de Controle Externo - Coordenadoria de Informática
- FCC - 2011 - TCE-SE - Analista de Controle Externo - Coordenadoria Jurídica
- FCC - 2011 - TCE-SE - Analista de Controle Externo - Coordenadorias Técnicas
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Atenção: A questão refere-se ao texto seguinte.
Os privilegiados da Terra
O fragmento de satélite artificial – só podia ser de satélite
– caído sobre o povoado transformou de repente a vida dos
moradores, que não chegavam a trezentos.
Repórteres e cinegrafistas cobriram o fato com o maior
relevo. Não houve ninguém que deixasse de dar entrevista.
O fiscal do Governo apareceu para recolher o pedaço de
coisa inédita, mas foi obstado pelo juiz de paz, que declarou
aquilo um bem da comunidade. A população rendeu guarda ao
objeto e jurou defender sua posse até o último sopro de vida.
A força policial enviada para manter a ordem aderiu aos
moradores, pois seu comandante era filho do lugar. Acorreram
turistas, pessoas dormiam na rua por falta de acomodação,
surgiram batedores de carteira, que foram castigados, e começou a correr o boato de que aquele corpo metálico tinha propriedades
mágicas.
Quem chegava perto dele seria fulminado se fosse mau caráter;
conquistava a eterna juventude se fosse limpo de coração;
e certa ardência que se evolava da superfície convidava
ao amor.
Não se desprendeu do satélite, diziam uns; veio diretamente
do céu, emanado de uma estrela, alvitravam outros. De
qualquer modo, era dádiva especial para o lugarejo, pois ao
tombar não ferira ninguém, não partira uma telha, nem se
assustaram os animais domésticos com sua vinda insólita.
Tudo acabou com o misterioso desaparecimento da
coisa. Seus guardas foram tomados de letargia, e ao recobrarem
a consciência viram-se despojados do grande bem. Mas
tinham assimilado esse bem, e passaram a viver de uma alegria
inefável, que ninguém poderia roubar-lhes. Eram os privilegiados
da Terra.
(Carlos Drummond de Andrade, Contos plausíveis)
O preceito moral que se deve concluir da leitura do texto encontra adequada formulação nesta frase: As coisas que efetivamente nos trazem benefícios